quarta-feira, 26 de junho de 2013

A Fénix... adeus Lídia...

Hoje apagou-se uma LUZ na Terra, enquanto se acendeu mais uma LUZ no Céu...
Tivemos o privilégio de conhecer a Lídia e o Nicolas numa exposição Ruin'Arte, e desde então nos tornámos grandes amigos...
O destino tem coisas que ninguém consegue explicar, e a maior calamidade das suas vidas proporcionou-lhes além de ensinamentos, novos horizontes e amizades.
Era um casal pleno de felicidade, impregnados em cultura e ambiente musical vivendo em harmonia diária num paraíso terreno.
Tinham um verdadeiro Lar onde acumulavam recordações de uma vida, que com todo o empenho mantiveram no seu melhor estado.
Eram o Yin e o Yang na sua acepção mais fiel,  eram o amor e o humor na sua forma mais brilhante... ali a luz era constante e radiante...
Este luminoso casal era a bondade e a nobreza encarnada em forma humana, cuja beleza emanava radiosamente e graciosamente com a naturalidade de uma manhã de Primavera.
Tinham a perfeição do seu lado, além de um pesado Karma que lentamente os consumiu, e conduziu a Lídia ao etéreo plano para onde todos nós iremos um dia passar...
O fogo que devastou a vossa casa, foi o mesmo que devorou o teu corpo numa sofreguidão e sofrimento abrupto e bruto... mas a vossa fé ficou de pé.
Como Mozart compôs um dia  e nós cantámos com alegria numa breve viagem que para sempre lembrarei , tal como lembrarei a inteligência e serenidade com que conduziste o teu destino...
Das klinget so herrlich, das klinget so schön! Tralla lala la Trallalala!
Nie hab ich so etwas gehört und geseh'n! Trallalalala Tralla lalala.
A tua hora estava marcada e cumpriste com rigor todos os teus propósitos, mas partiste cedo, pois ainda agora tinhas chegado sem ter demorado, mas foi o suficiente para ser marcado.
Tal como a Fénix que desejavas para o teu lar, consumido pelas chamas que lavraram a tua alma...
 
...hás-de um dia renascer com a força e fulgor redobrados para nos ensinares a viver melhor...
Espero ter então o benefício de te reencontrar e partilhar novamente a tua amizade...
Que a LUZ ilumine o teu caminho, com o cuidado e carinho com que cuidaste dos teus, que ascendas aos céus onde mereces estar em paz...
Adeus Lídia, a nossa amizade será eterna...
Nicolas... um grande abraço neste momento difícil.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Quinta da Marquesa - Azambuja

 
Esta foi mais uma reportagem na alegre companhia do meu ruinoso amigo, Jorge Gil de Almeida, ambos conhecíamos a existência desta quinta e ambos ficámos surpreendidos com este desolador e encantador cenário.
A Quinta da Marquesa, é uma típica propriedade rural situada na Azambuja, as suas ruínas lembram a história desta terra como um marco na agricultura portuguesa, que também já conheceu melhores dias.
Era uma propriedade nobre, cuja índole agrária se espelha na sua simples traça maneirista, e a distancia das faustosas residências de então, sem no entanto lhe retirar importância e protagonismo.
Da sua estrutura faziam parte além da residência, cavalariças, um pombal, armazéns e uma capela, que era consagrada a N. Sra. do Desterro, e de onde, até ao final do século XVIII se realizava pela Páscoa uma romaria popular.
Por cima da entrada da capela,  encontra-se uma lápide encimada pelos três brasões da família (Castro, Mascarenhas e Meneses?), denunciado os seus proprietários e as vitalícias obrigações para com esta casa, onde (quase) claramente se pode ler:
"D. Isabel de Castro, Filha de Fernão Teles instituiu este morgado dos Mascarenhas no ano de 1618 com a obrigação de se pagar dele 30 mil réis: 25 mil réis para uma missa quotidiana (diária) em Alcácer do Sal, 3 mil réis para  fábrica, e 2 mil réis para a Misericórdia de Alcácer, por ser administradora da capela; 18 de Junho, ano de 1621."
Quando iniciei a pesquisa sobre a quinta, esta era descrita como tendo sido propriedade da casa de Aveiras e Vagos, levando-me a crer que a dita marquesa era desta última casa.
No entanto, como se podia ler na supra-citada lápide era referido o morgadio dos Mascarenhas, que por esta data não eram ainda marqueses de Fronteira, levantado cada vez mais dúvidas sobre o nome da propriedade, quem era afinal a marquesa?
Contactei então a Fundação de Fronteira e Alorna, herdeira desse morgadio, para ser elucidado através dos seus ancestrais arquivos, tendo-me prontamente e simpáticamente sido facultadas  todas as informações...
 
