sábado, 26 de fevereiro de 2011

Central de Captação de Água de Foz do Sousa


Confesso que de todo o tipo de edifícios que já fotografei, tenho sido seduzido com uma especial paixão pela a arquitectura industrial. Não só pelas fotogénicas oportunidades que estas estruturas costumam proporcionar, como também pela história que contam.
Já uma vez aqui disse que a arquitectura industrial é o parente pobre dessa arte... é pelo menos muitas vezes tida como tal, por não ter a graciosidade de um palácio ou o romantismo de um castelo ou convento... no entanto não só proporcionaram riqueza e postos de trabalho, como encerram histórias pessoais e colectivas que ditaram a sorte de muitas populações...
São muitas vezes edifícios que pela sua envergadura, poderiam ser aproveitados como espaços empresariais, lúdicos, de ensino, desportivos ou qualquer  outra utilidade que lhes quisessem dar... até mesmo a sua reabilitação como espaço industrial, uma vez que foram concebidos para esse fim...
Mas tenho encontrado neste ruinoso percurso, alguma unidades industriais que certamente deveriam ser conservadas como espaços museológicos, não só pelo espólio que albergam, como pelo papel que tiveram numa sociedade.
A Central de Captação de Água de Foz do Sousa, podemos afirmar com justiça que é um caso flagrante de injustiça museológica, e até mesmo um crime de lesa cultura dado a importância que teve e tem, para toda a área urbana do grande Porto.
Poderia também agora dissertar pelo estado da indústria portuguesa e da falta que fazem ao País as unidades fabris, pelo PIB e pela balança comercial.... poderia também fazer referência ao  papel da indústria no combate ao desemprego, na excelência dos produtos que transportam o nome de Portugal pelo mundo...
Mas vou evitar falar em delicados assuntos, que acabam por fugir à índole deste projecto e centrar-me nesta ruinosa aventura...
Se pensarmos que aqui se captou toda a água que durante mais de um século foi responsável por todo o abastecimento desta grandiosa zona, podemos facilmente concluir que todas as populações e industrias dependeram acima de tudo e de todos, do bom funcionamento desta central de captação... pois sem água não há vida...
Todo o  Porto e arredores deveriam conhecer e preservar este local... não só pela sua agradável localização que constitui um agradável passeio,  como também como pólo de peregrinação cultural...
Uma vez que o núcleo museológico da EPAL em Lisboa foi já distinguido com um galardão europeu, pelo digno trabalho que fizeram com o Museu da Água, não poderiam as Águas do Porto copiar o exemplo e dar continuidade a esse projecto a norte de Portugal??? É apenas uma inevitável questão que me obrigo a fazer... será que a administração de Lisboa deveria ser  nomeada para este efeito??? Já deram as devidas provas de competência, gostaria de os ver actuar a norte...
Durante a pesquisa que fiz para este post, constatei que a falta de verbas é a "culpada" por esta situação... não há verbas para material velho!!! Embora esta empresa (Águas de Portugal) detenha 388 automóveis topo de gama para os seus directores e altos funcionários...
Segundo também consegui apurar,  está a ser ponderada a reactivação desta central para prevenir uma eventual calamidade natural e falhar a estação de Lever , até lá a única intervenção que esta companhia pretende fazer é vedar o acesso para evitar a sua continuada vandalização... não sei se devo aplaudir....
Projectos também não faltaram para aqui, foram várias as ideias que nunca foram aprovadas ou aproveitadas, segundo li no JN, foi chumbada pela CM do Porto uma proposta que daria um novo alento a este local... a proposta veio da oposição... não quero fazer julgamentos políticos!!! Não me meto nesse jogos, mas porque é que quando a ideia vem do lado oposto é sempre para ser chumbada???
É caso para dizer .... PORRRAA!!!! É necessário que haja alguém que aja de vez!!!! Antes que seja tarde uma vez mais... boa parte do interior já foi delapidado com requintes de ganância, foi-nos roubado debaixo das barbas da GNR um sem fim de material original, que jamais será reposto na sua íntegra... é tão criminosa a atitude das forças policiais como a dos ladrões, tão criminosa é a empresa que tutela este património...
