terça-feira, 18 de março de 2014

Da Espiral Recessiva à Espiral Progressiva

O Projecto Ruin'Arte, desde sempre se tem centrado na salvaguarda do património erigido. Não só nas suas memórias, como em todas as possibilidades para o salvar, salvando igualmente a nossa cultura, economia, sociedade e, legando a todo um País um acervo fotográfico que conta com mais de um milhar de ruinosos exemplos.
Como é óbvio, todas as recuperações necessitam de investimentos cujo retorno financeiro é obrigatório, não só para sua manutenção, como também dar lucro, pois sem ele, nenhum investidor se interessará por qualquer projecto por mais bonito ou romântico que seja.
Há sempre vários entraves que colocam a recuperação de edifícios para segundo plano, levando muitos construtores a optar pela nova edificação.
Em primeiro lugar, temos que contar com a escassa mão-de-obra especializada, que se faz pagar regiamente, além de nem sempre estar disponível no mercado. Os diversos artistas necessários para um empreendimento são cada vez mais raros, agravando os orçamentos e inviabilizando os projectos.
As incontornáveis burocracias envolvidas nos processos de reabilitação, afugentam qualquer investidor que tenha amor à sua conta bancária, pois a desvalorização dos imóveis é directamente proporcional à sua decadência que todos os dias é acelerada pela erosão do tempo, dilatando os orçamentos para a recuperação destes defuntos edifícios.
A especulação imobiliária também tem as suas responsabilidades, pois o valor dos terrenos em locais nobres atinge valores dignos das arábias, além de que muitos imóveis pelas suas características históricas são sobrevalorizados, esperando que um angolano ou um chinês o adquira em nome do charme e da nobreza.
A crise imobiliária e financeira, conduzida pelo excesso de novas construções, saturou o mercado com uma oferta que este não consegue absorver, o que tem baixado o valor do parque imobiliário e levou muitas empresas à falência.
A falta de cultura generalizada, leva o português comum a erigir "maisons" e casas "à moderna", na sua maioria mal construídas e gizadas , deitando a perder um fantástico património imobiliário que todos os dias se desmorona em acelerada cadência e decadência.
O abandono das regiões interiores é também responsável por muitas ruínas que por este País grassam, e este País desgraçam. É incontável a quantidade de quintas e solares, fábricas e simples casas, povoações despovoadas, e muitas outras estruturas que se encontram abandonadas por este Portugal fora, sem nada renderem e sem ninguém aproveitar... é o cúmulo do desperdício!
Como se costuma dizer : "Apenas a morte não tem solução", mas todos estes problemas têm! Enquanto as casas não derrocarem...
Para os combater e resolver, criar-se-iam muitos postos de trabalho e colocar-se-ia a "máquina" a funcionar, que como qualquer outra engrenagem, além da sincronização de todos os elementos, está dependente de uma força motriz, de uma fonte de energia e de um operador... neste caso, seriam vários.
Já noutras ocasiões me atrevi a fazer sugestões, que passariam pelos órgãos dirigentes da nação, que afinariam em termos legislativos e democráticos todos estes processos, agilizando os projectos que estimulariam a sociedade e a economia, para não falar em todos os benefícios que daí adviriam.
Como todos os planos têm que ter uma ordem lógica para poderem atingir as metas a que se propõem, tudo teria que ser devidamente esquematizado exigindo além de muito trabalho, o envolvimento de muitos profissionais de vários sectores, o que só aí, tiraria do marasmo um sem fim de cidadãos que se encontram no desemprego ou com pouca actividade.
