quarta-feira, 31 de março de 2010

A Real Quinta de Caxias

A história deste palácio está intimamente ligada à casa de Bragança. Foi edificada por D. Francisco, Duque de Beja, terceiro filho de D. Pedro II e D. Sofia de Neuburgo e servia como quinta de recreio. Situada em Caxias, esta propriedade  torna-se única pelo grandioso jardim inspirado no seu congénere de Versailles, além de ser o único paço real à beira mar plantado.
 

 D. Francisco nunca o chegou a usufruir desta quinta, pois faleceu em 1742 tendo as obras sido concluídas apenas em 1832. A construção do palácio e jardins foram continuadas pelo rei consorte D. Pedro III e prolongaram-se por quatro reinados, tendo sido  e completada com a vizinha casa de Massarelos em 1845, esta serve hoje de sede à Fundação da Casa de Bragança. 

Foi frequentada por D. Maria I e D.Pedro III, D. João VI, D. Miguel l, D. Maria II e D. Fernando Sax Coburgo como palácio de Verão. Embora tenha tido um grande papel na vida social , a sua traça é pouco elaborada e não faz justiça à  relevante importância e riqueza dos seus ilustres proprietários. Os Jardins que  o servem são no ponto de vista arquitectónico muito mais ricos do que a casa. Estes além de uma elaborada planta e riquíssimo espólio de estatuária da escola de Machado de Castro, dispõem de uma grandiosa cascata e de um engenhoso sistema de rega que uma vez mais o valoriza como património arquitectónico paisagista.
 

O palácio pertence ao ministério da defesa, encontra-se hoje devoluto e em estado de degradação, faz parte de uma longa lista de imóveis a serem alienados pertencentes a esta instituição. Os jardins foram durante várias décadas tutelados pelo ministério da justiça e foram recentemente doados à CM de Oeiras que os tem recuperado com esmero e mérito, embora haja ainda um longo caminho a ser percorrido até a sua recuperação estar completa.
 
Fica no ar uma pergunta... será que este paço real pode ser adquirido "por quem der mais", deveria ser restituído aos originais proprietários que foram oportunamente espoliados por um estado republicano e democrático ou então aproveitado para bem de uma nação que ainda preserva alguns vestígios da sua história???

domingo, 28 de março de 2010

Aldeia das Broas

Deambulava eu por espaços cibernéticos à procura de mais ruínas, quando me deparei com este pequeno povoado a que chamaram Aldeia das Broas. Já tinha pensado numa incursão pelo interior do País para retratar algumas aldeias abandonadas, mas nunca pensei que existisse uma tão perto de Lisboa. 
 
Fiquei com uma imensa vontade de a visitar e oportunamente inclui-la nesta colecção. Aproveitei um favor que fiz a um amigo que me pediu  para transportar um móvel na minha carripana e com um desvio de poucos kms lá fomos a este ermo local.

Depois de o ter localizado no Google Earth ( 38º 53’ 08 N  9º 20’ 38 W ) aventurei-me para os lados de Almorquim onde fui atirado para a berma por um vândalo ao volante...Numa estrada tipo “cama de corpo e meio” e ainda por cima num dia de chuva vinha um acelera a tentar entrar para o Guiness e fui obrigado a sair da estrada para evitar uma “pega de caras”... o tipo nem abrandou...fiquei a saber que naquele vale encantado também não há rede de telemóvel pelo que tive de andar ainda uns bons Kms para poder telefonar a  um reboque...mas no fim foi divertido...
Depois dessa aventura lá fomos nós à procura da Aldeia das Broas... esta aldeia foi abandonada pelo último habitante em 1969 por ser demasiado isolada de qualquer posto de abastecimento primário, o que tornava a vida desta população numa tarefa difícil. Desde então que ficou parada no tempo, é como se estivéssemos  numa cápsula temporal em que os anos deixaram de passar, preservando o ambiente que ali se viveu ao longo de vários séculos.

 
Situada no concelho de Mafra, o coração da região saloia onde as memórias de um povo rural ainda perduram na seu mais genuíno conceito, subsiste ainda toda a estrutura de uma aldeia intocada pelo progresso... o ambiente que se vive nesta aldeia está entre o desolador e o encantador... 