Houve denúncias populares que nunca tiveram resposta, esta unidade foi desventrada do seu original e valioso espólio que terá sido vendido como ferro velho... há testemunhas que viram camionetas a entrar e sair carregadas de maquinaria pesada, durante o dia e durante a noite... acho que alguém deveria responder por estes crimes... resta saber se a administração, a polícia, ou os ladrões... mas alguém deveria ser pendurado e julgado em hasta pública!!!!
Mas uma vez mais quero evitar comentários pessoais que possa ferir algumas susceptibilidades, vou portanto seguir para a história deste invulgar monumento...
Esta ruinosa aventura começou quando me interessei pelas estruturas industriais que foram responsáveis pela sustentabilidade do País... se pensarmos que estamos essencialmente dependentes de alimentação, água potável e energia, muito antes de qualquer outra actividade, temos de admitir que a base de qualquer sociedade se centra nestas mesmas "fontes de vida"....
Nesse ponto de vista, devemos considerar que a nossa história passa pelo sucesso das fábricas de moagem, quintas, matadouros e estaleiros navais, que garantiam a nossa subsistência... só que para sustentar essa teia seria necessário o abastecimento de água e energia... ou seja .... aqui reitero que esta foi durante mais de um século a mais importante unidade industrial do PORTO!!!    
Por todos esses motivos decidi visitá-la... O dia estava chuvoso e embora a tenha visto pelo Google Earth, não foi fácil lá chegar... assim a vislubrei e parei o carro, dirigi-me a uns funcionários da SMAS que estavam a campinar no terreno, quando me dirigi a eles, imediatamente me disseram que era impossível e ninguém me daria autorização para entrar, e muito menos eles ou o chefe que vinha a caminho... toda a propriedade estava vedada e a entrada era impossível... até aí eles falharam...
Mal virei a esquina e deixaram de me ver, contornei a cerca que nada protege e entrei "legalmente" sem nada me opor... O Edgar foi novamente a estrela da sessão... até parece que está ensinado e quase sempre que enquadrava, ele punha-se em pose...
Assim entrei neste magnífico cenário que tantas oportunidades fotográficas me proporcionou, fiquei vislumbrado com o ambiente nostálgico e quase mágico daquele santuário industrial. Todo o espaço está ainda impregnado com uma envolvente atmosfera que nos faz regredir à  revolução industrial, tal como nos lembra a "família" operária que ali morava...
Ao virar das traseiras e depois de cumprir um  pequeno lance de escadas entrámos na área reservada ao pessoal. São as salas onde onde os funcionários conviviam, a cozinha e refeitório, vestiários e casas de banho... há ainda vestígios dessa vivência diária que durante tantos anos animou estas alas.
Logo a seguir entramos num descomunal espaço que adivinho ter sido uma oficina de manutenção, levando em conta uma resistente bancada que certamente foi o apoio de inúmeras operações, e o que resta de um possível forno, a avaliar pelos tijolos refractários.
Todo o resto do edifício é uma enorme sala de máquinas repleta de tesouros da era industrial, cujas funções seriam o coração que bombeava enormes quantidades do precioso líquido que corria nas veias daquelas povoações, tal como outros equipamentos seriam os rins que filtravam e apuravam esse divino néctar que é a água.
Numa plataforma superior, podemos observar todo este magnífico conjunto num ponto de vista privilegiado, e com surpresa do nosso olhar podemos ainda admirar ao fundo, um quadro técnico onde eram anotadas com rigor todas as  operações, gastos e fluxos que todos os dias aconteciam.
Entre enormes engrenagens, caldeiras e tubagens, damos conta que muito equipamento falta e que estamos perante um grande puzzle incompleto... boa parte deste espólio foi vulgarmente roubado, certamente fundido e vendido como ferro velho... até o Edgar mostrou a sua indignação...
Este monumento é um núcleo arquitectónico composto por duas estruturas. A estrutura principal era dedicada à captação e filtragem da água, a segunda estrutura seria uma central energética que alimentava a primeira, além de albergar os escritórios e toda a parte administrativa.
Os dois edifícios são unidos por uma passagem superior que tem resistido a todas as intempéries e mantendo-se com a firmeza com que foi desenhada, como que um cordão umbilical que  nunca se desprendeu.
Ao entrar no segundo edifício que denuncia o seu cariz do ramo eléctrico, pelo aviso PERIGO DE MORTE, bem visível na porta de entrada, deparei com um cenário menos romântico.
 