Começando por fazer um cadastramento rigoroso de todos os edifícios abandonados em solo nacional e levado a cabo pelas autarquias, tomaríamos uma noção da dimensão deste flagelo, criando ao mesmo tempo um sítio na internet onde estas casas pudessem ser comercializadas.
Todas as autarquias deveriam ser céleres não só nesse processo, como também em todos os projectos que possam vir a ser apresentados. Seria uma promessa de rentabilidade que todos beneficiariam.
Também todas as ruínas deveriam ser obrigadas a ter uma solução prática e justa, sendo alvo de expropriações ou sociedades coercivas.
Criar-se-ia em seguida, uma agência imobiliária dedicada às ruínas e abandonados, avaliando-as em função de todos os critérios que estas possam oferecer, evitando deste modo a especulação.
Em parceria com estas imobiliárias, trabalhariam empresas de consultoria para avaliar e aconselhar projectos e investimentos. Nada como ter a noção das verbas e do retornos nos prazos estabelecidos. Se todas as estruturas abandonadas foram um dia rentáveis, creio que com a estratégia acertada voltariam a sê-lo.
Fundar escolas de reabilitação urbana em vários pontos do País, onde se ministrassem cursos para todas as especializações que estas requerem... ao fim e ao cabo, seria reaprender a técnicas de construção que foram utilizadas durante toda a história da humanidade, se os nossos avós o fizeram, porque é que hoje não somos capazes?
Com os alunos aqui formados, dignificar-se-ia uma classe profissional que iria contribuir para reerguer todo o País, formando novas empresas que colaborariam com as ditas imobiliárias e tornariam possível qualquer reabilitação.
Poder-se-iam recriar espaços agrícolas, turísticos, empresariais, educacionais, culturais, sociais, sem grandes esforços, uma vez que a infra-estruturas estão edificadas.
As empresas de crédito seriam um dos combustíveis deste motor, pois seria muito mais seguro para todos, ter o necessário apoio financeiro e poder pagar a longo prazo qualquer investimento destas envergaduras, sobretudo se criarmos um negócio auto-sustentável.
Limitar as novas construções por um período de cinco a dez anos, levaria as empresas de construção a apostar na reabilitação, dando benefícios fiscais e incentivando com prémios os melhores projectos.
Como não me cabe legislar, posso ao menos opinar, e como é evidente, muitas coisas teriam de ser alteradas. As vias de comunicação para todas as zonas menos povoadas, deveriam ser aliviadas em taxas de auto-estradas e impostos, isso iria inverter o êxodo que desde os anos de quinhentos se tem verificado em direcção às grandes cidades, tal como travaria a emigração.
Com este plano de ataque, traria um novo fôlego directamente a muitas profissões e indirectamente a um sem fim cidadãos... estou a pensar na quantidade de arquitectos, engenheiros, operários de construção, agentes imobiliários, historiadores, advogados, economistas, agricultores, industriais, fotógrafos, etc...etc...
Também outros profissionais como: médicos, professores, informáticos, comunicações, restauração e bens de primeira ordem, combustíveis, e muitos outros serviços de que todos dependemos ganhariam com mais trabalho e novas oportunidades.
Se houver seriedade e vontade de trabalhar, dentro de pouco tempo poderíamos emprestar dinheiro à Troika e os alemães corariam de inveja, pois segundo consta há em Portugal quase um milhão de ruinosas oportunidades à espera de serem reabilitadas.

