quinta-feira, 18 de abril de 2013

Fábrica da Chemina - Alenquer

A Fábrica da Chemina, tal como é commumente conhecida é mais uma agonizante ruína industrial que fere o coração a quem passa por Alenquer.
Além da sua magnífica estrutura ser um autêntico monumento é também um símbolo do estado da indústria portuguesa. Todos os dias se encerram unidades fabris que apenas contribuem para o desemprego e para alargamento deste projecto, e que em nada  dignificam Portugal como nação.
Todas as fábricas foram pólos de desenvolvimento social, local e nacional, representaram muitas vezes o melhor, levando o nome de um produto e elevando o nome de um país além fronteiras.
É difícil de explicar e conceber que locais que foram outrora prósperos, não passam hoje de uma recordação que constantemente nos lembram das grandezas de outros dias
Mas a dissertação já vai longa e vou-me cingir a esta defunta fábrica que fez parte da alegre história de Alenquer e que esperamos que volte em breve a fazer, pois o seu aproveitamento não só é possível, como é o desejo de toda esta povoação.
A Companhia de Lanifícios da Chemina, foi assim chamada por ter sido erigida no local onde havia uma quinta com o mesmo nome, e a sua construção deve-se aos esforços de dois irmãos que a idealizaram e realizaram o sonho industrial de ali criarem uma fábrica de fiação.
Foram José Joaquim e Salomão dos Santos Guerra os seus mentores, ambos com experiência profissional no ramo, adquirida nas fábricas da Romeira e na do Meio, na Arrentela, conselho do Seixal.
Em Abril de 1889 lançaram a primeira pedra desta monumental empreitada que ficou concluída em Junho do ano seguinte, um hercúleo feito que só foi possível tendo recorrido às novas técnicas de construção da era da arquitectura do ferro.
A sua traça é da autoria de José Juvêncio da Silva, um insigne arquitecto que é também o responsável pelo edifício dos Paços do Conselho de Alenquer. Pela sua fenestração e aproveitamento dos recursos naturais este imóvel terá sido concebido com o conceito de arquitectura sustentável, muito antes deste ter a conotação actual, era um edifício inteligente de então.
A  força motriz  era gerada por uma máquina a vapor, uma opção que sempre mantiveram pela sua proximidade do rio e lhes garantia uma energia constante, fácil, ecológica e económica.
No início da sua laboração, imediatamente se constituíram cerca de 200 postos de trabalho empregando operários de ambos os sexos, que davam vida aos diversos produtos ali elaborados. Estes eram essencialmente produtos derivados de finas lãs que rivalizavam em qualidade com os seus concorrentes estrangeiros.
Pelo sucesso conquistado no mercado, atraíram investidores e rapidamente a empresa se tornou numa sociedade anónima, passando uma boa fatia do capital para as mãos de banqueiros e industriais do Norte.
Eram agora os novos donos Cândido Ribeiro da Silva e Carlos José Alves, embora os irmãos Santos Guerra se tenham mantido ao leme da companhia, chefiando os departamentos de acabamento e tecelagem, tal como a gerência da própria fábrica.
Em 1940 passa a ser gerida por um sobrinho, Isidro Castro Guerra que mantém a produção até 1948, altura em que é vendida e passa então a ser conhecida por Fábrica Barros, Lda.
Tendo sido interrompida a produção entre 1949 e 1952, até ser novamente vendida, reequipada e renomeada, passando então a chamar-se Empresa Lanifícios Tejo, como ainda consta na sua fachada.
Trabalhou em pleno até 1977, empregando 160 funcionários e entrou em declínio fechando definitivamente em 1994, tinha apenas nessa altura, 15 a 20  postos de trabalho activos.
Como um mal nunca vem só, em 2000 deflagrou um grande incêndio que consumiu além dos interiores, todo o seu espólio e memórias, transformando este edifício numa ruína gigantesca cujas paredes teimam em manter viva uma glória de Alenquer.
É hoje propriedade municipal e os vários projectos para a ressuscitar não foram levados a cabo por falta de verbas, embora hajam empresas interessadas neste imóvel o risco da sua alienação poderá ser prejudicial para toda a vila de Alenquer.

Fonte : http://alenquer-tradepatri.blogspot.pt/2008/02/fbrica-de-lanificios-chemina.html

6 comentários:

  1. Linda postagem. Parabéns!
    O prédio é maravilhoso e ainda dá pra fazer um bom projeto de revitalização, isto é, se suas estruturas não estiverem comprometidas - acho que não, pelas imagens.

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  2. A fábrica tinha uma muito bonita estructura!!

    Pena que nem tivese ainda nem o teto nem as máquinas no interior..

    Belas fotografias!

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  3. Excelentes fotografias, com um texto da mesma qualidade.
    O projecto Ruin’arte “dignifica Portugal como nação” e é um real grito de alerta para que esta "geração não perca o que todas as outras legaram”.
    Obrigada e parabéns!
    MSK

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  4. Ainda bem que o Gastão vai chamando a atenção destes casos de abandono do património que pontuam pelo País fora, pois o seu blog tem cada vez mais eco em Portugal e já aqui vimos que perturba alguns gestores públicos.

    Abraços

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  5. Caro Gastão,

    Tive conhecimento deste seu projecto através do blog "As Velharias do Luís" do Luís Montalvão.
    Dou-lhe desde já os meus parabéns, pois os seus artigos, e excelentes fotos, são um grito de revolta contra a incúria que teima em persistir relativamente a grande parte do nosso património.
    Este artigo em especial fez-me deixar-lhe um comentário, na medida em que sou Alenquerense, e olho todos os dias para essa pena viva que é a antiga fábrica da Chemina.
    Esse edifício faz parte das minhas recordações de infância. Quando ia para a escola tinha de passar junto às instalações dessa fábrica, e via constantemente os seus operários e operárias envergando batas azuis, chegando para os turnos, ou simplesmente aproveitando as pausas para descansarem, ou comerem alguma coisa. Na década de 70, com 10 anos, e frequentando à data o antigo 1º ano do Ciclo Preparatório, recordo-me de ter visitado a fábrica no âmbito de uma qualquer visita de estudo. Na época achei muito giro o processo de fabrico dos tecidos, mas fez-me muita impressão o calor que se fazia sentir em certas zonas, bem como o vapor de água que circulava no ar.
    Da varanda da casa dos meus pais, assisti horrorizada à sua devastação pelas chamas. Sinceramente nem sei como aquelas paredes têm aguentado tantos maus tratos.
    Desejo veementemente que um dia toda aquela beleza arquitectónica possa voltar a fazer parte do dia a dia da população desta Vila!

    Abraço!

    Alexandra Roldão

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