 Este sendo muito mais recente não guarda  a nostalgia dos outros tempos, embora a sua vandalização seja menos gravosa, todo o seu interior terá sido igualmente convertido em ferro velho... todos sabemos que o fio de cobre é um bem valioso e os larápios não se fizeram rogar...

Aqui fica além de mais um ruinoso testemunho, a breve história desta empresa....
A partir de 1855, surgem várias companhias candidatas ao projecto e execução de obras de captação, elevação, transporte e distribuição domiciliária, sendo em 22 de Março de 1882 assinado o contrato com a "Compagnie Générale des Eaux pour l'Étranger", o qual é aprovado por Carta de Lei, em 27 de Julho do mesmo ano.

Por este documento, é dada à Cidade do Porto a água dos Rios Sousa e Ferreira para seu uso exclusivo.

O contrato com a Compagnie Générale era válido por 99 anos, prazo máximo então permitido por Lei e foi estendido a Matosinhos no princípio do século. Os trabalhos são concluídos em 1886, ficando em 1 de Janeiro de 1887 o abastecimento regularizado. Tinham sido construídos aCentral do Sousa, o Túnel-Reservatório de Jovim, os Reservatórios de St.º Isidro , dos Congregados e de S. João da Foz , e a conhecida Fonte Monumental (dos Leões), cuja função era a diminuição da pressão da água na zona baixa da cidade, e assentes mais de 70km de tubagens.
O sistema mostrou-se extremamente vulnerável em regime de cheias dos Rios Douro e Sousa, começando a Câmara a exercer fortes pressões junto da Companhia que conduziram ao resgate da concessão em 28 de Março de 1927, por 3.500 contos, e à criação dos Serviços Municipalizados Águas e Saneamento em 1 de Abril desse ano.
Os Serviços Municipalizados Águas e Saneamento, começaram por beneficiar a Central do Sousa e construírem os Reservatórios (1928) e a Central (1929) de Nova Sintra
Em 1934, por decreto-lei, viram-se os Serviços na obrigação de abastecer os concelhos de Gondomar, Gaia e Matosinhos.
Como reforço à captação do Sousa, procederam-se às aberturas de poços no areal de Zebreiros (rio Douro), estando em 1938, oito em funcionamento.
A crescente importância de Zebreiros, justificou a construção da Central de Zebreiros, que ficou pronta em 1940.
Na cidade foi iniciada em 1959 a construção do reservatório do Bonfim que ficou concluído em 1961.

Na década de 70, integrados no sistema regional, foram construídos o Reservatório de Ramalde, em Gondomar, Reservatório de Pedrouços, na Maia e a uma Central elevatória em Jovim.
Com a construção da barragem de Crestuma, por intrusão de água do mar, graves problemas surgiram nas captações de Zebreiros, face ao aumento do teor de cloretos.
Foi decidido construir novas captações no sub-leito do Douro, a montante da barragem, em Lever.

Em 1985 entrava em funcionamento a Central Elevatória de Lever, desactivando-se a centenária Central do Sousa e as captações de Zebreiros.


http://www.aguasdoporto.pt/publico/m2_empresa/21_historia.htm

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Os IGNATRES!!!

Quando a incompetência e a prepotência se juntam numa junta, os resultados podem ser bizarros...
Pois é, uma vez mais o princípio de Peter mostra estar certo... "Num sistema hierárquico, todo o funcionário tende a ser promovido até ao seu nível de incompetência." ...
Este princípio foi formulado por Laurence Johnston Peter e tornou-se famoso, com a obra do mesmo título, publicada em 1969.  Ou seja... mais cedo ou mais tarde irá parar um incompetente a um lugar chave, tal como acabei de constatar numa das minhas ruinosas aventuras...
O início desta história remonta ao principio do ano de 2010, quando pedi apoio à Junta de Freguesia de Marvila pela ocasião da exposição na Fábrica do Braço de Prata...
Uma vez que estava a fazer um levantamento do património arquitectónico e histórico dos bairros orientais de Lisboa, achei que deveria pedir apoio financeiro à Junta de Marvila. Estava no fundo a trabalhar no interesse dessa população... e por lá andei durante perto de três meses a palmilhar, fotografar, entrevistar, conhecer essa zona  esquecida e empobrecida, que já teve um período de ouro...
Após algumas tentativas consegui ter uma reunião com o sr. Belarmino Silva,  presidente desta instituição, que se revelou sensível ao meu trabalho e deu-me todo o apoio moral para esta demanda, prometendo-me levar à assembleia uma proposta de patrocínio para impressão de originais e molduras.
 
