terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O Palácio das Fontes



Ultimamente tenho dedicado este projecto aos bairros orientais de Lisboa onde tive oportunidade de travar contactos com a simpática população e conhecer melhor o seu património. Uma vez que raramente frequentei esta zona da cidade, não conheço nem os locais, nem a toponímia e menos ainda a sua história...tenho andado "aos apalpões" até esbarrar em quintas várias, autênticas pérolas de história e arquitectura que foram desprezadas e devotadas ao abandono. Estes edifícios perdem-se no tempo e na história do bairro, já tiveram vários nomes tal como foram aproveitados através dos tempos com actividades que os diminuiu na sua nobreza e desvirtuou na sua história, dificultando um trabalho de pesquisa que poderia ser mais simples...


Após exaustivas demandas, quis hoje a santa previdência que me tivesse cruzado com uma amiga e vizinha, que tem na sua biblioteca a resposta para muitas perguntas que tenho andado a fazer, evitando mais uma tarde que me preparava para passar nos arquivos municipais...



Uma das quintas que mais me intrigava é o Palácio das Fontes, uma magnífica residência senhorial com uma traça pouco definida, nitidamente barroca mas difícil de situar em termos de  fase, pois apresenta características de vários períodos deste estilo, desde a sua fase jesuítica pela austeridade e simplicidade da sua traça nos corpos exteriores e alçados, ao período áureo pelo seu elegante e harmonioso corpo central e as suas janelas de sacada ainda com vestígios das molduras de azulejos e que são mais características do final deste estilo... esta mistura de  desenquadramento, beleza, nobreza, decadência, abandono e desperdício  ainda aguçava mais a minha curiosidade...



A avaliar pela fachada que transmite um carisma nobre e rural, seria fácil de concluir que tinha um passado glorioso, embora na zona me afiançassem que eram apenas as cocheiras do palácio dos Alfinetes...houve até quem me tenha dito que era a sede do Futebol Clube Recreativo Azinhagas, omitindo por ignorância  todo o seu passado...consegui no entanto apurar que:


Esta quinta pertenceu ao Duque de Palmela, tendo antes sido a sede do vinculo instituído pelo cónego Nuno Cunha de Eça, no Séc. XVII. Foi adquirida posteriormente pela CML que se deve ter esquecido de a recuperar e manter. Este palácio está localizado entre blocos de apartamentos de habitação social e foi completamente estrangulado pelo espaço envolvente. O seu glorioso passado é testemunhado por uma palmeira e por restos de azulejos do Séc. XIX que representam trabalhos rurais, as "Avé Maria" e os "Dar de beber", são também visíveis os vestígios das molduras das janelas que certamente lhe emprestavam  um charme que hoje em dia está longe das suas memórias mais antigas. 

bibliografia : "O formoso sítio de Marvila"
Carlos Consiglieri e Marília Abel

12 comentários:

  1. Caso não conheça, tem elementos muito interessantes sobre algumas das quintas mencionadas, na obra "A Antiga Freguesia dos Olivais" de Ralph Delgado. Ed. Câmara Municipal de Lisboa, 1969. Lá encontrará, entre outras, uma foto da Quinta dos Padres noutros tempos. Idem, Quinta dos Alfinetes.
    Em adenda às sugestôes que deixei no comentário de 18 do corrente acrescento, na R. de Marvila, começando do lado da Madre de Deus: Azinhaga da Bruxa, Quinta das Pintoras, Solar da Quinta das Veigas (ao lado da Escola Afonso Domingues, com entrada pela Azinhaga das Veigas) mais adiante, do lado direito, quase em frente à Azinhaga dos Alfinetes, há o Pátio do Marquês de Marialva, que dá acesso à ponte sobre o caminho de ferro e donde se avista o bonito e maltratado
    mirante que já esteve integrado na falecida Fábrica Nacional de Sabões. Voltando à Rua de Marvila, depois das instalações de recolha de lixo da C.M.L. e do lado contrário destas, o Palácio dos Marqueses de Abrantes, já sem o escudo de armas. Para além disso, a Rua/Estrada de Marvila ainda guardará um ou outro pormenor interessante: uma magnífica árvore nos terrenos da Fábrica Nacional de Sabões e talvez ainda exista uma alfaiataria à moda antiga quase em frente às instalações da C.M.L. atrás referidas.
    Cumps.

