O Projecto Ruin'Arte, desde sempre se tem centrado na salvaguarda do património erigido. Não só nas suas memórias, como em todas as possibilidades para o salvar, salvando igualmente a nossa cultura, economia, sociedade e, legando a todo um País um acervo fotográfico que conta com mais de um milhar de ruinosos exemplos.
Como é óbvio, todas as recuperações necessitam de investimentos cujo retorno financeiro é obrigatório, não só para sua manutenção, como também dar lucro, pois sem ele, nenhum investidor se interessará por qualquer projecto por mais bonito ou romântico que seja.
Há sempre vários entraves que colocam a recuperação de edifícios para segundo plano, levando muitos construtores a optar pela nova edificação.
Em primeiro lugar, temos que contar com a escassa mão-de-obra especializada, que se faz pagar regiamente, além de nem sempre estar disponível no mercado. Os diversos artistas necessários para um empreendimento são cada vez mais raros, agravando os orçamentos e inviabilizando os projectos.
As incontornáveis burocracias envolvidas nos processos de reabilitação, afugentam qualquer investidor que tenha amor à sua conta bancária, pois a desvalorização dos imóveis é directamente proporcional à sua decadência que todos os dias é acelerada pela erosão do tempo, dilatando os orçamentos para a recuperação destes defuntos edifícios.
A especulação imobiliária também tem as suas responsabilidades, pois o valor dos terrenos em locais nobres atinge valores dignos das arábias, além de que muitos imóveis pelas suas características históricas são sobrevalorizados, esperando que um angolano ou um chinês o adquira em nome do charme e da nobreza.
A crise imobiliária e financeira, conduzida pelo excesso de novas construções, saturou o mercado com uma oferta que este não consegue absorver, o que tem baixado o valor do parque imobiliário e levou muitas empresas à falência.
A falta de cultura generalizada, leva o português comum a erigir "maisons" e casas "à moderna", na sua maioria mal construídas e gizadas , deitando a perder um fantástico património imobiliário que todos os dias se desmorona em acelerada cadência e decadência.
O abandono das regiões interiores é também responsável por muitas ruínas que por este País grassam, e este País desgraçam. É incontável a quantidade de quintas e solares, fábricas e simples casas, povoações despovoadas, e muitas outras estruturas que se encontram abandonadas por este Portugal fora, sem nada renderem e sem ninguém aproveitar... é o cúmulo do desperdício!
Como se costuma dizer : "Apenas a morte não tem solução", mas todos estes problemas têm! Enquanto as casas não derrocarem...
Para os combater e resolver, criar-se-iam muitos postos de trabalho e colocar-se-ia a "máquina" a funcionar, que como qualquer outra engrenagem, além da sincronização de todos os elementos, está dependente de uma força motriz, de uma fonte de energia e de um operador... neste caso, seriam vários.
Já noutras ocasiões me atrevi a fazer sugestões, que passariam pelos órgãos dirigentes da nação, que afinariam em termos legislativos e democráticos todos estes processos, agilizando os projectos que estimulariam a sociedade e a economia, para não falar em todos os benefícios que daí adviriam.
Como todos os planos têm que ter uma ordem lógica para poderem atingir as metas a que se propõem, tudo teria que ser devidamente esquematizado exigindo além de muito trabalho, o envolvimento de muitos profissionais de vários sectores, o que só aí, tiraria do marasmo um sem fim de cidadãos que se encontram no desemprego ou com pouca actividade.
Começando por fazer um cadastramento rigoroso de todos os edifícios abandonados em solo nacional e levado a cabo pelas autarquias, tomaríamos uma noção da dimensão deste flagelo, criando ao mesmo tempo um sítio na internet onde estas casas pudessem ser comercializadas.
Todas as autarquias deveriam ser céleres
não só nesse processo, como também em todos os projectos que possam vir
a ser apresentados. Seria uma promessa de rentabilidade que todos
beneficiariam.
Também todas as ruínas deveriam ser obrigadas a ter uma solução prática e justa, sendo alvo de expropriações ou sociedades coercivas.
Criar-se-ia em seguida, uma agência imobiliária dedicada às ruínas e abandonados, avaliando-as em função de todos os critérios que estas possam oferecer, evitando deste modo a especulação.
Em parceria com estas imobiliárias, trabalhariam empresas de consultoria para avaliar e aconselhar projectos e investimentos. Nada como ter a noção das verbas e do retornos nos prazos estabelecidos. Se todas as estruturas abandonadas foram um dia rentáveis, creio que com a estratégia acertada voltariam a sê-lo.
Fundar escolas de reabilitação urbana em vários pontos do País, onde se ministrassem cursos para todas as especializações que estas requerem... ao fim e ao cabo, seria reaprender a técnicas de construção que foram utilizadas durante toda a história da humanidade, se os nossos avós o fizeram, porque é que hoje não somos capazes?
Com os alunos aqui formados, dignificar-se-ia uma classe profissional que iria contribuir para reerguer todo o País, formando novas empresas que colaborariam com as ditas imobiliárias e tornariam possível qualquer reabilitação.
Poder-se-iam recriar espaços agrícolas, turísticos, empresariais, educacionais, culturais, sociais, sem grandes esforços, uma vez que a infra-estruturas estão edificadas.
As empresas de crédito seriam um dos combustíveis deste motor, pois seria muito mais seguro para todos, ter o necessário apoio financeiro e poder pagar a longo prazo qualquer investimento destas envergaduras, sobretudo se criarmos um negócio auto-sustentável.
Limitar as novas construções por um período de cinco a dez anos, levaria as empresas de construção a apostar na reabilitação, dando benefícios fiscais e incentivando com prémios os melhores projectos.
Como não me cabe legislar, posso ao menos opinar, e como é evidente, muitas coisas teriam de ser alteradas. As vias de comunicação para todas as zonas menos povoadas, deveriam ser aliviadas em taxas de auto-estradas e impostos, isso iria inverter o êxodo que desde os anos de quinhentos se tem verificado em direcção às grandes cidades, tal como travaria a emigração.
Com este plano de ataque, traria um novo fôlego directamente a muitas profissões e indirectamente a um sem fim cidadãos... estou a pensar na quantidade de arquitectos, engenheiros, operários de construção, agentes imobiliários, historiadores, advogados, economistas, agricultores, industriais, fotógrafos, etc...etc...
Também outros profissionais como: médicos, professores, informáticos, comunicações, restauração e bens de primeira ordem, combustíveis, e muitos outros serviços de que todos dependemos ganhariam com mais trabalho e novas oportunidades.
Se houver seriedade e vontade de trabalhar, dentro de pouco tempo poderíamos emprestar dinheiro à Troika e os alemães corariam de inveja, pois segundo consta há em Portugal quase um milhão de ruinosas oportunidades à espera de serem reabilitadas.