Deixei bem claro nessa reunião, que toda a colecção seria doada à junta para que pudesse ser distribuída oportunamente pelas várias colectividades. Seria um legado ao povo de Marvila em forma de arte e história... a única homenagem que lhes poderia prestar...
Aguardei dois meses e nunca mais obtive qualquer resposta, pois as assembleias são semanais e nunca mais a proposta era proposta nessa dita e bem dita assembleia... até que após várias tentativas, tive o primeiro contacto com o sr. victor morais (sim, em letra pequena), era o vogal da "coltura", que assegurava o bom funcionamento deste sensível pelouro...
A resposta não poderia ter sido mais incongruente... " A junta só patrocina projectos colectivos...!!, como tal, a nossa generosidade não pode contemplar o seu projecto..." ,  ao que respondi por escrito com todo o sarcasmo e sinceridade, que só por ter feito esta hercúlea tarefa, acabei por ter diversos papeis, mais que não seja "desdobrei-me em dois...e por isso é um projecto colectivo!!!
Adiantei também que não estariam a dar nada que não lhes fosse devolvido, ainda para mais enriquecido com todo o trabalho de fundo, e acabei a carta a pôr em dúvida toda a autonomia, inteligência e capacidade de soberana gestão, por excesso de zelo burocrático... enfim... uma pérola literária...
No dia seguinte, o meu amigo e co-expositor, Jorge Castro Henriques,  reuniu-se com o presidente, e trouxe 300€ para cada um, o que permitiu adquirir molduras de clip e fazer ampliações em papel fotográfico 20x30cm... assim ajudaram a montagem da exposição...  assim se cumpriu a prometida ajuda... e assim cumpri a minha promessa...
Quando desmontei a exposição, dirigi-me à junta com a colecção completa e encaixotada, são 56 fotografias emolduradas e devidamente identificadas, acompanhadas com textos de levantamento histórico da minha autoria. Falei com as secretárias e deixei bem claro que necessitaria de legitimar a doação com um documento apropriado, ao que me disseram desconhecer como se faria, pois nunca tal lhes tinha acontecido... "nunca nos deram nada... não sabemos como se faz"...
Não percebo lá muito de "burrocracias", mas sei que deve haver algures uma minuta , perdida num arquivo qualquer para ser consultada por qualquer outro "burrocrata"... era questão de se mexerem... até lhes disse que não seria necessária uma escritura, para mim bastaria uma simples carta assinada a acusar a recepção de todo o espólio, responsabilizando-se pela sua administração... era simples...
Falei com o sr. victor morais diversas vezes nesse sentido, e tive o privilégio de o ouvir em Julho último, apontando para o fim de Verão quando as coisas voltassem ao normal a concretização dessa formalidade... e desde então nunca mais consegui ter novamente o grande benefício da sua atenção... telefonei e deixei recado com todos os meus contactos algumas dezenas de vezes...
Até que perdi a paciência e exigi a devolução da colecção, dirigi-me à junta, não antes de ter telefonado e acordado que por lá iria passar, fiquei pasmado quando não me deixaram levantar a colecção, pois não se encontrava ninguém de momento que pudesse autorizar a entrega. 
 
Ainda aguardei perto de uma hora pelas tentativas de contacto com alguém que o pudesse fazer... ao que me acabaram por dizer que o sr. victor morais poder-me-ia receber na quinta feira dentro do horário de expediente... o que me pareceu  no mínimo, ridiculamente prepotente...  é o cúmulo... ainda teria de me dirigir novamente à junta para lhe rogar cumprir o que se tinha acordado, ou para me devolver o que ainda era meu...
Respondi que me deveriam receber "de passadeira", pois fiz mais por eles culturalmente, do que o próprio executivo!!! Escrevi novamente ao sr. Belarmino Silva a delatar a situação e a exigir uma explicação e pedido de desculpas, até que fui novamente agraciado pela atenção do vulgar vogal...
"Era só para lhe dizer que pode vir buscar a sua colecção quando quiser..." - disse-me num tom soturno e deveras eloquente...-  "é que aqui na junta não temos tapetes, verdes, vermelhos ou azuis... aqui é só gente simples e o sr. pensa que é doutor..."
Parece que o ofendi... coitadinho do egozinho pequenino desse senhor... EU, E TODO O POVO DE MARVILA É QUE FOMOS OFENDIDOS!!!! 
 
Por todo o desprezo, por toda a inoperância e ignorância que demonstrou neste processo, por ter privado os marvilenses de terem acesso a um legado que lhes pertence, por ter deixado fugir uma colecção que pode ser avaliada numa pequena "pipa de massa"... enfim... 
 
Nunca tive tantas dificuldades para oferecer alguma coisa na vida, nem nunca dei nada tão valioso como o meu trabalho e dedicação...
O meu pai chamava-lhes "IGNATRES"... são os ignorantes e atrevidos que diariamente conduzem Portugal à ruína...

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