quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O Hotel Serra da Pena ou Águas de Radium - Sortelha


Esta aventura foi mais um pequeno desvio de itinerário de uma ruinosa viagem de trabalho por terras do norte. Há muito que  devia uma visita ao Hotel Águas de Radium, foi quase como uma peregrinação...
Já tinha visto imagens do local e a sua arquitectura é bastante interessante, prometendo bons enquadramentos e oportunidades fotogénicas... não me enganei...uma vez mais excedi a quota de produção exagerando no numero de fotografias, o que me vai obrigar a dissertar, uma vez que a história deste edifício não é tão rica como a quantidade de imagens que proporcionou.
Uma vez mais fui bem acãopanhado pelo Edgar, o que já quase se tornou numa marca deste projecto e dá uma certa popularidade sacanideo...mas desta vez também convivemos com morcegos e não colaboraram como gostaria, embora a sua presença tenha sido quase constante no interior.
 Ao entrar na propriedade e após cumprir poucas centenas de metros, deparamos com um engenho a vapor da era industrial...um verdadeiro “Rust in Peace”, que aproveitei para enriquecer essa colecção.
Este complexo é um núcleo de arquitectura com vários pavilhões e recantos que um hotel desta dimensão requeria, tornando-se num sem fim de fotogénicos pontos de vista. Tinha noventa quartos e certamente um apoio logístico a condizer com a sua envergadura, o que terá sido a sua ruína... 
A traça destes edifícios é revivalista medieval, o que lhe dá uma boa dose de romantismo fazendo-nos imaginar um ambiente “wagneriano” e viver velhas fantasias...
 
A fachada é sobranceira a uma “pedreira” de onde poderia ter ido buscar alguns dos blocos de granito que compõem a sua estrutura e de onde se ergue com imponência.
Os edifícios que circundam o hotel foram intervencionados recentemente e há locais onde o projecto parece inacabado, o que revela que houve um parco investimento e a intenção de investir no local, mas certamente a crise  terá sido uma vez mais a desculpa para fechar a torneira a esta mina de águas milagrosas.
Por ser uma construção relativamente recente, a sua história deveria estar mais bem documentada. Curiosamente não consegui apurar a sua data de construção, nem tão pouco o arquitecto ou engenheiro que o conceberam, tal como há uma lenda quanto a seu fundador...nem isso há certezas, até a data de encerramento é uma incógnita...

A sua edificação é romanticamente ilustrada com uma história triste com final feliz. Remonta ao início do Séc XX e é devida a Don Rodrigo, um conde espanhol que tinha uma filha doente e que aqui encontrou a cura para os males que padecia, posteriormente edificou este “castelo” termal como acto de gratidão, quase como quem erige um santuário... porém a exploração da mina é posterior a essa data, o que põe de parte essa hipótese.
Outro “mistério” que esta ruína encerra é a hipótese de Marie Curie aqui ter estado durante quatro meses para estudar a radioactividade da mina, porém em nenhuma biografia dela há alguma passagem pela nossa pátria...
Outra dúvida com que fiquei é o teor medicinal de água radioactiva que é descrita como uma espécie de “banha de cobra” que serve de cura milagrosa para a maior parte das maleitas conhecidas, uma vez que a radioactividade é especialmente nociva...
Mas nada disso é corroborado idoneamente e torna-se curioso haver tantas dúvidas sobre um passado tão recente, o que nos deixa pensar sobre o desleixo que teimamos em não registar a história. 
Ao descurar a biografia de qualquer episódio ou protagonismo “mundano”, estamos a perder elementos fundamentais do nosso passado, o que nos tornará num povo sem memórias e sem glórias. 
Mas a sua história pode ser mais bem explicada aqui: http://www.aguas.ics.ul.pt/guarda_cpena.html , o que me irá libertar de mais uns enfadonhos parágrafos e divagar devagar sobre outro grave problema que nos torna mais pobres...
Como se pode concluir pelas reportagens deste blogue, uma boa parte do País está votada ao abandono e o problema já vem de muito longe. O centro de Portugal é precisamente o seu coração e está quase parado de marasmo desde o tempo das descobertas.
Foi nos Secs. XV e XVI que se deu o primeiro grande êxodo em direcção à capital e ao litoral. Atraídos por trabalhos mais lucrativos que o comércio das índias proporcionava, tal como o fausto que Lisboa representava na época, numerosas famílias abandonaram o interior e desde então essa tendência nunca mais se reverteu. 
Com pesado prejuízo para todos nós, e sobretudo para as populações locais, há inúmeras propriedades abandonadas não por falta de vontade, mas por falta de rentabilidade.
 
Por muito atractivo que seja o local e que o investimento necessário para revitalizar uma estrutura desta envergadura possa parecer  viável, a sua rentabilidade será sempre posta em causa pela quantidade de turistas e de meios que se recusam a abundar por esta idílica zona.
Eu sei quem em tempo de férias o Algarve é “campeão de audiências”, sei também que Lisboa sonega dois terços do orçamento do estado para o turismo, o que se torna uma luta inglória para todo o resto de Portugal. É muito difícil subsistir nestas condições...
Se observarmos a nossa história, houve em vários reinados um problema de povoamento que foi sábiamente e oportunamente resolvido. Recorrendo a incentivos fiscais, forais, feiras, reestruturações e novas edificações, conseguiram-se fixar populações que dinamizaram o País e consolidaram-no como nação.
O interior de Portugal é onde reside o seu mais profundo âmago, se considerarmos que Viriato se refugiava nos Montes Hermínios  e que era aqui parte da Lusitania,  com facilidade se conclui que a riqueza natural desta zona permitia ter a melhor qualidade de vida.

Como não há “senão sem bela” e por não haver muito “progresso” neste abandonado paraíso regional, a maior parte dos locais está quase como na idade média, o que os torna além de muito mais aprazíveis, em autênticas “cápsulas temporais” que conservam todo o seu encanto primitivo convidando-nos a demorar e morar por aqui...
Uma vez mais se impõem pertinentes questões...
Porque é que tão encantadores cantos estão tão desencantados??Porque é que este Portugal é quase desconhecido de todos os itinerários turísticos?? Porque não o exploram e a todos os seus potenciais naturais e históricos?? Porque não fixam populações e não criam vias de comunicação e infra-estruturas que permitam viver com os cuidados básicos de saúde, trabalho e instrução?? Porque fecham escolas e maternidades?? Será que o TGV passa por perto??
Se D. Afonso Henriques voltasse um dia saberia o que fazer...e ganharia uma depressão pelo estado da nação ... 

domingo, 8 de agosto de 2010

Tributo ao Projecto Ruin'Arte


O Sandro Sobral é um novo amigo do Ruin'Arte. Trabalha em reportagem de vídeo e é um competente profissional. Tive o prazer de o conhecer pessoalmente e vivemos bons momentos...é um tipo às direitas!

Dedicou a este projecto uma dose massiva da sua arte e boa vontade com a montagem desta apresentação... obrigado Sandro, e a todos vós que seguem este espaço com atenção.

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