Soube da existência deste lagar pelo programa Horizontes de Memória, apresentado pelo saudoso Dr. José Hermano Saraiva, que tanto contribuiu para cultura portuguesa...
Aqui faço uma tardia homenagem a esse grande homem, que ensinou a domicílio 10.000.000 de portugueses e a quem muito devemos pela sua linda obra.
Casa do Monge Lagareiro, já na altura da gravação do programa era uma
ruína em avançado estado de degradação, a que esse ilustre professor,
oportunamente chamou a atenção para a sua eminente derrocada se não
fosse feita uma rápida intervenção...
É pena que nenhuma competente eminência o tenha ouvido... pois acabou
mesmo por derrocar... da sua estrutura restam paredes, vestígios do
telhado... e muitas memórias...
Está situado em Ataíja de Cima a escassos metros da Estrada Nacional 1 / IC2, e fazia parte do couto do Mosteiro de Alcobaça.
A sua revitalização colocaria esta terra no mapa e traria dividendos para toda a população e para quem passa nessa movimentada via, pois nada é mais saudável para quem viaja do que uma paragem num aprazível local onde se possa descansar, enquanto se goza um ambiente calmo e impregnado de beleza e cultura...
...seria didáctico, criando um núcleo museológico e um espaço comercial e de restauração, poder-se-iam servir monásticos repastos e vender lembranças da região que é rica em tradições... apenas seria necessário um pouco de trabalho e alguma sensibilidade... hoje chama-se empreendedorismo...
A sua construção deve-se a Frei Manuel de Mendonça, na sequência da plantação de grandes olivais por este incentivada, na zona do sopé da Serra dos Candeeiros.
Pelas condições propícias para o cultivo deste fruto, esta localidade foi largamente explorada por vários proprietários, entre os quais os frades de Alcobaça.
A este olival foi chamado "do Santíssimo", por a suas receitas reverterem para cobrir as despesas do culto do Santíssimo Sacramento... e espera agora uma extrema unção...
Este monumento foi mais uma vítima da extinção das ordens religiosas, e desde 1834 que o seu destino ficou traçado, pois o zelo necessário para a sua exploração e manutenção desvaneceu-se com o desinteresse dos seus sucessivos proprietários, apenas quem o construiu e manteve lhe tinha o amor e dedicação paternal que o fez viver durante alguns anos de glória.
A sua traça é de cariz nobre, longe da austeridade característica das ordens monásticas, e a qualidade da construção está patente nas suas firmes paredes que teimosamente o mantém de pé.
Foi construído com a técnica de "taipal à galega", que consiste numa argamassa de cal, argila, cortiça e azeite, preenchendo uma "estrutura com prumos e barrotes de travejamento", garantindo desta forma as melhores condições de isolamento térmico e durabilidade.
As molduras de brincos com frontão de laços nas janelas do primeiro andar e as janelas gradeadas do nível térreo, assemelham-no a um pequeno solar, a graciosa pedra de armas que ostenta o brasão do Mosteiro de Alcobaça sobre motivos rocaille e encimada por uma coroa, dão-lhe uma altivez que faz corar muitas elegantes residências.
A fachada apresenta uma fenestração equilibrada, tendo ao centro uma janela cega. O seu estado de degradação desvendou um mistério que há muito intrigava os mais curiosos, a janela que se cuidava ser entaipada, revelou-se ser apenas um elemento ornamental.
As dependências do lagar dividiam-se na parte de habitação e na de produção, sendo a primeira no andar superior onde vivia o monge lagareiro, o rés do chão era reservado à produção de azeite e armazenamento. Tinha adossadas outras dependências para os animais, das quais restam apenas paredes, pensando-se pela falta de vestígios que o telhado fosse de colmo.
Rezamos agora para que este triste monumento, conheça melhores momentos e volte um dia a produzir riqueza...
IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 67/97, DR, 1.ª série-B, n.º 301 de 31 dezembro 1997 *1 - 39º33'01.67'' N 8º53'47.68'' O
Sempre muito interessante.
ResponderEliminarEste monumento deveria fazer parte de um circuito turístico que integrasse todas as dependências do antigo couto de Alcobaça.
Mas, ai de nós, parece que estamos condenados, a tecer considerações sobre o que "deveria ser" o nosso património.
Um abraço
pensando na Sílvia :)
ResponderEliminarComo posso ver o programa Horizontes da Memoria sobre esta casa? Obrigado
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