sábado, 1 de março de 2014

A Casa da Pesca do Marquês de Pombal - Oeiras

A Casa da Pesca do Marquês de Pombal / Conde de Oeiras, é um raro exemplar de arquitectura barroca e, infelizmente um vulgar exemplo de laxismo!
 

Integrada na Quinta do Marquês de Pombal e hoje sob a tutela da Estação Agronómica Nacional / Ministério da Agricultura, tem vindo a degradar-se ao longo de penosas décadas sem que nada seja feito para a preservar... a desculpa de sempre!! Falta de verbas!!
A Casa da Pesca foi classificada Monumento Nacional em 1940, e desde que foi entregue à EAN / MA, que tem sido completamente descurada, é inadmissível que um organismo do Estado trate o património de uma forma tão vil!!!
Antes de abordar a sua história, gostaria de sugerir uma forma fácil de rentabilizar este espaço, tornando-o auto-sustentável e até rentável, até um chimpanzé consegue ver essa tão óbvia hipótese... uma CASA DE PESCA!!
Quantos de nós não gostaríamos de passar algumas horas com amigos e familiares a descontrair à beira lago, numa agradável pescaria envolvidos num ambiente monumental e cheio de história?
Alugando no local uma cana de pesca, e pagando ao kilo tudo o que conseguíssemos pescar podendo também confeccionar num grelhador, ou para os mais exóticos com um "chef" de sushi. Também se poderia aqui ministrar aulas de pesca, com um professor trajado à marquês que nos ensinaria o melhor desta arte, além de poder vender as minhocas que povoam estes férteis terrenos...
Muitos outros projectos aqui se poderiam executar, contribuindo financeiramente para a recuperação e sustentação deste magnífico espaço. Desta forma, angariar-se-iam as verbas necessárias para a reabilitação, criar-se-iam postos de trabalho, e dar-se-ia a Oeiras mais um aprazível local de saudável convívio, em vez de eternamente esperar pelas verbas há muito esgotadas pelo IGESPAR.
A história deste monumento reporta-se ao ano de 1765, e terá sido a última estrutura a ser construída neste núcleo arquitectónico. Terá sido eventualmente gizada por Carlos Mardel, uma vez que foi este o autor do projecto do palácio e dos jardins, embora a sua edificação seja posterior à morte do mestre que reconstruiu a cidade capital.
Foi erigida na chamada "Quinta Grande", a antiga "Quinta do Taveira", uma parte da propriedade dedicada à exploração agrária, e a sua função era puramente lúdica. Foi idealizada para as pescarias de fim-de-semana que tanto entusiasmavam Sebastião José de Carvalho e Mello.
O Marquês anunciava a sua vinda via pombo correio, despoletando uma autêntica "caça ao peixe" na Ribeira da Lage levada a cabo pelos seus atarefados empregados, incumbidos de providenciar o tanque com o maior número peixes que conseguissem apanhar. A faina era feita numas embarcações conhecidas por "casca de côco", levando o destino destes pobres peixes a que fossem pescados duas vezes.
Este conjunto é formado por um jardim adornado com um frondoso arvoredo, ladeado por três portões que lhe servem de nobre acesso, ao centro vive um lago com o formato de quatro cadernas tendo ao centro uma estrela de oito bicos, representando o brasão dos Carvalho e reivindicando a posse da propriedade para a casa de Pombal.

Dando-nos acesso ao patamar superior, somos convidados a subir por umas escadas simétricas, onde ao centro resta uma fonte seca como uma testemunha muda dos seus tempos áureos.
No patamar superior somos brindados com um dos mais românticos cenários que nos transporta ao século XVIII em todo o seu esplendor... o ambiente e toda a envolvência deste encantado recanto, além de uma lição de história, dá-nos uma lição harmonia arquitectónica, em que facilmente nos transportamos para um mundo de fausto barroco, recuando duzentos e cinquenta anos.
Aqui encontramos um lago de generosas e harmoniosas proporções, alimentado por uma fonte pisciforme e envolvido por um grandioso mural revestido por riquíssimos painéis de azulejos holandeses, onde estão representadas cenas de mitologia e cenas de pesca. Ao centro, uma escadaria leva-nos a uma fonte, outrora servida pela Cascata do Taveira ou dos Gigantes.
 
Nesse patamar, duas portas em cada lado da cascata, conduzem-nos ao terraço onde se pode admirar este cenário num ponto de vista privilegiado, dando-nos uma clara noção da grandeza deste espaço.
É neste nível que se encontra a Casa da Pesca, totalmente degradada e descurada, o seu interior, ao qual não tive acesso, é decorado por elaborados estuques e frescos em avançado estado de ruína. Vítima de infiltrações e apodrecimento do telhado que ameaça derrocar.
Esta casa era utilizada pelo Marquês de Pombal para guardar o seu equipamento de pesca e para se apetrechar para essa empolgante actividade. Foi utilizado nos anos setenta do século passado, como creche começando aí a sua acelerada deterioração. Consta que as crianças se divertiam a apedrejar os painéis de azulejos causando mazelas irreparáveis...
Recentemente, um corajoso e dedicado cidadão, a quem aqui presto homenagem, tem-se devotado às suas próprias custas à preservação de todo este espólio. Quis um dia que o destino o tivesse guiado nesta direcção, deparando-se horrorizado com o estado de abandono deste magnífico local. Deitando mãos-à-obra, diariamente se empenha com todos os seus esforços para melhorar a Casa da Pesca, da qual se tornou guardião... Ao valoroso Paulo Augusto, aqui tiro o meu chapéu...

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