 

Por um lado temos a sensação de um assombro pelos “fantasmas” que certamente erram entre as paredes das casas devolutas, por outro lado temos  a sensação de uma nostálgica alegria, impregnada em todo o espaço circundante que nos faz recuar a um remoto passado ainda presente no nosso imaginário.
 

Há referências à sua existência desde 1527 e a construção mais recente data de 1888, (ano em que nasceu Fernando Pessoa). A arquitectura das casas é tipicamente saloia daquela zona, são  construídas em pedra e  as mais recentes têm as paredes revestidas de reboco.
 
O facto desta aldeia estar tão preservada, deve-se ao mesmo tempo pelo seu isolamento. Por estar fora do alcance dos grunhos que gratuitamente vandalizam estes espaços, tem sido poupada a uma pior sorte  ...embora já lá haja um gaffiti, não há estragos maiores...
Encontram-se ainda bem conservadas todas as estruturas rurais de que este povoado dependia: a eira, o forno, os currais, uma adega, um lagar, o poço, são alguns dos vestígios aqui deixados que testemunham o dia a dia dos habitantes deste local. Há também no cimo do monte um aglomerado de pedras que formarão certamente um gigantesco puzzle de um moinho...
O cenário onde se encontra é simplesmente divino, a verdejante encosta onde está implantada tem uma magnifica vista sobre um vale encantado com todos os elementos que um feng shui necessita para ser perfeito.
Árvores várias, campos de cultivo, exposição solar q.b, um rio e linhas de água, fundem este pedaço num misto de património arquitectónico e natural, convidando-nos a visitar ,  a demorar e voltar sempre que necessitar de “carregar baterias”...
 A casa saloia :http://loures.com/?p=62

sexta-feira, 26 de março de 2010

QUINTA DA (des) GRAÇA - CRUZ QUEBRADA

Desde a primeira vez que fotografei este palácio, que tenho andado a tentar apurar a sua história, por isso adiei  este post para uma ocasião que reunisse as mínimas condições elucidativas sem ter de inventar muito...
A quinta da Graça pertence à Universidade de Motricidade Humana e é o que resta da sua defunta biblioteca. Foi vítima de um incêndio em 1993 que consumiu todo o seu interior, e desde então que aguarda um restauro...é a única certeza que tenho ...

Tudo o resto, e depois de vasculhar arquivos, blogues e sites diversos, emails  vários sem resposta, encontrei uma duvidosa e escassa informação:
Construída sobre o Convento dos Frades Gracianos, no século XVIII, a sua edificação é atribuída ao proprietário José Manuel Machado, armador marítimo. Esta marca de homem do mar está patente na muralha do lado Norte do edifício representando a proa de um navio.
 O palácio, quinta e terrenos envolventes foram expropriados em meados da década de trinta do século passado, aquando da construção do Estádio Nacional.

Descrita pelo Padre Figueira nos Trabalhos Literários como «(...) Digna desse nome pela formosura do palácio, um dos mais ricos dos arredores de Lisboa, e beleza da quinta, de bons arvoredos, jardim, estufa, lagos, pomares, tudo tratado com exemplar esmero», na sequência de um violento incêndio em 1993 veio a ficar quase em situação de abandono.
Não querendo por em questão a informação recolhida noutro blogue, os estilos arquitectónicos no Séc. XVIII foram entre o barroco , o neoclássico e o pombalino, o que choca com a traça deste edifício  marcadamente romântica, além de que tem uma lápide datada de 1860 com as iniciais FXM por cima da entrada. Para assumir que ambas as hipóteses são verdadeiras é forçoso admitir que esta é a terceira estrutura a ser erguida neste local...
Todo o palácio é um colosso de opulência. Pela sua arquitectura e pela sua localização é difícil passar despercebido, tal como é corroborado pelo Padre Figueira nos seus trabalhos literários. Fica sobranceiro ao vale do Jamor e tem uma vista que poderia ilustrar uma caixa de chocolates Regina.
A estrutura do edifício  é de uma dimensão incomum, tem três pisos com áreas de cerca de seiscentos metros quadrados por andar, a avaliar pelas medidas que tirei no Google Earth.
A simetria de todos os elementos da fachada dão-lhe um equilíbrio estético reforçado pela distribuição de portas, janelas e varanda. Tem no piso térreo cinco portas, uma centrada e duas em corpos adossados em cada canto com a  forma de meios octógonos. Ainda no piso térreo, tem seis janelas  sendo duas de sacada e  quatro ovais de menor dimensão e com vestígios de vitrais. As molduras das janelas e portas são rematadas em arco abatido ou de cesto, as suas dimensões são bem proporcionadas com uma cantaria simples mas de uma qualidade e rigor que as fazem quase peças de arte.
O segundo andar  tem uma generosa varanda com um esmerado gradeamento, servida por três janelas centrais e outras duas em cada lado criando harmonioso conjunto. No último andar tem três sacadas ao centro da fachada. Os alçados são de uma certa monotonia pela falta varandas ou de elementos decorativos, embora o enorme conjunto de janelas perfeitamente distribuídas lhe dêm uma grande imponência afirmando-se pela quantidade que a preenche em toda a sua amplitude. 
No alçado poente tem um pátio com uma varanda que é sustida por um enorme muro, lembrando uma inexpugnável fortaleza ou com um pouco mais de imaginação, o tal navio em alto mar...
 
