sexta-feira, 7 de junho de 2013

Quinta de Santo António da Juncosa - Rio de Moinhos

 
Foi numa radiosa manhã de Primavera que na boa companhia do meu ruinoso amigo,  José João Roseira, nos dirigimos à Quinta da Juncosa... que pelas histórias que contam, dever-se-ia chamar da jocosa...
Era uma reportagem que há muito tinha em vista, pois trata-se de uma quinta deveras comentada no mundo cibernético...
Dela se conta uma história que faz parte do imaginário popular e se tornou numa autêntica lenda...a lenda do barão das Lages e a sua assombração...
É uma história rocambolesca propagada em vários meios e não tem algum fundamento, uma asneira viral que se repete diáriamente contribuindo para a disseminação de uma mentira atroz...
E todos sabemos que uma mentira quando é repetida muitas vezes, facilmente passa a ser verdade...
Não entendo como é que se publicam tamanhas patetices sem sequer se corroborar se alguma fonte é fidedigna, e menos ainda entendo, como se dá crédito a tantas tretas!!!
Há depois variantes da mesma treta... cheguei a ler a mesma história situada no século XII, descrita num estilo trovadoresco , e já no século XX , tendo esta lenda sido até publicada num livro pretensamente sério e com laivos de história...
Quando hoje em dia a pesquisa é tão simples sem sequer ser necessário na maior parte das vezes levantar da cadeira...
Vamos então à lenda... um dia o dito barão das Lages, D. Luís de Lencastre Carneiro de Vasconcelos, 4.º Barão  deste título, desconfiou da fidelidade da sua mulher...
Como seria apanágio de um grande machão, decidiu prendê-la a um cavalo arrastando-a pela  aldeia até a ter morto... 
 
...depois de um momento de lucidez, caiu em si dando conta da atrocidade que tinha cometido e arrependeu-se, tendo posto fim à sua vida e à dos seus filhos, ficando eternamente errando o seu espírito pela quinta a assustar os incautos locais...
Li também uma reportagem num jornal diário, que além de contribuir para a propagação deste mito, fala ainda numa rica "mansão" com azulejos do Séc. XVIII e trinta mil hectares de terra... nada mais fantasioso e piroso...
É impossível haver uma propriedade nesta região cujo tamanho seja proporcional a trinta mil campos de futebol, seria certamente a maior propriedade da Europa e ainda para mais estaria abandonada...
O jornalismo barato e sensacionalista, demonstra além de falta de gosto, uma grande falta de cultura, e um artigo como este, revela a incapacidade de se informar e pesquisar, além de que o "jornalista", obviamente não sabe interpretar um espaço desta índole...
Agora os factos apurados... Segundo se pode consultar nos sites de genealogia, este senhor  faleceu no ano de 1933, e a sua mulher em 1955, os seus filhos tiveram descendência... o que deita por terra qualquer história de assassinato...
Se colocarmos o cenário no século XII, podemos também observar que a primeira baronia de Portugal, foi no reinado de D. Afonso V, além de que este título (Lages) foi atribuído pela rainha D. Maria II... logo também é treta!!!
Como se não bastasse, a descrição deste núcleo arquitectónico, também deixa muito a desejar... uma mansão é uma casa faustosa em todos os sentidos, com cheiro de novo-riquismo e exuberantemente projectada, nunca esta casa foi uma mansão... 
 
...quanto muito é um solar, caso seja onde o primeiro ramo desta família se tenha instalado, dando continuidade à sua linhagem.
Os azulejos que ainda resistem ao tempo e aos gatunos, têm um padrão seiscentista e foram fabricados nas Fábrica das Devezas em pleno século XX, são revivalistas e sem algum valor histórico... não são do século XVIII!!!
A torre "medieval", é também ela um revivalismo, tal como os telhados e tectos em caixão da construção primitiva da quinta, que desconfio ter apenas como originais, o soalho e as paredes...
Esta quinta é uma das primeiras da região e não consegui apurar a data da sua construção, embora tenha lido que é da era medieval, deixando à nossa consideração umas largas centenas de anos...
No entanto e a avaliar pelas molduras das janelas, que apresentam arcos contracurvados abatidos, poderemos alvitrar que será algures entre os séculos XV e XVI, afastando a hipótese do tal senhor feudal do século XII...
Mais fidedigna é a referência feita por Manuel Abranches de Soveral, na história da família Portocarreiro, denunciando a sua existência em pleno século XVI...
"D. Manuel da Cunha, legitimado por carta real de 10.5.1564, com geração num ramo de Cunha Ozorio, de Braga. A única irmã que casou, D. Maria da Cunha, fê-lo justamente com um irmão do marido de D. Helena, Gonçalo Sanhudo, e viveram no Porto e em Pedorido (Castelo de Paiva), onde ele faleceu com testamento de 23.4.1532, tendo sucedido à irmã D. Isabel Cardim no prazo de S. João de Rande, em Lagares. 
 
