sábado, 5 de dezembro de 2009

Palácio dos Condes de Coculim - Campo das Cebolas


Este palácio, situado no Campo das Cebolas, vizinho pouco afastado da Casa dos Bicos, é mais um exemplo de inacção que deitará a perder mais uma peça importante do nosso património arquitectónico.
A sua fachada foi alterada ao longo dos anos como se pode corroborar pelos vários estilos que apresenta. Os sabores de  maneirismo e de neoclássico fundem-se em dois corpos distintos, dando a entender o interregno  do período barroco certamente devido à sua derrocada após o terramoto. É ostentada em esquina uma imponente pedra de armas  dos Mascarenhas.
Pertenceu ao Conde de Coculim e quase ruiu em 1755, desde então que tem sido votado ao abandono e vandalismo municipal. Há um projecto de "reabilitação", para nele fazerem um hotel, que segundo pude concluir pelos dados que foram adiantados, irá desvirtuar este edifício e transformá-lo num mamarracho pós moderno que irá agregar alguns edificios circundantes alterando toda a sua estrutura e o interior...o projecto foi chumbado, mas nunca se sabe quando dão o dito por não dito e vão avante com mais um crime de lesa património...embora justiça seja feita, seria ao mesmo tempo uma iniciativa que desde 1755 deveria ter sido tomada, o aproveitamento de um espaço nobre e com uma dimensão que revela a majestade que este bairro outrora teve...a sua cronologia mostra-nos a relíquia histórica que ninguém se presta a salvar...

Séc. 17, 1ª metade - alguns autores consideram ser este palácio pertença dos condes de Linhares, cuja construção remontaria ao séc. 16, sobre a linha da antiga cerca moura (concretamente junto à denominada porta do Furadoiro, mais tarde referenciada como porta de Jesus) ; 1627 - o prédio era ainda designado "as casas do Conde de Linhares, junto ao Arco de Jesus", segundo Júlio de Castilho ; Séc. 17, 3º quartel - o palácio era propriedade do 1º conde de Coculim, D. Francisco de Mascarenhas (1662 - 1685), filho segundo dos primeiros marqueses de Fronteira, membro do Conselho de D. Pedro II, senhor de Cuncolim e Verodá (Estado da Índia), comendador de São João de Castelães, de São Martinho de Cambres e de São Martinho de Pina, na Ordem de Cristo ; 1685 - por falecimento do 1º conde o palácio passa para a posse de seu filho primogénito e herdeiro, D. Filipe de Mascarenhas (1680 - 1735), o qual se tornou posteriormente também membro do Conselho de Estado, deputado da Junta dos Três Estados e Mestre de Campo de Infantaria (tendo servido na Guerra da Sucessão de Espanha) ; 1724, 19 Nov. - um forte vendaval atinge Lisboa, causando danos significativos no palácio, por ter sido atingido pelas águas do Tejo (após o desmoronamento do cais de Santarém) e ainda por pedras da muralha ; 1735 - por falecimento do 2º conde passa o palácio para a posse do 3º conde, D. Francisco de Mascarenhas (n. 1702) ; 1755 - o terramoto causa danos profundos no imóvel, tendo também os baixos do mesmo ficado cheios de entulho, proveniente do desmoronamento de prédios da R. de São João da Praça e outras ; c. 1858 - transformação das ruinas do antigo palácio dos condes de Coculim em armazém de ferro da firma Sommer & Cª. ; 1896 e 1898 - dão entrada na CML pedidos de alteração do edifício, sendo difícil de avaliar a amplitude das obras subsequentemente realizadas (durante as quais emergiram do solo vestígios arqueológicos) ; Séc. 20, início - instala-se no imóvel a Empresa de Cimentos Leiria ; 1918 - é inquilino no nº 66 da R. Cais de Santarém Angelo José Moreira ; 1919 - é morador no nº 8, 1º D do Arco de Jesus Constantino Taboas Garcia ; 1923 - tem sede no nº 3 do Arco de Jesus a firma Carvalho d' Abreu Ldª, é morador no nº 8, 1º E do Arco de Jesus Santiago Blasquez ; 1923-1936 - o edifício é propriedade de D. Maria da Soledade Carvalho Encarnação ; 1923-1942 - é inquilino no nº 2 do Arco de Jesus a Fábrica Portuguesa de Encerados ; 1923-1949 - é inquilino no nº 10, lj. do Arco de Jesus Lino Teixeira de Carvalho ; 1923-1949 - tem sede no nº 64, 1º da R. do Cais de Santarém a Empresa de Cimentos de Leiria ; 1926 - é inquilino no nº 4 do Arco de Jesus Alfredo Gil Jorge ; Séc. 20, década de 30 - instala-se no imóvel a Fábrica Portuguesa de Encerados, em escavações arqueológicas efectuadas no final da década são recuperados elementos arquitectónicos manuelinos (actualmente no Museu Arqueológico do Carmo); 1936-1949 - são proprietários do edifício Maria da Soledade de Ornelas Bruges d'Oliveira e Manuel José de Ornelas Bruge d'Oliveira ; 1961-1963 - é inquilino do nº 6 do Arco de Jesus Eduardo Campos com uma oficina de tipografia



fonte : D.G.E.M.N.

2 comentários:

  1. Boa Noite. Gostaria de transmitir o meu elogio pelo excelente trabalho que tem vindo a desenvolver no âmbito da fotografia e da beleza como é dito das ruínas desta cidade e deste País. É preciso fazer algo, antes que percamos a história arquitectónica e física que ainda nos identifica como grande país que fomos.
    Muito modestamente convido a visitarem o meu blog http://temposvontades.blogspot.com no qual e muito humildemente tenho tentado mostrar também alguns edifícios que vão a caminho da ruína, para além de um trabalho sobre os Prémio Valmor até 1949, onde encontramos pelo menos um em ruínas.
    Ricardo Santos

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  2. ah, aquele varandim por cima do arco! que pérola...

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