Os jardins são o único elemento preservado deste conjunto arquitectónico. O seu tamanho em pouco se compara ao tamanho da casa e não tem lago  ou peças de estatuária, apenas tem canteiros e buxos além de várias árvores, o que leva a pensar que seriam apenas uma breve parte deste espaço que se deveria expandir pelo vale do Jamor, onde hoje estão diversos  campos de jogos e uma pista de canoagem...  
Como não vi, li ou ouvi nenhum rumor sobre o seu futuro, leva-me a pensar que este é no mínimo incerto e  mais desGraçado que o seu glorioso passado...

segunda-feira, 22 de março de 2010

Cine Teatro Capitólio - Lisboa

 O Cine Teatro Capitólio é mais um edifício abandonado do património arquitectónico de Lisboa. O seu estado de conservação é preocupante, o seu papel cultural ao longo dos 75 anos de actividade foi relevante em todos os aspectos. Situado no coração do Parque Mayer sendo o maior edifício de todo o complexo. Ao fim de um interregno de quase 30 anos e várias polémicas geradas em seu redor estão finalmente previstas para breve obras de requalificação. Passar-se-á a chamar Teatro Raúl Solnado e vai ser um espaço cultural dedicado ao teatro e cinema, além de um prolongamento do Jardim Botânico e Museu de História Natural...(Uma vigorosa e prolongada vénia quando isto acontecer). 
 

 Foi traçado por Luís Cristino da Silva, um dos arquitectos mais proeminentes do Séc. XX português e é considerado por especialistas como o introdutor do modernismo em Portugal. Inaugurado em Julho de 1931, com uma série de inovações  que o distinguiram das demais construções, como a introdução de uma escada rolante e de uma esplanada no terraço. Tinha-se iniciado uma nova era na arquitectura.
Foram feitas em duas ocasiões obras de estruturação. Acedia-se ao exterior por amplas portas envidraçadas, que foram entaipadas na primeira remodelação em 1933. Ainda nesse ano foi montado no terraço uma cabine de projecção para sessões ao ar livre. Em 1935/36 a sua planta foi novamente alterada sob a supervisão de Cristino da Silva.  Foi acrescentado à sua estrutura primitiva mais um pavimento no balcão, além de frisas e camarotes, todo o palco foi reestruturado tal como a cabine cinematográfica.   Ficou então habilitado a receber 1400 espectadores. Aqui se estreou em  1946 uma das máximas obras-primas da história do cinema: Man Hunt de Fritz Lang.

Mais tarde e no pós 25 de Abril entrou em decadência.Especializou-se na projecção de filmes pornográficos, o que atraiu um público menos recomendável e lhe retirou a boa fama que sempre gozou. Em meados dos anos 80 e pouco antes de fechar as portas definitivamente funcionou no último andar uma espécie de discoteca, o Roller Magic, que consistia num ringue de patinagem animado por música pop e adolescentes que circulavam furiosamente em redor da pista ao ritmo do Lou Reed e Dire Straits... foi a última vez que lá entrei...

