segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Palácio da Fonte da Pipa - Loulé

Por me ter deslocado recentemente ao Algarve para fotografar a fabulosa "Casa do Pai", cujo projecto pretende torná-la na mais faustosa casa algarvia do século XXI, onde nada se poupou em requintes de "bemvadez" que fará corar um xeique das arábias...
Aproveitei  a oportunidade uma vez que me encontrava na vizinhança, para fotografar também a mais faustosa casa do Algarve do século XIX... o Palácio da Fonte da Pipa, em Loulé... foi um dia em cheio!
Quando iniciei este projecto, pesquisei no cibernético espaço alguns potenciais candidatos que justificassem uma ruinosa reportagem, e encontrei um manancial de oportunidades que exigiam um  enorme esforço logístico pela distância a que se encontravam...
Fui ainda várias vezes avisado por leitores deste nosso blogue da existência desta autêntica pérola, este palácio era um dos mais apetecidos troféus que finalmente consegui conquistar.
A sua imerecida fama prende-se essencialmente em histórias de assombração, tendo sido alertado várias vezes por populares, dos "perigos" que poderia encontrar, mas ninguém me avisou do vislumbre que iria testemunhar...
Segundo se conta, à laia de mito urbano, a filha de um proprietário terá falecido na quinta e há quem a tenha visto à janela da torre, na minha opinião é mais uma história da carochinha para afastar os curiosos, sem ter algum fundamento...
Há também outra versão que terão sido sepultadas na propriedade, vítimas da gripe espanhola, a tenebrosa pneumónica nos anos de 1916-18, e hoje ainda deambulam as suas penadas almas por este aprazível local.
À semelhança da "Casa do Pai", o seu construtor não se fez rogado em conceber uma residência digna das mil e uma noites, materializando a sua cultura e fortuna através de uma opulenta morada.
Foi em 1875, após uma viagem pelo Norte da Europa, que Marçal de Azevedo Pacheco se inspirou, e aqui erigiu a sua casa de sonho, com a intenção de receber a régia visita de El Rei D. Carlos, que acabou por ficar em Estói.
Marçal de Azevedo Pacheco, foi um homem de estado, Presidente da C. M. de Loulé, deputado do Partido Regenerador pelo circulo de Macedo de Cavaleiros, Par do Reino,  Sub-Director Geral do Ministério da Justiça, Presidente do Tribunal do Contencioso Administrativo do distrito de Lisboa, entre outros importantes cargos, foi também tio de um dos nossos melhores ministros das Obras Públicas, o Engº Duarte Pacheco.
Esta propriedade, foi na altura crismada como Quinta da Esperança, embora esse nome nunca tenha vingado por este local já há muito ser conhecido por Fonte da Pipa, por aqui haver uma antiga fonte que saciava os mais sedentos louletanos.
Para executar com a arte necessária tão elaborada obra, cumprindo rigorosamente cada cómodo como uma verdadeira obra prima de pintura decorativa, foi contratado para o efeito, José Pereira Júnior (Pereira Cão).
Pereira Cão era um pintor e ceramista que já tinha dado provas de raras habilidades artísticas, aquando a sua intervenção no Real Palácio da Ajuda, restaurando e decorando-o, pela ocasião do casamento do príncipe D. Luís.
Pelo esmero da construção e decoração, o tempo decorreu sem pressas e a obra estava ainda inacabada no ano de 1896, quando faleceu o seu ilustre proprietário vitimado por uma grave doença, nunca chegando a tirar partido deste local de sonho.
Foi em 1920 adquirido por Manuel Dias Sancho, um abastado cidadão de S. Brás de Alportel, que detinha na altura uma casa bancária com o seu nome. A casa foi então acabada tendo sido introduzidas melhorias ao projecto inicial.
A decoração dos jardins e a electrificação do palácio foram então a sua prioridade. Seguindo um estilo  inspirado nos mosaicos de Gaudi, utilizando conchas, porcelanas, cascas de caracol entre outros elementos decorativos, como incrustações nos bancos e mobiliários de jardim.
A crise financeira que abalou o mundo em 1929, e a crise política que na altura grassava em Portugal levou muitas empresas à insolvência tendo feito graves mazelas nos bolsos de muita gente, ditando a sorte deste senhor, cuja fortuna foi severamente abalada.
Viu as suas propriedades serem confiscadas para cobrir os prejuízos da sua casa bancária, e esta ser absorvida pelo Banco do Algarve, tal como o palácio aqui retratado.
O palácio foi então adquirido a este banco, por Francisco Guerreiro Pereira, um rico proprietário algarvio que edificou em 1935, na cidade de faro, o Palacete Guerreirinho, um dos mais belos projectos de Norte Júnior.
A dedicação a uma das suas maiores paixões, resultou num grande contributo à Fonte da Pipa,  o enriquecimento do jardim com plantas exóticas que ainda hoje existem e subsistem, fazendo do matagal envolvente uma notável colecção arbórea.
Por morte deste último proprietário, em 1948 a quinta foi herdada pelo seu filho primogénito, o Dr. António Guerreiro Pereira Júnior, um eminente médico de Faro, que a manteve até 1981, ano em que a vendeu à sociedade "Quinta da Fonte da Pipa, Urbanizações, Lda".
Esta sociedade idealizou para aqui um projecto cultural e centro de congressos, onde chegaram a acontecer algumas exposições e outros eventos, que tiveram na altura um sucesso imediato. Para poder explorar a propriedade em pleno, foi proposto um projecto que previa a construção de uma série de infra-estruturas no terreno de 30 hectares, o que ainda não teve aprovação desde 1981... desde então que os actuais proprietários impacientemente aguardam que o seu avultado investimento consiga gerar emprego, cultura, e quiçá alguns euros... enquanto assistem impotentes à degradação desta magnífica casa.
Até que aconteça algo neste País à beira mar abandonado, muitas jóias como estas estão condenadas ao marasmo e à ruína. Há autênticos "burrocratas", que ou não querem ter trabalho, ou não querem ver Portugal a prosperar.


