domingo, 21 de fevereiro de 2010

O Passeio dos Alegres


No tempo dos nossos avós, em que não havia shoppings, futebolmania e outros atractivos programas de fim de semana, ia-se passear a Sintra. 
Era o passeio dos alegres em que todas as famílias se transformavam em turistas, aproveitavam o ar puro da serra e maravilhavam-se com as magníficas residências, os sumptuosos palácios, os aprazíveis parques , monumentos e museus, a feira de S. Pedro, as queijadas e o Monte da Lua... eram dias em cheio... 

Anteontem fui passear a Sintra...vila milenar e palco de diversos episódios históricos, foi outrora um dos destinos preferidos da realeza, nobreza e alta burguesia. O seu micro clima é responsável pelos soalheiros dias e exuberante vegetação que torna a Serra de Sintra num autêntico museu botânico, uma paisagem enriquecida pelos palácios, solares e conventos, que vivem em permanente ambiente de nostalgia pelas memórias acumuladas e pela bruma que diariamente se instala naquela velha povoação. 
Sintra é uma das maiores autarquias do País, além dessa grande responsabilidade teve a sorte e mérito(?) ao ser galardoada pela UNESCO como património da humanidade...é um dos maiores centros de turismo do mundo, cerca de 80% do turismo português passa por aqui o que a torna inerentemente um dos pontos de honra da nação. 
 
 Deveria ser cuidada com esmero, todo o património arquitectónico deveria estar incólume , deveria ter uma estrutura hoteleira com melhores soluções, segurança reforçada, trânsito condicionado no centro histórico e sobretudo um exemplo para Portugal e para o mundo em termos de civismo e preservação...
 
Os monumentos mais rentáveis e visitados do País encontram-se ladeados de ruínas, como já foi exposto neste blogue o Chalet da Condessa d’Edla e todas as estruturas envolventes encontram-se em avançado estado de degradação, tendo como vizinho o Palácio da Pena, mas ao lado do Palácio da Vila está o defunto Hotel Netto, uma autêntica lacuna no plano hoteleiro da região e um verdadeiro atentado ao urbanismo, turismo e segurança!!!!
 Foi uma das ruínas mais perigosas que fotografei e o acesso é livre a quem quiser visitar o interior...atempadamente farei um post mais detalhado...
Numa propriedade contigua à da condessa d'Edla, encontra-se um antigo  chalet  em avançado estado de "decomposição", pertenceu ao infante D. Augusto de Bragança, duque de Coimbra,  oitavo filho de D. Fernando e de D. Maria II. Distingue-se pelas suas paredes feitas com pedras apanhadas nos terrenos circundantes. Uma vez que os descendentes da dita condessa construíram na Parede o Chalet das Pedras, podemos alvitrar onde foi a fonte de inspiração.  

Outro edifício curioso e com uma estrutura muito mais nobre é o palácio do Visconde da Gandarinha (pelo menos foi o que me disseram), um colosso em tamanho e com uma traça singular impondo a sua opulência aos curiosos transeúntes, que certamente se interrogam acerca da sua história e destino...

A poucos metros a caminho de S. Pedro encontramos uma antiga oficina de cantoneiros, uma casa portuguesa, com certeza... a sua traça empresta-lhe um ar digno e erudito como que a promovesse da sua humilde função....daria certamente um bom posto de turismo ou qualquer outra actividade que contribuísse para o desenvolvimento desta vila.

 Outra casa que merece toda a atenção e a devida homenagem e a “Vivenda Anna”, um chalet revivalista situado numa das artérias principais. Esta casa é ricamente ornamentada com elementos manuelinos, os painéis de azulejos estão quase completos, as peças de cantaria e colunas coríntias são de um raro requinte, os gradeamentos embora estejam enferrujados são ainda os originais. 

Teve como último locatário um jardim de infância que foi transferido por falta de condições, está abandonado à vários anos sem haver um projecto para o local...
 

 Um outro grave problema que deveria ser resolvido, é a garagem industrial na R. D. Francisco de Almeida, não só ameaça derrocar tornando-o num autêntico perigo público, como ofende a inteligência de qualquer chimpanzé que por ali passe... a sua volumetria permite a construção de qualquer projecto megalómano que o mais criativo arquitecto pudesse conceber...além de desperdício de espaço, mau ambiente urbano, atentado à saúde pública é também uma ode à burrocracia e inércia politica e financeira...
 