Para saber mais : http://www.jf-sjose.pt/news.php?news_id=472&page=11

http://forum.radiozero.pt/forums/outras-frequncias/topics/as-escadas-rolantes-do-capitlio

http://anossalisboa.cm-lisboa.pt/index.php?id=1914&tx_ttnews[tt_news]=2240&tx_ttnews[backPid]=1852&cHash=93710d99d3


A Quinta do castelo - Corroios / Seixal

Há já muito tempo que conheço esta quinta, sempre que por aqui passava ficava condoído pelo seu estado de conservação. Nada sabia sobre ela até a ter fotografado, foi então que descobri que a história desta casa é muito mais antiga e rica do que podia imaginar. Infelizmente não consegui aceder ao interior da propriedade confinando-me a captá-la pelo exterior, sei que tem uma capela, lagares e outras estruturas que teriam enriquecido este post, mas vou tentar obter autorizações para a melhor explorar.

 Esta magnifica propriedade rural está situada quase na margem da baía do Seixal, tem as suas fundações no longínquo Séc. XIV e foi edificada por D. Nuno Álvares Pereira, seu primeiro proprietário. Há relatos num censo pombalino em 1758 de ter existido uma espartana torre medieval que certamente a baptizou. Foi doada em 1404 aos frades do Convento do Carmo que a mantiveram na sua posse durante vários séculos até à extinção das ordens religiosas em 1834.

Foi mais tarde adquirida na segunda metade do Séc. XIX por Domingos Afonso, que lhe devolveu a dignidade e prosperidade ao tranformá-la numa propriedade vinhateira de onde saíram vinhos premiados em várias ocasiões conquistando uma fama a nível mundial.
 

Esta quinta possuía infraestruturas invulgarmente avançadas para a sua época, o que lhe permitiu atingir e manter um elevado nível de qualidade em todos os produtos que produzia. Com a morte do proprietário foi perdendo o dinamismo que a impulsionou, tendo sido arrendada pelos os seus herdeiros a vários locatários ao longo do passado século. A nobreza do edifício foi-se perdendo pela sua degradação e pela indevida utilização encontrando-se hoje em estado de ruína.

Para saber mais : http://marquimob.com/index.php?option=com_content&task=view&id=22&Itemid=71

sexta-feira, 19 de março de 2010

Vila Sousa - Prémio Valmor de 1912

Tinha prometido a mim mesmo aguentar uns tempos sem ir às ruínas, além da colecção  ter atingido um  tamanho considerável (750 imagens editadas e cerca de trezentos edifícios) o que  começa a tornar-se ameaçador em termos de gestão, pesquisa e outras tarefas inerentes... 
Hoje deparei com a Vila Sousa no Google Earth, prémio Valmor de 1912  da autoria de Norte Júnior, um dos meus arquitectos de eleição. É um palacete arte nova que é uma autentica “peça de joalharia” de arquitectura num calamitoso estado de conservação... foi mais forte do que eu...



 Aproveitei uma ida a Lisboa e com uma escapadinha lá fui eu às ruínas... Fica situada na Alameda das Linhas de Torres, 22  que por ser um sítio difícil de estacionar, tive de parar  numa azinhaga que ladeia a propriedade  onde me introduzi pelas traseiras. Uma vez mais tive de saltar um muro e fiquei surpreendido pelo seu enorme tamanho , o terreno deve ter as dimensões de um campo de futebol e a casa é maior do que uma piscina olímpica.

O que foi outrora um harmonioso jardim é hoje uma verdadeira exploração agrícola. Todo o terreno está  aproveitado com uma super horta, todos os centímetros quadrados estão plantados com uma cultura intensiva de couves galegas e outros géneros que tais. Deve ser a horta mais cara e mais chique de Lisboa, a avaliar pelo preço do metro quadrado nesta zona da cidade, além de se poder gabar de ser uma horta Valmor...
 
