quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Moinho do Brayner / Fábrica Sereia - Seixal

 
Na região do Seixal jazem vários destes magníficos exemplares de arqueologia industrial... são moinhos de maré que já tiveram um papel fundamental em toda a sociedade portuguesa. 
 
Um dia gostaria de completar a colecção e visitá-los a todos, mas para isso necessitarei dos devidos apoios e de um mecenas, pois será uma empreitada hercúlea que não poderei fazer sozinho.
Esta foi mais uma breve e ruinosa aventura que tive o gozo de viver e aqui partilhar. Devo agradecer ao meu amigo Rui Mendes e ao Eco Museu do Seixal, na pessoa da Sra. D. Luz Correia, pela prontidão e pelas as valiosas informações que me deram.
 
A industria moageira, foi um dos sinais de desenvolvimento de uma população, pois dela estava dependente a sua subsistência. A quantidade de moinhos existentes em determinada região, é certamente um dos critérios que melhor testemunham a expansão demográfica e económica de cada local, tendo em conta as leis de oferta e procura. 
Também se deveu a esta industria a nossa expansão marítima, além de que tornou  possível as pescas em mares distantes. Eram nestes moinhos produzidas as farinhas que constituíam a alimentação dos nossos lobos do mar.
O "biscouto" ou a bolacha de embarque era o "pão nosso de cada dia" das tripulações por não se degradar facilmente, e aguentava longas viagens e temperaturas tropicais até ganhar minhocas... que também eram aproveitadas com fins nutritivos.
 
Mas falando mais concisamente deste local, o moinho de maré do Brayner...(que ainda não consegui apurar quem foi)
O Moinho do Descanso estava ligado à  fabrica  do Brayner e era composto por duas instalações que se sobrepunham, ambas as unidades eram servidas pela água do mesmo reservatório e tinham 8 moendas, cada uma produziria em média perto de 300 Kg / dia, o que fazia deste moinho um dos mais importantes da região em termos de produtividade.
Na segunda metade do Séc.XIX , este moinho foi adaptado para uma fábrica de massas alimentícias da firma Miguéis & Filhos, que em 1895 entrou na era do vapor.  Foi ali instalada uma roda clássica, movida por um sistema de tambores e correias, que accionavam o mecanismo pelo rodízio,  tirando partido da corrente de ambas as marés, o que aumentou exponencialmente a produção. Dava na altura trabalho a cerca de quarenta almas.
Foi em 1908, que esta fábrica foi adquirida pela Companhia Nacional de Moagens, passando a fazer parte de um vasto monopólio que quando ruiu deixou profundas cicatrizes neste País.
 
Nos anos trinta do século XX, foi instalada no mesmo local a empresa Sereia - Fábrica de Adubos Orgânicos, Lda., produzindo farinhas, óleos de peixe e adubos orgânicos a partir dos desperdícios das  fábricas de peixe, mantendo-se em laboração até 1976.
Esta actividade foi contestada pelas populações do Seixal e de Paio Pires. Devido à moagem, resíduos e armazenagem de peixe, o cheiro nauseabundo que dali emanava ameaçava a saúde publica e afastava qualquer incauto que por ali se aventurasse, condenando todo o ambiente e sanidade mental / emocional ao mais insensível dos munícipes.
A questão resolveu-se quando sabiamente substituíram o produto final  por  conservas de peixe. Peixe esse que gozava o estatuto de fresco e poderia ser "aturado" com mais facilidade, o seu aroma deveria ser considerado perfume comparado ao da matéria prima da indústria anterior, além de dar emprego a cerca de 300 senhoras num espaço de convívio com 2500 m2.
Enlatavam-se por dia, três camionetas de sardinha em azeite, cavala, atum e carapau, que atarefadamente chegavam da lota de Setúbal.
A Sereia foi feliz até 1989, até que fechou os portões por inviabilidade financeira, e desde então que deste local só restam memórias...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quinta dos Condes de Paço Vitorino, ou Quinta de Baixo - Vilar de Andorinho

“Fidalguia sem comodoria é gaita que não assobia”... como diz o velho ditado. Grassam por este pais à beira mar abandonado, um sem numero de residências nobres que chegaram a um estado de preservação muito menos digno do que os áureos dias que outrora conheceram...