...afinal a propriedade é Lafões, e é a Marquesa de Arronches que empresta o nome...

Começa então assim, a história:

Isabel de Castro, filha de Fernão Teles de Menezes, 7º senhor de Unhão, casou com D. Nuno Mascarenhas, senhor de Palma.
Por sua vez, seu filho D. António Mascarenhas, conde do Sabugal, (daí o morgado dos Mascarenhas) casa com uma senhora igualmente chamada D. Isabel de Castro, cuja filha D. Mariana, se casa com Henrique de Sousa Tavares da Silva, 1º marquês de Arronches, 3º conde de Miranda do Corvo e 28º senhor da Casa de Sousa,  dando então o nome à Quinta da Marquesa...
Sua filha, Maria Casimira de Sousa, nascida em 1672, vem a casar com Carlos José de Ligne , um nobre flamengo, Príncipe do Sacro Império e que em Portugal pelo casamento foi 2º Marquês de Arronches e 5º Conde de  Miranda do Corvo.
Deste casamento foi gerada D. Luísa Casimira de Sousa Nassau e Ligne, elevada por D. João V, a Duquesa de Lafões, tendo-se casado com  D. Pedro Henrique de Bragança, neto ilegítimo de D. Pedro II que adopta o mesmo título.
Desde então que esta e outras magníficas propriedades nesta zona se mantiveram na família, sendo ainda pertença de um dos seus descendentes.
Já no século XX, a quinta era utilizada como apoio à quinta da Bafoa, outro latifúndio da casa de Lafões anexa a esta, que aqui refugiava o gado em época de cheias.
 
Foi aqui também estabelecida a primeira escola de toureio da Azambuja em 1948.
No pós 25 de Abril, e em plena reforma agrária, as forças populares que tinham ocupado a Herdade da Torre Bela, também propriedade Lafões, tentaram subverter os empregados destas quintas, então alugadas a um outro empresário, e levaram segundo se conta, "uma valente carga de porrada"... tendo apenas ocupado esta quinta...

Agradecimentos:
- D. Nuno Geraldes Barba.
- D. Fernando Mascarenhas Cassiano Neves.
- D. Afonso de Bragança Mendes.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Quinta de Santo António da Juncosa - Rio de Moinhos

 
Foi numa radiosa manhã de Primavera que na boa companhia do meu ruinoso amigo,  José João Roseira, nos dirigimos à Quinta da Juncosa... que pelas histórias que contam, dever-se-ia chamar da jocosa...
Era uma reportagem que há muito tinha em vista, pois trata-se de uma quinta deveras comentada no mundo cibernético...
Dela se conta uma história que faz parte do imaginário popular e se tornou numa autêntica lenda...a lenda do barão das Lages e a sua assombração...
É uma história rocambolesca propagada em vários meios e não tem algum fundamento, uma asneira viral que se repete diáriamente contribuindo para a disseminação de uma mentira atroz...
E todos sabemos que uma mentira quando é repetida muitas vezes, facilmente passa a ser verdade...
Não entendo como é que se publicam tamanhas patetices sem sequer se corroborar se alguma fonte é fidedigna, e menos ainda entendo, como se dá crédito a tantas tretas!!!
Há depois variantes da mesma treta... cheguei a ler a mesma história situada no século XII, descrita num estilo trovadoresco , e já no século XX , tendo esta lenda sido até publicada num livro pretensamente sério e com laivos de história...
Quando hoje em dia a pesquisa é tão simples sem sequer ser necessário na maior parte das vezes levantar da cadeira...
Vamos então à lenda... um dia o dito barão das Lages, D. Luís de Lencastre Carneiro de Vasconcelos, 4.º Barão  deste título, desconfiou da fidelidade da sua mulher...
Como seria apanágio de um grande machão, decidiu prendê-la a um cavalo arrastando-a pela  aldeia até a ter morto... 
 
...depois de um momento de lucidez, caiu em si dando conta da atrocidade que tinha cometido e arrependeu-se, tendo posto fim à sua vida e à dos seus filhos, ficando eternamente errando o seu espírito pela quinta a assustar os incautos locais...
Li também uma reportagem num jornal diário, que além de contribuir para a propagação deste mito, fala ainda numa rica "mansão" com azulejos do Séc. XVIII e trinta mil hectares de terra... nada mais fantasioso e piroso...
É impossível haver uma propriedade nesta região cujo tamanho seja proporcional a trinta mil campos de futebol, seria certamente a maior propriedade da Europa e ainda para mais estaria abandonada...
O jornalismo barato e sensacionalista, demonstra além de falta de gosto, uma grande falta de cultura, e um artigo como este, revela a incapacidade de se informar e pesquisar, além de que o "jornalista", obviamente não sabe interpretar um espaço desta índole...
Agora os factos apurados... Segundo se pode consultar nos sites de genealogia, este senhor  faleceu no ano de 1933, e a sua mulher em 1955, os seus filhos tiveram descendência... o que deita por terra qualquer história de assassinato...
Se colocarmos o cenário no século XII, podemos também observar que a primeira baronia de Portugal, foi no reinado de D. Afonso V, além de que este título (Lages) foi atribuído pela rainha D. Maria II... logo também é treta!!!
Como se não bastasse, a descrição deste núcleo arquitectónico, também deixa muito a desejar... uma mansão é uma casa faustosa em todos os sentidos, com cheiro de novo-riquismo e exuberantemente projectada, nunca esta casa foi uma mansão... 
 
