Representar o seu País envergando a bandeira de Portugal e da União Europeia... foram duas "camisolas" que vesti com o orgulho inerente a esta ruinosa ocasião.
O convite que me foi dirigido, consistia em contribuir com o meu olhar e experiência, numa reportagem fotográfica da terceira maior cidade da Argélia, que irá em 2015, ser palco da Capital Árabe da Cultura... assim será merecidamente no próximo ano celebrizada Constantine.
Constantine foi erigida pelos cartagineses, mais tarde foi a real capital das dinastias numídas, e depois conquistada e colonizada pelos romanos que durante muitos anos a moldaram e estruturaram, o imperador Constantino crismou-a, e até aos dias de hoje preserva esta sonante marca indelével.
Esta cidade é um cenário vivo de uma fotogenia ímpar, onde as oportunidades fotográficas surgem a cada esquina e a cada momento, que aguarda o seu "congelamento" e se guarda para a eternidade.
Este nosso encontro de culturas proporcionou um enorme enriquecimento a todos os envolvidos neste projecto, que juntou duas selecções a jogar com o mesmo fim: a aproximação cultural e o saudável convívio entre dois continentes que muito têm em comum, e onde o dialecto falado era apenas fotografia, levando-nos a todos a um perfeito entendimento...
Não havia rivalidade, havia apenas duas "equipas" que se juntaram com esta agradável finalidade... fazer fotografia, dando o seu melhor e honrando o privilégio que nos foi dado, em cada dia bem passado.
Todos os fotógrafos envolvidos eram de uma suprema categoria (incluindo a minha modesta pessoa), a confraternização nesta iniciativa muito aproximou estes distantes mundos que afinal eram tão próximos.
Tanto a "equipa" argelina, como a "equipa" europeia, ambas compostas por dez elementos, estiveram à altura deste desafio que tantos nos empolgou, demonstrando um alto nível técnico, estético e diplomático, levando a cabo um excelente trabalho e desenvolvido as melhores amizades.
Não posso deixar de referir e agradecer à organização deste evento, a hospitalidade com que nos receberam, além de todos os cuidados de conforto e segurança com que nos brindaram.
Constantine é uma cidade de contrastes, onde vive e convive a tradição árabe e europeia, onde a majestosa arquitectura se funde numa urbe plena de prosperidade e decadência.
Estrategicamente situada no alto de um planalto e cercada por um profundo "canyon" que a envolve e graciosamente a abraça, numa perfeita comunhão entre a paisagem natural e a pólis.
Esta cidade terá sido uma inexpugnável fortaleza, hoje acessível por oito imponentes e graciosas pontes que a unem à sua periferia, permitindo um rápido e fácil acesso a todos os que as transpõem.
O seu riquíssimo património testemunha uma cultura ancestral cujas memórias impregnam cada pedra, e onde a tradição está presente em cada canto desta cidade encantada.
Infelizmente a sua preservação não tem sido alvo dos maiores cuidados, muito embora haja alguns edifícios bafejados pela sorte da reabilitação, cujo esplendor em breve brilhará.
Uma vez que este meu trabalho se tem concentrado no património arruinado, tomei esse mesmo tema por linha condutora, omitindo naturalmente o restante panorama, não devendo por isso ser tomado em conta como único motivo de Constantine.
Embora as ruínas sejam uma constante em Constantine, quase todas elas acabam por ser aproveitadas como decrépitas moradas onde vivem inúmeras famílias, e cujas bucólicas fachadas são alegremente pautadas por dezenas de antenas parabólicas.
A tristeza destas ruínas contrapõe-se à alegria desta amistosa população, cujas manifestações de simpatia se faziam sentir em todos os lugares e momentos que aqui vivi.
Esta cidade é fruto de uma herança árabe e romana, cuja genética ancestralmente aqui se espelha e se espalha em todo o seu ambiente.
Constantine foi também influenciada pela cultura gaulesa, que recentemente deixou profundas e boas marcas que se encontram presentes na arquitectura e sociedade.
São inúmeros os edifícios que com imponência e eloquência ainda hoje testemunham a grandiosidade desta cidade.
Também os edifícios mais humildes que constituem a malha urbana de Constantine, são riquíssimos exemplos de um exemplar património, pois é neles que mais forte bate o coração desta nobre e pobre população.
Todo o seu protagonismo e beleza se sobrepõe às mais exuberantes residências, onde as vivências diárias destes arruamentos se comparam às mais movimentadas artérias das principais capitais.
A vida de Constantine é diariamente animada e estimulada nos becos do Cashbah, onde a genuinidade desta cidade se mantém fiel à sua própria índole.
Neste bairro os nossos cinco sentidos são estimulados por quadros, sons, paladares, toques e aromas que nos enchem de um perfeito deleite.
É um recinto em forma de labirinto onde todos passeiam e tudo se passa, onde tudo se encontra, tudo se vende, tudo se vive, tudo é graça.