Fonte : http://designersdeinteriores.blogspot.pt/2008/09/palacete-da-fonte-da-pipa.html

22 comentários:

  1. Acompanho há algum tempo o RUIN'ARTE e fico sempre maravilhado com os trabalhos apresentados. Mais uma vez isso acontece ao mesmo tempo que o desencanto, pela dura realidade do país que não estima o seu património arquitectónico devidamente.
    Tenho também este bichinho de registar em fotografia peças desta natureza, mas nada com a qualidade patenteada aqui.
    Bem haja, as melhores felicitações.

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  2. Caro Gastão

    Fiquei maravilhado Gastão. Que casa espantosa. As pinturas murais são tão frescas e tão adequadas ao clima algarvio. Ainda está para ser feita uma história dos interiores em Portugal do século XIX, em particular do fin-de-siécle. E se algum dia alguém quiser fazer esse trabalho de investigação terá que conhecer esta casa ou muitas outras que já mostrou aqui no blog. O problema é que muitas das casas num futuro próximo já terão desaparecido. Restará talvez o seu blog como testemunho único da decoração de interiores nos finais do XIX, inícios do XX de muitas casas portuguesas.

    Um abraço

    As suas fotografias são espantosas

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  3. Bom dia Gastão, fiquei deliciada com as fotografias, mas ainda mais por ver esta obra que tanto gosto e de que lhe falei aqui retratada. Ainda ontem à noite enquanto saía do trabalho vi a escuridão do casarão iluminado pela lua que agora cresce.
    Não tinha a noção que estava tão danificado e com tantas infiltrações, gostava tanto de puder fazer mais por este edifício que tem tanto para dar e um lugar lindo para se estar e conviver.
    Muito obrigada!!!! por este teu projecto tão dinamizador e repleto de conhecimento.
    As histórias que conta acerca do casarão é que o deixaram no estado em que se encontra, mitos das gentes e mais uma pérola da nossa terra deixada ao abandono.
    Arrepiei-me ao ler este post, mas adorei e espero que daqui a muitos anos este espaço tenha o respeito que realmente merece.
    Abraço apertado!!

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  4. Este perto de minha casa, ao fotografar a "casa do Pai", nesse projecto foi gastado tanto dinheiro que até ficou chocada!!!
    Abraço e excelentes registos :)

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  5. Como tudo neste país: "mais uma pescada de rabo na boca". Como uns não fazem os outros não se mexem! Sem comentários...

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  6. Quando os monumentos nacionais não são conservados, o destino deste palacete parece óbvio...
    Não sendo um expoente máximo da arquitectura nacional e internacional é um elemento importante para a história portuguesa e, principalmente, louletana. Foi construído pelo irmão de Duarte Pacheco, Marçal Pacheco, para receber o rei D. Carlos aquando da sua visita ao Algarve. No entanto o rei preferiu ficar alojado no palácio de Estoi.