Como não sabia se havia cães ou alguém por perto entrei a cuidado para evitar surpresas desagradáveis. Aproximei-me da casa pelas traseiras sem me ter apercebido da sua dimensão e traça da fachada. Desta vez comecei pelo fim e a excitação foi crescendo à medida que que me aventurava entre os muros e  escolhia ângulos que pudessem  transmitir o ambiente e tamanho deste monumental edifício.
As paredes exteriores foram consolidadas após todo o miolo ter derrocado sendo a única coisa que resta de pé... do seu interior restam apenas memórias que gostaria de acordar.  Tentei imaginar as paredes decoradas com frescos e quadros, os tectos com estuques rendilhados e lustres de cristal, o chão com elaborados desenhos de parquet, os salões e a biblioteca, os quartos e cozinha... 
Toda a decoração deveria ser constituída por um enorme espólio de arte a avaliar pela envergadura e pela riqueza desta casa. Como teria sido  o dia a dia da família que ali vivia, a criadagem, os amigos e festas que certamente ali tiveram lugar ... 

Foi encomendado por José Carreira de Sousa, de quem tentei saber algo pela internete e nada consegui apurar, apenas posso neste momento alvitrar que era um  rico burguês, uma vez que não vem referidos em nenhum site de genealogia... fiquei curioso sobre este personagem...se alguém souber algo e quiser partilhar...

Só descansei até ter vislumbrado a sua magnífica fachada, um deleite de arquitectura e decorada com riquíssimos pormenores decorativos que se mantém perfeitamente preservados.
As janelas são de compasso e graciosamente traçadas, rematadas com arcos de volta perfeita, suportadas por colunas com capitel de inspiração coríntio e um toque de arte nova, que lhe dão um travo romântico muito característico deste estilo. A cantaria é minuciosamente esculpida com motivos florais e na empena tem uma grinalda que se poderia considerar uma natureza morta... enfim, mais uma pérola deitada aos porcos...

Uma vez mais são inevitáveis as pertinentes questões da praxe...porque é que a Vila Sousa está neste estado??? Que medidas foram ou estão a ser tomadas no sentido de proteger um prémio Valmor???Já  ouviram falar em obras coercivas??? Já alguém pensou na rentabilidade que poderia dar uma propriedade deste calibre??? É meramente uma questão financeira ou é apenas desleixo cultural??? Se for uma questão financeira arranquem as couves e plantem coisas mais rentáveis, talvez daqui a uns anos se consigam reunir verbas suficientes para reconstruir este monumento...

sábado, 13 de março de 2010

O centésimo post

Hoje deveria ser um dia de júbilo para este blogue, pela centésima vez que me dirijo a um público cada vez maior, mas com o qual raramente confraternizo. Gostaria de ouvir mais opiniões sobre os assuntos que foco, as questões que coloco, se as minhas dissertações vos fazem algum sentido.
 A pesquisa histórica não é de todo o meu forte, nem tão pouco o meu português, mas creio que sejam suficientes para elucidar minimamente qualquer leitor. Os edifícios retratados costumam ser gráficamente correctos no ponto de vista artístico e fotográfico e as suas estórias são por vezes autênticas pérolas de história que estavam adormecidas num sono profundo. 

Só quando atingimos as metas a que nos propomos damos sentido a qualquer projecto...este projecto ainda “vai no adro”... sei melhor que ninguém todo o trabalho que já tive, sei também o que me resta pela frente. Além de um vastíssimo “campo de batalha”que tenho de cobrir ás minhas custas, cabe-me também a tarefa de agilizar toda a parte social, tentar mediatizar este descalabro e chamar a atenção àquilo que a todos indigna e que ninguém quer ver, é por vezes como nadar contra a corrente.
Toda a gente reconhece o valor deste projecto, recebo os maiores elogios pelo esforço e resultados, porém é difícil arranjar patrocinadores para a exposição, para as deslocações, estadias e toda a logística que isto envolve. É como se tivesse sarna, nenhuma câmara municipal até agora colaborou ou cedeu um espaço de exposição, o IGESPAR fugiu a sete pés, o ministério da cultura só apoia projectos duas vezes por ano, as gasolineiras fecharam torneiras, até a própria marca de material fotográfico que uso me fez um vigoroso manguito!!!
 
 Será que sou o único a trabalhar neste assunto tão grave por amor à camisola??? Porra!!! As ruínas são um assunto que nos concerne a todos como povo e legítimos proprietários de um infindável património decadente!!! Há que fazer algo e depressa!!! Por nós e pelas gerações vindouras devemos defender a nossa história!!! Já vi manifestações por vários motivos, os policias, os professores, os estudantes, os camionistas, os pescadores, agricultores, médicos e enfermeiros e eu sei lá quem mais se manifestou...geralmente estão em causa valores pecuniários, cortes no ordenado e melhores condições de trabalho....mas é sempre por dinheiro!!! Fazem  greves por vezes a torto e a direito, uma vez mais pelos motivos atrás citados...mas jamais alguém se manifestou ou fez greve por filantropia ou por uma causa que não fosse financeira... 
 