A singularidade da arquitectura denuncia a cultura desta cidade, onde a pobreza e a riqueza convivem de mãos dadas, onde tristeza e a alegria se encontram irmanadas.
Também fomos à velha cidade romana de Tiddis , onde as ruínas têm um estatuto legítimo e são excepcionalmente bem cuidadas, toda a preservação deste espaço é exemplar tornando-o num cenário invulgar e num dos pontos mais altos destas ruinosas jornadas.
As velhas pedras desta antiga metrópole, contam-nos curiosas e gloriosas histórias de uma antiga civilização, onde cada pedregulho é motivo de orgulho desta nação.
Aqui vive a eternidade, as pedras imortais desta cidade resistem ao tempo e aos temporais como um espírito da humanidade.Uma ruína monumental de um valor sem par, um património cultural de um amor milenar.
Um espaço idílico excepcionalmente preservado onde ainda se ouvem os fantasmas de um distante passado, as pedras impregnadas de memórias colectivas mantém estas estórias ainda bem vivas.
Quase de noite e ao chegar a outro monumento tumular, foi mais um momento que iremos recordar, o mausoléu do Rei Massinissa, para nós e sob um estrelado céu posou em toda a sua majestade, dando-nos mais um momento para a posteridade.
Foram dias preenchidos com uma carga emotiva e para o ano voltaremos para uma exposição colectiva.
Ao meu Pai, com quem tive ainda a alegria de partilhar esta aventura.
Muito bom! Parabéns!
ResponderEliminarParabéns excelente trabalho!
ResponderEliminarPara fotografar esta cidade árabe, não havia árabes? De onde veio o convite?
ResponderEliminarMuitos parabéns Gastão pelo excelente trabalho :)
ResponderEliminarExcelente trabalho! Parabéns
ResponderEliminarAo senhor MIKE G, e que tal 'ler' as descrições das fotografias, onde encontrará resposta à (infeliz) pergunta que faz. Paciência para certas pessoas, que apenas demonstram ter uma enormíssima dor de cotovelo.
ResponderEliminarAgora, o que mais importa, sinceros parabéns ao G.B.S. por este seu ultimo trabalho em Constantine,
pela influencia e (quase) autoria do programa da SIC Noticias - 'Abandonados' e por todo o levantamento fotográfico / documental que tem partilhado, sobre património português deixado ao abandono. Saudações fotográficas.
Ao senhor MIKE G, e que tal 'ler' as descrições das fotografias, onde encontrará resposta à (infeliz) pergunta que faz. Paciência para certas pessoas, que apenas demonstram ter uma enormíssima dor de cotovelo.
ResponderEliminarAgora, o que mais importa, sinceros parabéns ao G.B.S. por este seu ultimo trabalho em Constantine,
pela influencia e (quase) autoria do programa da SIC Noticias - 'Abandonados' e por todo o levantamento fotográfico / documental que tem partilhado, sobre património português deixado ao abandono. Saudações fotográficas.
Gastão
ResponderEliminarGostei muita da reportagem.
A mudança de país e cenário confirmam as tuas qualidades, que entre outras, são uma enorme sensibilidade para captar a beleza da ruína e uma capacidade de provocar uma comoção a quem vê as tuas fotografias. Confesso que fiquei até arrepiado.
E depois, Constantine, Lisboa, Chaves ou Bragança que importa. São tudo cidades povoadas por seres humanos
Além disso, nós os portugueses temos tanto em comum com os habitantes do Norte de África. Partilhamos o mesmo passado romano. Quando os muçulmanos conquistaram a Península Ibérica, vieram árabes e bérberes que se instalaram nos territórios que são hoje e Portugal e Espanha. Depois com a reconquista cristã, muitos mouros fogem para Marrocos ou Argélia formando comunidades de Al-andaluces. Mais tarde, ainda, com a Inquisição, são os judeus portugueses e espanhóis que se refugiam no Norte de África.
Um abraço
Luís
As fotografias estão espectaculares, adora a perspectiva das coisas! fenomenal...
ResponderEliminarG.B.S.
ResponderEliminarConfesso que ainda não conhecia a sua Obra. Devo dizer que numa área que já poucas vezes me surpreende...conseguiu realmente captar a minha atenção pela positiva. Gostei da maneira como conseguiu transformar uma ruína numa Obra de Arte. Gostei também do enquadramento conseguido e da edição final de imagem. É sem duvida uma original e peculiar Obra. Ainda há quem diga que falta imaginação aos nossos Criativos! A sua Obra é prova do contrário. Para quando uma exposição em Almada? Aquele Abraço! Fernando Lopes
Espetáculo, tornar ruinas em arte e com isso misturar a fotografia para temperar ... é simplesmente muito bom! Parabéns Gastão.
ResponderEliminarSuperPluto