sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Quinta do Montado - Canidelo - Gaia


 

Esta ruína é mais um dos drásticos exemplos que grassam e desgraçam por este País à beira mar abandonado... 
 
A Quinta do Montado é um raro exemplar de arquitectura palaciana, a sua traça situa-se entre o chalet e o palacete e é atribuída a um arquitecto António Silva, que não consegui apurar se foi António Rodrigues da Silva Júnior ou António José Dias da Silva. 
Ambos foram arquitectos de renome cujas carreiras fizeram furor nos finais do séc. XIX e princípios do séc.XX, mas a pesquisa histórica tem destas coisas e os elementos disponíveis nem sempre são consistentes.
Foi construída em 1905 por Manuel Marques Gomes, um “self made man” que no final do Séc.XIX fez uma imensa fortuna com negócios de vinho pelas terras de Vera Cruz. 
Marques Gomes foi além de um homem de negócios, um grande benemérito e filantropo, a ele se devem várias estruturas sociais e públicas da sua terra que nunca esqueceu.
 
Foi com a sua generosidade que se construiu o apeadeiro de Coimbrões, foi instalada a rede eléctrica, fez obras na igreja paroquial, ampliou o cemitério, fez um campo de futebol, montou fábricas de cerâmica e armazéns de vinhos, redes de estradas, socorreu os carenciados, contribuiu para várias obras de caridade, além de muitas outras marcas indeléveis que deixou à sua passagem.

Também este senhor deixou a sua marca no plano da cultura, tendo feito parte do Grémio Literário e do Clube Euterpe (precursor do Atneu Comercial do Porto), tal como foi benemérito de outras instituições filantrópicas... 
 
Enfim, Manuel Marques Gomes foi uma espécie de ministro da cultura, da saúde, do desporto, do planeamento, dos transportes, das finanças e autarca...tudo às suas próprias custas!!!
Uma vez mais as informações não só sobre este cidadão como também do seu palácio são bastante vagas, pelo menos neste cibernético espaço, até mesmo depois de consultar dois arquivos municipais...restam muitas perguntas às quais ainda não tenho resposta...mas não me dou por vencido e atempadamente homenagearei este HOMEM tal e qual como ele merece...
Para já aqui fica mais uma ruinosa reportagem deste projecto que não há maneira de se materializar de outra forma que não seja virtual além de mais uma ruinosa dissertação.
Fui alertado para esta ruína por um novo e ruinoso amigalhaço que conheci na “Invicta Cidade”. Ao fugir de uma tempestade de Verão abriguei-me na Liga dos Combatentes, onde tive o privilégio de conhecer o Jorge Paz Monteiro que se revelou um verdadeiro aliado nesta ruinosa demanda, foi ele que me aconselhou várias e curiosas ruínas desta área metropolitana que dificilmente teria notado e atempadamente postarei neste nosso espaço.
Mas voltando a esta ruinosa epopeia, a Quinta do Montado fica situada em Canidelo, uma freguesia de Gaia e tem um parque que constitui a área mais arborizada da zona do Porto. É uma propriedade murada com uma magnífica vista sobre o rio Douro. Um paradisíaco local que deveria ser aproveitado em todas as suas potencialidades.
A propósito de Canidelo...o Edgar uma vez mais contribuiu para o sucesso desta sessão de fotografias e a ele devo também alguns destes bons momentos...foi uma manhã bem pródiga e profícua em que não me cansei de captar boas imagens...
O palacete que aqui se ergue é singelamente traçado com uma forte inspiração romântica, em que poderíamos com facilidade ser transportados para um conto de fadas. Segundo as descrições o seu interior era ricamente decorado com o maior requinte. Entre frescos, soalhos, estuques, azulejos e cantaria, esta casa era por si uma obra de arte.
Dizem que tinha trinta e sete cómodos dos quais pouco ou nada resta, que é um repetido mito que grassa na internet, dos seus interiores apenas sobram alguns vestígios do que um dia foi uma das mais ricas casas desta localidade. A sua fachada e alçados são plenos em pormenores e elementos decorativos que a ornamentam sem se tornarem exagerados.
Ao abordarmos esta monumental residência deparamos com uma escadaria que dava acesso ao andar nobre, da qual restam alguns escombros, há pequenos painéis de azulejos arte nova que foram gratuitamente vandalizados por grunhos e valdevinos.
Dos dois torreões ornados com pára raios e de onde se avistaria todo o parque envolvente, restam os esqueletos do que foi um telhado.
Há também na propriedade outras estruturas que não consegui fotografar, pois o matagal que teria que desbravar para lá chegar opunha-se a um incauto fotógrafo que trajava calções e sandálias, tendo-me cingido a duas casas de apoio à jardinagem e certamente foram construídas depois do palacete.
Quem me dera não poder referir uma vez mais que a ingratidão, o desperdício de meios e oportunidades são apanágio deste empobrecido País, em que não se dá valor ao património e legado que generosamente nos foi deixado.
Quem me dera não poder referir uma vez mais que a selvajaria, ganância e libertinagem se impõem a valores que todos fingem defender...
Esta ruína é testemunha da conspurcação continuada da memória de Manuel Marques Gomes e que em nada faz justiça à sua fortuna...
Embora haja vários projectos para o local não há sinais de boa vontade para dar continuidade à sua grandiosa obra, nem tampouco à localidade a que tanto se devotou...
 