Em frente ao departamento de urbanismo da C.M. de Sintra está um cine teatro abandonado...pasme-se quem quiser... além da sua interessante traça este edifício poderia ser utilizado como ... hummmm, deixa ver.....hmmmm já sei...UM CINEMA!!! 
 O cinema mais próximo é na Beloura ou Cascais... será que não faz falta um em Sintra??? Como alternativas podia ser também um auditório, sala de conferências, salão de danças ou jogos, etc...
 

 Ainda no mesmo bairro quase junto ao viaduto do comboio e mesmo em frente a outro departamento da C.M. de Sintra, está uma outra casa em avançado estado de decomposição, embora seja  um edifício quase centenário, não é de todo um dos melhores exemplos de arquitectura desta vila, mas mesmo assim ficaria muito melhor se fosse reabilitado.

Na Av. Nunes de Carvalho apodrece lentamente um chalet bem curioso. Como está edificado num declive, a sua fachada embora tenha um respeitoso tamanho, as suas traseiras são muito maiores, os andares superiores assentam sobre um armazém com um pé direito descomunal, o interior derrocou parcilamente. 
 Uma vez mais entrei sem alguma dificuldade e foi também um dos locais mais perigosos que fotografei, encontrei também toneladas de lixo acumulado e muuuuuita roupa velha, por uma questão de segurança não me aventurei nos pisos superiores.

A estrada entre Colares e Azenhas do Mar é uma das zonas de veraneio mais típicas e cobiçadas pela média burguesia, é um conjunto de moradias que dá forma a um bairro que é um espelho sócio financeiro que Portugal atravessou pela segunda metade do  século XX...gostava de ter uma casa por estes lados...

As Azenhas do Mar era o local preferido de uma abastada elite, ali se construíram os melhores chalets e intervieram os mais ilustres arquitectos, contribuindo para uma paisagem com um profuso património arquitectónico.
 
 Desde as casa mais humildes às mais nobres residências todas elas obedecem a correntes de arquitectura portuguesa, as ruínas neste caso não olham a estratos sociais...
 
Começando pela Vivenda Rafaela, riquíssimo palacete de Alberto Totta já anteriormente focada neste espaço, o Casal Três Marias do Monteiro Milhões,  a casa dos Tavares Rodrigues, o Amorzinho, casa de pescadores, casas de vila...
 São atentados urbanos e turísticos a que ninguém pode ficar indiferente...
 
Estará amaldiçoada esta zona??Que fantasmas atormentarão estas casas?? Gostaria de ressuscitar as suas memórias e para isso conto sempre com a vossa colaboração. Sei que há muitas mais para documentar, o apelo mantém-se aos leitores no sentido de me enviarem sugestões e todos os segredos que estas ruínas encerram...
Assim tenha mais elementos farei posts mais completos das casas hoje representadas...

5 comentários:

  1. Boa reportagem. Um documento a merecer publicação nalgum periódico para referência futura. Muito do que aqui está vai-se perder.
    Cumpts.

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  2. Um trabalho fantástico o seu. Merece toda a atenção das altas instâncias.

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  3. Fiquei espantada com o v/ trabalho.

    As v/ fotos estão magníficas e objectivo da v/ divulgação 5estrelas.

    será que já vieram em busca de ruinas em Vialonga , conselho de Vila Franca de Xira, existem muitos, mas creio que mais urgente serão mesmo a Quinta do Duque (Granja de Alpriate) e o Edificío do Antigo Sanatónio, na estrada do sanatório, mesmo em Vialonga...

    Obrigada, gostei mesmo muito

    Cristiana
    http://efeitocris.blogspot.com/

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  4. Uma destas casas é do Faria da Costa. Aquela que tem um arco, antes da que tem um painel de azulejos a caminho das Azenhas do Mar

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  5. É triste ver tanta obra de arte se perder assim. Algumas autenticas joias da Arquitectura. Será que em vez de se gastar milhões de Euros com a capital da cultura, não se poderia recuperar algumas obras de arte que ainda se conseguem recuperar? Ou será que isto não é cultura?
    Parabéns pelo vosso trabalho. Adorei. Obrigados

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