...quanto muito é um solar, caso seja onde o primeiro ramo desta família se tenha instalado, dando continuidade à sua linhagem.
Os azulejos que ainda resistem ao tempo e aos gatunos, têm um padrão seiscentista e foram fabricados nas Fábrica das Devezas em pleno século XX, são revivalistas e sem algum valor histórico... não são do século XVIII!!!
A torre "medieval", é também ela um revivalismo, tal como os telhados e tectos em caixão da construção primitiva da quinta, que desconfio ter apenas como originais, o soalho e as paredes...
Esta quinta é uma das primeiras da região e não consegui apurar a data da sua construção, embora tenha lido que é da era medieval, deixando à nossa consideração umas largas centenas de anos...
No entanto e a avaliar pelas molduras das janelas, que apresentam arcos contracurvados abatidos, poderemos alvitrar que será algures entre os séculos XV e XVI, afastando a hipótese do tal senhor feudal do século XII...
Mais fidedigna é a referência feita por Manuel Abranches de Soveral, na história da família Portocarreiro, denunciando a sua existência em pleno século XVI...
"D. Manuel da Cunha, legitimado por carta real de 10.5.1564, com geração num ramo de Cunha Ozorio, de Braga. A única irmã que casou, D. Maria da Cunha, fê-lo justamente com um irmão do marido de D. Helena, Gonçalo Sanhudo, e viveram no Porto e em Pedorido (Castelo de Paiva), onde ele faleceu com testamento de 23.4.1532, tendo sucedido à irmã D. Isabel Cardim no prazo de S. João de Rande, em Lagares. 
 
Tiveram um único filho, Antão Sanundo, que tirou ordens menores em Braga em 1532 e viveu na vila de Atouguia, onde instituiu um morgadio. Deixou um filho natural, o Dr. Francisco Álvares Sanhudo, corregedor do Cível de Lisboa, que lhe sucedeu. Gonçalo de Ozorio, o filho legitimado, foi como se disse abade de Stª Mª de Alijó, que em 1547 trocou por Stª Margarida de Lousada. 
 
Deixou dois filhos ilegítimos: Manuel de Ozorio, que sucedeu na quintã de Vau e casou em Amarante com Maria Ferreira vde Queiroz, c.g., e Guiomar de Ozório, que sucedeu nas quintas do Paço de Valpedre e de Piães, tendo casado com João Teixeira, senhor da quinta de Juncosa, no lugar da Ribeira, em Rio de Moinhos (Penafiel), onde faleceu viúvo a 11.4.1603, deixando herdeira sua foi filha única D. Mariana de Ozorio (que também aparece como Maria Teixeira de Ozorio), nascida cerca de 1550, que lhes sucedeu e casou no 2º domingo (sic) de Outubro de 1588, ib, com Gonçalo da Rocha, natural e cidadão do Porto (filho de António da Rocha e sua mulher Maria de Figueiredo, moradores em S. Nicolau da cidade do Porto), que instituiu a capela de Nª Sª da Graça na dita quinta da Juncosa, sem geração. Por testamento de 23.6.1624, D. Mariana deixou herdeiros seus primos «Jº e Manuel da Cunha, filhos de D. Helena de Ozorio»."
A avaliar pela a arquitectura da nova torre e pelo o lettering de um painel de azulejos, sou levado a ponderar que a quinta terá sido eleita no princípio do século XX como local de descanso para esta família, tendo sido alugada por altura do falecimento do barão das Lages em 1933...
Mas voltando à quinta e sua situação actual... segundo o testemunho de uma simpática e octogenária vizinha, há mais de setenta anos que a casa está devoluta, tendo sido as dependências e terrenos alugados a uma vasta família, que se entretêm a arranjar artimanhas para poder ficar com ela, impossibilitando os originais proprietários de tirarem partido de toda a propriedade, e condenando o futuro da mesma...
Creio ser esta a verdadeira assombração e maldição deste local, que todos os dias atrai a curiosidade alheia em busca de fortes sensações, como se pode comprovar por um auto-retrato desta equipa de ruinólogos, que mais se assemelham a dois espectros errantes...

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