    ResponderEliminar
  2. DÁ PENA VER ESTES PALÁCIOS EM RUÍNAS, POIS EU MOREI NO PALÁCIO DA QUINTA DAS FONTES NA AZINHAGA DOS ALFINETES, SINTO TRISTEZA

    ResponderEliminar
  3. A qtª das fontes antes de ser da câmara foi da C.G.DE Depósitos,porque o palácio tinha sido hipotecado ,Foi a história que me foi contada.Era um palácio muito bonito tinha painéis de azulejos lindos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Por acaso recorda-se de qual era a temática dos azulejos? Muito obrigada.

      Eliminar
  4. Frequentei a Escola Afonso Domingues nos anos de 1964 . Quando nesse tempo por falta de dinheiro palmilhei a rua do Grilo e a rua de Duque de Lafoes. Sempre tive curiosidade de saltar o muro e ver o que estava por dentro. Como a CML deixou arruinar um espaço valioso da nossa historia Sinto envergonhado de alguns antepassados que ficaram na nossa historia e que deveriam fazer desaparecer paralelamente como a CML fez com este famoso património. Agradeço que alguém mais comente. Claro que ainda se poderá resgata algo e eu poderei contribuir nunovin@outlook.com Bem hajam aqeles que ainda dao algo pela nossa patria

    ResponderEliminar
  5. Estimado sr. Gastão. Estou por terminar a minha biografia e vendo algumas fotografias aqui publicadas quero solicitar autorização de publicar e obviamente sera amotado no final do livro ou talvez ao principio com o vosso sitio Agradeço a vossa amavel pronta resposta para nunovin@outlook.com bem hajam

    ResponderEliminar
  6. Sera que voces teem algumas fotografias da quinta das olais e do casal ventoso Alto do Pina Onde residi durante 17 anos de3pois vim p londres e por motivos politicos so voltei em 1995
    Nuno Vinhas

    ResponderEliminar
  7. Os azulejos que decoravam a quinta eram de Jorge Colaço (primeira metade do séc. X

    ResponderEliminar
  8. A Quinta das Fontes foi objeto, por parte da CML, de profundas obras de reabilitação para a construção da Biblioteca de Marvila que abriu ao público em novembro de 2016. É a maior biblioteca municipal de Lisboa, com quase 3000 metros quadrados, da autoria do Arquiteto Raul Hestnes Ferreira. Ocupa dois edifícios, um construído de raiz e outro recuperado (a referida Quinta das Fontes) onde sobressai o antigo lagar de azeite. Além das salas de leitura, de formação, de uso comunitário, da cozinha e cafetaria e do auditório (com lotação de 180 pessoas), tem ainda um espaço de homenagem ao escritor José Gomes Ferreira.

    ResponderEliminar
  9. Boa tarde,
    Vinha solicitar a sua autorização para utilizar as magníficas fotos da Quinta das Fontes no Centro Interpretativo de Marvila e Beato que estamos a criar na Biblioteca de Marvila. Se nos der autorização, os créditos das fotos constarão na legenda das mesmas, é claro.
    Aguardo a dua resposta.
    Cumprimentos,
    Alexandra Aníbal (CML/Direção Municipal de Cultura)

    ResponderEliminar
  10. Vivi no Palácio da Qtª das Fontes com os meus pais e tios até aos 18 anos, era um Palácio muito bonito tinha painéis de azulejos lindíssimos tanto por fora como por dentro, foram tempos muito bons e felizes, tínhamos liberdade e respirávamos ar puro adorei

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Bom dia, por acaso não tem fotografias do Palácio onde se visualizem os painéis de azulejos?! Muito obrigada.

      Eliminar

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...