terça-feira, 9 de março de 2010

Quinta da Lebre ou do Vale Fundão ou pátio Manuel Alves

Esta quinta é mais um palácio que faz parte do riquíssimo património de Marvila, é mais uma pérola de história  e arquitectura condenada a uma morte lenta. Localizada na Av. João Paulo II, outrora uma extensão da Azinhaga do Vale Fundão de onde herdou um dos nomes pelo qual é ainda hoje conhecida.



Este palácio construído no Séc. XVIII com traça pombalina era uma antiga casa senhorial que até ainda à pouco tempo tinha pedra de armas. Tem um generoso pátio que acabou por o baptizar com o nome pelo qual é hoje conhecido, Pátio Manuel Alves. Tentei apurar quem terá sido esse ilustre senhor, o que se revelou ser mais uma “agulha no palheiro”, e na falta da pedra de armas a tarefa torna-se ainda mais difícil, pelo menos para um fotógrafo... 
 
Todo o piso superior está em completo estado de ruína, tendo sofrido um incêndio numa das suas alas, no piso inferior tem algumas alas habitadas por uma numerosa família cigana. Fui simpaticamente recebido pela D. Fernanda Silva que fez questão em mostrar as condições em que viviam convidando-me a entrar com direito a visita guiada, com a esperança que eu fosse um repórter da Sic.

 Não fotografei o interior por respeito, por falta de condições e por não ser essa a índole deste projecto, mais tarde voltei para melhorar as condições de luz e para fotografar a capela que desconhecia na primeira incursão. 
 
Fui novamente recebido com simpatia e indicaram-me o acesso ao piso superior, que se faz pelos vestígios de uma escada. Fiz algum equilibrismo para conseguir algumas imagens na primeira “desassoalhada”, mas não arrisquei entrar no resto da ruína que ameaça derrocar em vários pontos.
 

 Embora esteja habitada, como é uma ruína não tem obviamente água ou electricidade,  recolha de lixo ou qualquer outro “luxo” urbano, o que dificulta a vida dos que ali vivem, além da circulação a um incauto fotógrafo enquanto explora as perspectivas nas traseiras do palácio... nunca na vida fotografei outro local tão mal cheiroso... 
 
Entre escombros, brinquedos, televisões e outros  aparelhos, muito lixo orgânico, restos de animais e todo o tipo de tralha que se possa imaginar, as traseiras são também usadas e abusadas como “casa de banho” comunitária de um clã inteiro, o que representa uma densidade de pelo menos umas cinco “minas” por metro quadrado...era preferível andar em cima do lixo para circular em segurança...
 Tem uma ala nas traseiras onde se pode(?) entrar, pelo menos nem tentei aventurar-me para além da primeira sala...adivinhava-se pelo cheiro mais uma série de “minas” pelo resto da casa o que torna muito pouco atractivo este tipo de reportagem...com cuidado fui procurar a tal ermida que sabia existir...
 
 É uma pequena capela que data de 1763 e dedicada à Madre de Deus. É hoje utilizada como morada de alguém com quem não tive o prazer de confraternizar. Tem um inexpugnável muro à sua volta o que a torna numa espécie de “moradia jardinada” dentro de um “condomínio”. A graciosa traça que desenha a sua fachada pareceu-me mais esmerada que a do próprio palácio...gostava de ter acesso ao interior...
 

 Há ainda outras casas na propriedade que certamente seriam de serviços e serviçais, todas igualmente em estado de ruína... O velho palácio está cravado de  estruturas abarracadas que se apoderaram das suas  paredes como autênticos parasitas...as barracas que também se encontram em ruínas, além da ainda mais degradante imagem que dá a esta casa, tornam impossíveis quaisquer enquadramentos que evidenciem a traça do solar.
Uma vez que esta quinta não colide com o projecto da nova ponte e  é propriedade municipal, deveria ser alvo de uma intervenção a fundo. Poderia servir de estrutura de apoio à imensa população deste bairro ou até mesmo dar continuidade à sua actual utilização. Caberiam certamente uma série de clãs nesta propriedade, o que facilitaria um realojamento em massa...estas famílias manter-se-iam unidas e seriam bem mais felizes...

3 comentários:

  1. Cresci e vivi nessa capela até aos meus 10 anos, e e uma tristeza ve-la assim..

    ResponderEliminar
  2. A quinta nào era de Manuel Alves mas sim de Antonio Aves que antae de falecer vendeu á Camara Municipal de Lisboa 28ha,mas o Palacio Jardins ficaram propriedade de Antonio Alves, e alguem da camara Municipal de Lisboa enganou-se e deu casa aos inquilinos existente na quinta pensando que esta pertencia a Camara. Foi dai que a Quinta foi ocupada, vandalisada, incendiada e nunca se chamou Patio Manuel Alves mas sim QUINTA DE VALE FUNDÂO.Os herdeiros desse Palacio foram espropriados por utilidade publica para ser construido o Futuro Hospital Oriental de Lisboa.

    ResponderEliminar
  3. Vivi no pátio Manuel Alves até aos meus 11 anos. E chamava-se sim pátio Manuel Alves. Deste sempre. Um beijinho

    ResponderEliminar

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...