Um dia gostaria de completar a colecção e visitá-los a todos, mas para isso necessitarei dos devidos apoios e de um mecenas, pois será uma empreitada hercúlea que não poderei fazer sozinho.
Esta foi mais uma breve e ruinosa aventura que tive o gozo de viver e aqui partilhar. Devo agradecer ao meu amigo Rui Mendes e ao Eco Museu do Seixal, na pessoa da Sra. D. Luz Correia, pela prontidão e pelas as valiosas informações que me deram.
A industria moageira, foi um dos sinais de desenvolvimento de uma população, pois dela estava dependente a sua subsistência. A quantidade de moinhos existentes em determinada região, é certamente um dos critérios que melhor testemunham a expansão demográfica e económica de cada local, tendo em conta as leis de oferta e procura. Também se deveu a esta industria a nossa expansão marítima, além de que tornou possível as pescas em mares distantes. Eram nestes moinhos produzidas as farinhas que constituíam a alimentação dos nossos lobos do mar.
O "biscouto" ou a bolacha de embarque era o "pão nosso de cada dia" das tripulações por não se degradar facilmente, e aguentava longas viagens e temperaturas tropicais até ganhar minhocas... que também eram aproveitadas com fins nutritivos.
Mas falando mais concisamente deste local, o moinho de maré do Brayner...(que ainda não consegui apurar quem foi)
O Moinho do Descanso estava ligado à fabrica do Brayner e era composto por duas instalações que se sobrepunham, ambas as unidades eram servidas pela água do mesmo reservatório e tinham 8 moendas, cada uma produziria em média perto de 300 Kg / dia, o que fazia deste moinho um dos mais importantes da região em termos de produtividade.Na segunda metade do Séc.XIX , este moinho foi adaptado para uma fábrica de massas alimentícias da firma Miguéis & Filhos, que em 1895 entrou na era do vapor. Foi ali instalada uma roda clássica, movida por um sistema de tambores e correias, que accionavam o mecanismo pelo rodízio, tirando partido da corrente de ambas as marés, o que aumentou exponencialmente a produção. Dava na altura trabalho a cerca de quarenta almas.
Foi em 1908, que esta fábrica foi adquirida pela Companhia Nacional de Moagens, passando a fazer parte de um vasto monopólio que quando ruiu deixou profundas cicatrizes neste País.
Nos anos trinta do século XX, foi instalada no mesmo local a empresa Sereia - Fábrica de Adubos Orgânicos, Lda., produzindo farinhas, óleos de peixe e adubos orgânicos a partir dos desperdícios das fábricas de peixe, mantendo-se em laboração até 1976.
Esta actividade foi contestada pelas populações do Seixal e de Paio Pires. Devido à moagem, resíduos e armazenagem de peixe, o cheiro nauseabundo que dali emanava ameaçava a saúde publica e afastava qualquer incauto que por ali se aventurasse, condenando todo o ambiente e sanidade mental / emocional ao mais insensível dos munícipes.
A questão resolveu-se quando sabiamente substituíram o produto final por conservas de peixe. Peixe esse que gozava o estatuto de fresco e poderia ser "aturado" com mais facilidade, o seu aroma deveria ser considerado perfume comparado ao da matéria prima da indústria anterior, além de dar emprego a cerca de 300 senhoras num espaço de convívio com 2500 m2.
Enlatavam-se por dia, três camionetas de sardinha em azeite, cavala, atum e carapau, que atarefadamente chegavam da lota de Setúbal.
Enlatavam-se por dia, três camionetas de sardinha em azeite, cavala, atum e carapau, que atarefadamente chegavam da lota de Setúbal.
A Sereia foi feliz até 1989, até que fechou os portões por inviabilidade financeira, e desde então que deste local só restam memórias...