Tiveram um único filho, Antão Sanundo, que tirou ordens menores em Braga em 1532 e viveu na vila de Atouguia, onde instituiu um morgadio. Deixou um filho natural, o Dr. Francisco Álvares Sanhudo, corregedor do Cível de Lisboa, que lhe sucedeu. Gonçalo de Ozorio, o filho legitimado, foi como se disse abade de Stª Mª de Alijó, que em 1547 trocou por Stª Margarida de Lousada. 
 
Deixou dois filhos ilegítimos: Manuel de Ozorio, que sucedeu na quintã de Vau e casou em Amarante com Maria Ferreira vde Queiroz, c.g., e Guiomar de Ozório, que sucedeu nas quintas do Paço de Valpedre e de Piães, tendo casado com João Teixeira, senhor da quinta de Juncosa, no lugar da Ribeira, em Rio de Moinhos (Penafiel), onde faleceu viúvo a 11.4.1603, deixando herdeira sua foi filha única D. Mariana de Ozorio (que também aparece como Maria Teixeira de Ozorio), nascida cerca de 1550, que lhes sucedeu e casou no 2º domingo (sic) de Outubro de 1588, ib, com Gonçalo da Rocha, natural e cidadão do Porto (filho de António da Rocha e sua mulher Maria de Figueiredo, moradores em S. Nicolau da cidade do Porto), que instituiu a capela de Nª Sª da Graça na dita quinta da Juncosa, sem geração. Por testamento de 23.6.1624, D. Mariana deixou herdeiros seus primos «Jº e Manuel da Cunha, filhos de D. Helena de Ozorio»."
A avaliar pela a arquitectura da nova torre e pelo o lettering de um painel de azulejos, sou levado a ponderar que a quinta terá sido eleita no princípio do século XX como local de descanso para esta família, tendo sido alugada por altura do falecimento do barão das Lages em 1933...
Mas voltando à quinta e sua situação actual... segundo o testemunho de uma simpática e octogenária vizinha, há mais de setenta anos que a casa está devoluta, tendo sido as dependências e terrenos alugados a uma vasta família, que se entretêm a arranjar artimanhas para poder ficar com ela, impossibilitando os originais proprietários de tirarem partido de toda a propriedade, e condenando o futuro da mesma...
Creio ser esta a verdadeira assombração e maldição deste local, que todos os dias atrai a curiosidade alheia em busca de fortes sensações, como se pode comprovar por um auto-retrato desta equipa de ruinólogos, que mais se assemelham a dois espectros errantes...

3 comentários:

  1. Cara Gastão

    Mais uma vez parabéns pelo achado e pelas magníficas fotografias. A casa talvez tenha uma fundação antiga, mas a arquitectura parece mais um pastiche dos finais do XIX ou início do XX. No entanto é muito bonita. Mais incrível é ainda ter o mobiliário, como uma cama romântica e outra de bilros ao gosto do século XVII. Encantei-me também com uma Santa de Roca perfeitamente à mercê do caruncho ou de algum larápio e com o fogão de ferro na cozinha. Eu adoro santos de roca.

    Quanto à lenda do tal fidalgo que matou a mulher e os filhos, também me parece uma treta, mas coaduna-se com a arquitectura do sítio, empresta-lhe alguma poesia. Agora a verdadeira maldição que pesa sobre ela é a mesma que cai sobre todo o património arquitectónico português, o desinteresse.

    Um abraço

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  2. Boas ,
    O acesso à casa é livre ou alguém tem uma chave ? caso o acesso seja restrito não se importa de me deixar o contacto ?

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  3. Em primeiro lugar vou avisa lo ja aqui que o que voçe disse e completamente mentira ! sou membro dessa familia e nunca tivemos instençoes de querer ficar com aquilo xD apenas temos uma familia pobre que nao tem possibilidades, sendo entao a nos a mts anos deixado a quinta com um acordo de trabalhar os campos, agora voçe bem para aqui pensando que e alguem fazer acusaçoes que nao existem e sem ter a certeza ! tenha vergonha na cara ....

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