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  7. Não sendo um expoente máximo da arquitectura nacional e internacional é um elemento importante para a história portuguesa e, principalmente, louletana. Foi construído pelo irmão de Duarte Pacheco, Marçal Pacheco, para receber o rei D. Carlos aquando da sua visita ao Algarve. No entanto o rei preferiu ficar alojado no palácio de Estoi.

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  8. Sou do Algarve, mais propriamente da zona de Quarteira (freguesia de Loulé), e sempre que passava na estrada em frente ao Palácio da Fonte da Pipa ficava curiosa. Como aluna de Arqueologia da universidade do Algarve e como tenho algumas cadeiras de Património Cultural, e é claro o meu grande amor por casas abandonadas, resolvi, com uma colega, ir visitar esse palácio, sem saber das historias de fantasmas! O que aconteceu foi que fiquei maravilhada com a arquitectura do palácio, as pinturas, o jardim que embora esteja mesmo abandonado, é lindíssimo! É de muita pena minha que este sitio esteja ao abandono, porque realmente só quem esteve lá dentro é que se apercebe do valor cultural que o espaço tem!
    Adorei as suas fotos, também tenho uma paixão por fotografia, e fiquei fã deste blog, e irei continuar a segui-lo!

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  9. Excelente e como não conheço a casa, fiquei deliciada com o que li.
    Encontrei este seu blog numa pesquisa que fazia para um grande senhor que adora enigmas e pôr os seus habituais amigos da blogosfera a pensar , a procurar, a comentar...
    Adorei ler o que aqui escreveu e lamento que esteja ao abandono o que de melhor temos por cá.
    Vou continuar a espreitá-lo.
    Cumrimentos

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  10. Degradante ... a maneira como tratam as coisas bonitas e valiosas em Portugal

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  11. Bom adorei a visita pelo seu blogue
    e esta quinta que quase sempre avisto, tem o fascínio do mistério?
    que almas penadas lutarão para a manter só para elas?
    entretanto poderia colocar algumas das suas fotos num artigo do meu blogue? poderia ter essa autorização da sua parte?
    fico grata pela atenção
    escrevo em francês por dar a conhecer alguns assuntos que são do meu conhecimento bastante limitado, mas mesmo assim sempre se pode fazer alguma coisa quando queremos!
    muito bom dia para si
    abraço
    Angela

    http://portugalredecouvertes.blogspot.com

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  12. Claro que se conseguir a sua autorização, colocarei link do seu blogue informando que as fotos são suas.
    até logo

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  13. CONHEÇO, TAMBEM FIQUEI MARAVILHADO COM O QUE VI . PENA É QUE ESTEJA ABADONADO E VADALISADO , PENA , TRISTE

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  14. Se pretender informações corretas sobre o Palacete entre em contacto comigo.

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  15. Nao conhecia fiquei maravilhada com as fotos mas triste por ver que niguem pode fazer nada com esta realidade espero um dia ver este placio recuperado.


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  16. Esta reportagem fica para a história.
    Com lágrimas nos olhos vi hoje o palácio arder por completo...

    Que tristeza, que mágoa. Muito grata por ter preservado no tempo um pouco da nossa história.

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  17. E aí está no que deu a posição das entidades ditas oficiais e competentes...
    Agora que se perdeu todo o riquíssimo recheio decorativo, o que sentem essas mentes inúteis ?

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  18. Querido Gastão,

    Espero que a minha mensagem chegue até si.
    Hoje o palácio esfumou-se no céu, ardeu todo ficando só a fachada, todo o seu interior foi comido pelas chamas.
    Aqui ficam os teus belos registos, que irão eternizar este lugar que hoje desapareceu.

    Com tristeza, um grande abraço
    Sairaf

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  19. Boa noite, sou do concelho de Loulé e sempre tive muita curiosidade sobre esta mansão. Hoje fiquei com uma tristeza muito grande por saber que tinha ardido e que pouco conseguiram salvar apesar dos esforços. Ao ler a sua reportagem com fotografias a demonstrar tal beleza, ainda me deu mais tristeza, mas agradeço por me mostrar uma relíquia que mais uma vez o estado deixou morrer.
    Obrigado
    Carla Lourencinho

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  20. Muito triste, soube que ardeu hoje :(

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  21. este como outros edifícios de relevo, cairão por terra, graças á gula, inveja, ignorância e acima de tudo desleixo e incompetência, realço o bom trabalho fotográfico do amigo Gastão

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