É fácil de imaginar um parque publico nesta propriedade, que as famílias pudessem frequentar nos monótonos fins de semana.
Poderia aqui haver várias actividades ao ar livre desenvolvendo laços sociais e culturais, em vez de frequentarem os shoppings nas tardes de Domingo...
Mesmo em nome da rentabilidade se torna completamente imbecil esta falta de investimento, quanto não poderia render um espaço como este sem ter de recorrer a planos imobiliários??
Poderia aqui haver um parque ecológico, uma quinta pedagógica, centro de artes, campo de desportos, escolas e universidades, uma casa de meninas...tudo é preferível a esta calamitosa situação... 
Em vez disso podemos contar com uma floresta baldia e uma perigosa estrutura que ameaça derrocar a qualquer instante, apelo aqui ao sr. Luís Felipe Menezes que aja de uma vez e devolva a este local a dignidade que merece!!!
Sei também que há orçamentos reduzidos que impedem as autarquias de fazer milagres, mas no entanto sei também que quando não há vontade nem prioridades estes “pormenores” tornam-se supérfluos...mas não deveriam ser prioritários antes que seja tarde??
Como sabem sou apartidário, apenas defendo o património que é de todos nós e custa-me ficar impávido perante situações destas, como tal não me canso deste trabalho que é uma forma de chamar a atenção de um público cada vez mais vasto e lhe peço para passar palavra.
Só desta forma se poderá um dia chegar pacíficamente ao nosso objectivo: a recuperação de uma identidade e de um património sem valor que se poderá para sempre perder.
A linha gráfica desta colecção tenta enfatizar a desgraça de cada edifício que na maior parte das vezes é mais eloquente do que qualquer imagem manipulada.
São gritos mudos de socorro que cada vez falam mais alto em nome de todos nós, são momentos de solidão e de esquecimento a que devotámos as nossas memórias.
Somos todos responsáveis e colaboradores passivos até que nos manifestemos publicamente perante as autoridades (in)competentes sobre o estado desta empobrecida nação!!!
Hoje é o dia do património e além de manobras de demagogia barata, nada mais irá acontecer...falta a iniciativa tardia que todos os governos desde o Marquês de Pombal não tiveram a coragem de tomar...
Sei que parte do sucesso deste projecto depende das simpatias conquistadas junto de eventuais patrocinadores, que nunca chegaram e já nem conto que cheguem... 
Posso apenas contar com a vossa simpatia e a disponibilidade do meu cão...espero serem suficientes para dar alento a este nosso espaço que tentarei manter com mais ou menos assiduidade.
Este trabalho será um legado para todos nós, que se preocupam e se envergonham diariamente quando nos deparamos com frotas de automóveis de luxo, patrocinadas por um estado depauperado que alega estar em crise...
Será uma lição para as futuras gerações que certamente se aproximarão de uma Europa civilizada na qualidade de um velho e orgulhoso povo lusitano...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Os “Pavilhões do Parque” - Caldas da Rainha


Desde sempre que conheço estes monumentais edifícios. Quando era miúdo e passeava neste parque que é considerado por muitos como o mais belo do País e tem por nome “Parque D. Carlos I”, admirava-os pela imponência da sua austera traça que me lembrava um colégio victoriano.
Mais tarde o meu irmão mais velho frequentou aqui o liceu e eu tive ali aulas de karaté, havia também uma biblioteca da Gulbenkian que ficava numa das alas virada para o parque...foi à cerca de trinta anos...bons e velhos tempos que guardo como saudade...é verdade, fui “caldense” por mais de um ano e por tal tenho um especial carinho por esta terra. 
Estes pavilhões foram erigidos por Rodrigo Berquó, mais uma figura esquecida da nossa história que deixou uma marca indelével pela sua passagem nesta vida terrena.
D. Rodrigo Maria da Gama Berquó foi arquitecto, director do Hospital das Caldas da Rainha e presidente da câmara desta cidade, tendo sido da sua autoria e iniciativa todos os maiores projectos e traços que a caracterizaram.
Além de visionário e filantropo, a sua generosidade e altruísmo espelhou-se no monumental “parque de obras”  em que esta terra se tornou no seu mandato municipal. Desde a saúde pública, abastecimento de águas, cultura, espaços de lazer, habitação, planeamento urbano...tudo mudou à sua passagem, as Caldas da Rainha tem para com este homem uma dívida eterna!!!
Mas voltando aos pavilhões que nunca chegaram a ser acabados e desde sempre foram utilizados de uma forma diferente para que foram idealizados. Foram projectados em 1890 para serem um hospital termal, separando dessa forma o balneário e o hospital ampliando toda a estrutura desta instituição. Equipando-a com os mais modernos meios, permitiria uma qualidade de serviços que rivalizaria com os seu congéneres europeus.
A sua construção teve início em 1894 sendo previsto estarem concluídos dez anos depois, mas com a morte de Berquó em 1896 as obras foram paradas e o projecto abandonado.
Desde então foi utilizado para diversos fins, foi arrendado ao exército, onde se instalou em 1918 o Regimento nº5, mais tarde chegou a ser sala de cinema, sede de várias instituições culturais e empresariais, local de exposições, liceu e biblioteca... encontra-se hoje em “stand by” à espera da aprovação de projectos que o possam dinamizar, prevendo-se que nele seja instalado o Museu da Cerâmica.

Para saber mais :  http://www.jornaldascaldas.com/index.php/2008/10/08/a-obra-de-berquo/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rodrigo_Maria_Berqu%C3%B3

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