 Todos nós nos deveríamos manifestar, nas ruas, no parlamento, na internet e em toda a comunicação social...deveríamos fazer deste motivo uma conversa diária nos telejornais ao focar a desgraça desta triste realidade , todos os dias deveria ser mostrado pelo menos mais uma caso, para que se ganhe uma consciência colectiva e as pessoas possam realizar a gravidade deste descalabro... 
 Se pensarmos que alguns dos edifícios que  retratei já ruíram e muitos outros estão prestes a derrocar poderemos assim compreender a urgência de tomar uma atitude que resolva e dê destino a este imbróglio nacional...porque amanhã poderá ser tarde.
Não sou político nem tão pouco tenho cor partidária, mas sei que a solução está nas mãos dessa nobre classe que finge não ver o que se passa à sua volta. A começar pelo próprio ministério da cultura e  IGESPAR que tem uma ruína em cada frente do seu magnífico Palácio da Ajuda...será que precisam de ajuda para ver a Torre do Galo, todo o quarteirão em redor e as próprias traseiras?? Mas a casa de banho do senhor ministro Carrilho custou 60,000 euros  ao erário público... quais são as prioridades afinal??? O que é que afinal querem fazer ou resolver??? Não deveriam legislar e proteger o nosso património???

 Mas voltemos ao projecto “Ruin’Arte”... a partir de agora vou ter de abrandar o ritmo, estou também a ficar em ruínas...todas as minhas energias têm sido dirigidas a esta causa e tenho-me esquecido de trabalhar em algo mais rentável, talvez com a esperança de conquistar as galerias de arte e as editoras apostei neste projecto como modo de vida, mas pela falta de frutos financeiros e pelos gastos  envolvidos, vou ter de convergir novamente as minhas atenções ao mercado da publicidade e arquitectura...tenho dado também algumas formações que me despertaram uma veia adormecida, quem sabe me dedique também a formar a minha concorrência....seria mais leal com certeza doravante...

Não que vá abandonar este projecto, apenas não vou poder dedicar-me em exclusivo e com o afinco que vos habituei, vai passar a ser um hobby até encontrar apoiantes ou investidores... não posso assumir sozinho os custos de uma volta a Portugal, e muito menos dar-me ao luxo estar mais um ano sem fotografar para clientes...se conhecerem um mecenas, avisem-me por favor...
 

 Todos os esforços financeiros que fiz considero-os como um investimento pessoal e num legado a este país e às futuras gerações... fiz arte e história, tenho essa consciência... partilhei todo este espólio e as minhas experiências, a minha limitada cultura e sensibilidade, opinei e tentei fazer passar uma mensagem que fosse eloquente através de uma abordagem pessoal a este ruinoso assunto... 
 

O saldo foi surpreendente em todos os sentidos excepto no plano financeiro. Aprendi e evolui na maneira de ver e sentir a vida, conheci todo o tipo de gente e consegui relacionar-me com êxito em todas as situações, conheci ministros e ciganos, nobres e plebeus, policias e ladrões, doutores e vagabundos...pesquisei em arquivos e bibliotecas, internet e entrevistas... aprendi história, arquitectura, geografia, informática, filosofia, politica, jornalismo, português... acabei por renascer um pouco, sinto-me infinitamente mais rico!!!!
 

Este blogue, como qualquer outro é um espaço de partilha, é o meu local preferido, uma janela aberta do meu ego para toda uma sociedade e que teima em dar a conhecer ao mundo alguns dos meus pensamentos e pontos de vista. Embora sejam raros os comentários que fazem aos meus esforçados posts, os poucos que tive foram suficientemente encorajadores, sei que estou num bom caminho e assim me pretendo manter... agora esperem pelos próximo cem posts  e continuem a seguir e divulgar este espaço que é de todos nós, cidadãos lusitanos e sebastianistas que ainda acreditam nas manhãs de nevoeiro...
 

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