São um reflexo de uma aristocracia depauperada que foi perdendo o carisma e a fortuna pelo passar de várias gerações, na maior parte das vezes sem trabalhar... No meu entender, distingo a nobreza em três ramos bem diferentes...
A nobreza de nascimento é a que menos valor tem e é de uma grande responsabilidade. Bastou o nosso karma ter escolhido um berço para sermos galardoados com “sangue azul”, o que nos pode abrir portas e dar acesso a um nível sócio cultural privilegiado, no entanto é sempre um dever honrar o nome que se transporta, para poder ter o merecido orgulho.
A nobreza empresarial e militar é apanágio de homens com H, é com actos de bravura, diplomacia, ética e inteligência, que se distinguem os valorosos. Independentemente do seu nascimento, qualquer um poderia conquistar um titulo... se o merecesse.
Há ainda a nobreza de espírito, que independentemente do estado social em que se nasceu é a que nos vai guiar por um caminho mais puro e garantir a honra de cada um...é importantíssima!

A nobreza de espírito nem sempre anda de mãos dadas com a nobreza social, como se pode testemunhar pela maneira como o património imobiliário onde os egrégios avós alcançaram as suas glórias, é devotado ao esquecimento.
Estas casas são autênticos guardiões de histórias e memórias familiares que deveriam ser preservadas com o mesmo carinho que um brasão ou titulo de nobreza. Sei que os custos de manutenção de uma propriedade desta envergadura é elevado, mas a sua sustentabilidade pode ser auto gerada com um pouco de trabalho, empreendedorismo e inteligência...
Noutros casos a ganância também faz estragos, pois muitas vezes as questões de partilhas levam uma boa parte do nosso património a um estado que em nada faz justiça ao bom nome de ninguém.
Tentei contactar o proprietário deste solar que se mostrou pouco aberto e muito reservado, tendo-se coibido de prestar qualquer informação para além daquela que se pode consultar noutros sítios de referência... e adiantou-me também que está em vista a sua recuperação...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Sanatório de Valongo

Já andava de olho neste edifício há alguns tempos, e aproveitei uma viagem ao norte para o visitar, é mais um de uma longa lista de sanatórios que tenho para expor neste espaço.
Este é mais uma unidade hospitalar abandonada que testemunha o flagelo que foi a tuberculose em Portugal.
Por nos dias de hoje haver cada vez menos pessoas que se lembrem desta epidemia, e por ter sido encontrada a cura para esta doença, passa-nos despercebida a amplitude desta praga em termos sociais.
É pela dimensão, volumetria e número de hospitais para tuberculosos abandonados, que tomamos realidade do que aconteceu num passado pouco remoto... e já ninguém fala nisso...
Só na Serra do Caramulo houve mais de vinte sanatórios, encontrando-se hoje abandonados e na maioria estado de ruína, onde o Ruin’Arte passou e colheu algumas pérolas.
Embora a erradicação da tuberculose tenha sido indubitavelmente um benefício inquestionável para todos nós, o abandono e sub aproveitamento destes hospitais condenou a uma morte lenta a economia e ambiente destas remotas povoações.
São inúmeros os sanatórios em estado de ruína que povoam as solarengas encostas das nossas montanhas, criando um parque imobiliário de descomunais estruturas que em nada nos servem. São atentados ao ambiente, à economia e à inteligência, pela falta de aproveitamento.
Estas estruturas eram construídas em locais de elevada altitude, não só pela qualidade e pureza do ar , como também por serem afastados das populações para evitar contágios.
Autênticas paisagens de sonho e idílicos lugares  foram esquecidos num curto espaço de tempo... enfim... o reino da tranquilidade e qualidade de vida trocados pela citadina e diária azáfama...
Porque não são convertidos em pousadas, edifícios de apartamentos, clínicas, ou para  qualquer outro  fim??
O Sanatório de Valongo fica situado Monte da Santa Justa, freguesia e concelho de Valongo, outrora conhecida pelas minas romanas que aqui e ao longo de vários séculos foram exploradas, colocando esta terra no mapa económico de Portugal.
O sanatório foi traçado por Júlio José de Brito, construído em 1932 como uma obra do Estado Novo, tendo depois sofrido obras de ampliação que terminaram em 1958.
No auge da sua laboração chegou a albergar mais de três centenas de doentes e contava na sua estrutura, com capela, escola e um edifício de lavandaria.
Foi assaltado, espoliado e vandalizado por elementos de extrema esquerda em 1974, e desde então que o seu estado se vem a degradar de dia para dia.
Este sanatório, é hoje cenário de jogos de guerra e campo de treino de autênticos exércitos de jogadores de paintball... também os entusiastas do todo terreno por aqui libertam alguma adrenalina, e sabe Deus quem mais frequenta este local... pelo menos está a ser aproveitado por alguém...



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