sexta-feira, 23 de agosto de 2013

EFANOR, ou Fábrica dos Carrinhos - Matosinhos

 
Tomei conhecimento desta ruína pelas imagens que o meu bom amigo José João Roseira me enviou, e não descansei até ter visitado o que resta de uma das maiores fábricas do País, antecipando a minha rotineira ida ao Porto... foi a minha última ruinosa aventura na cãopanhia do Edgar, que por velhice e calhandrice se escusou em aparecer em quase todas as imagens, e a primeira na companhia do José João, que também aparece ao estilo do Wally...
Tive ainda a sorte de contar com a inestimável ajuda deste meu ruinoso amigo, como ainda fiz outro... o ilustre Senhor Carlos Alberto Oliveira, que me elucidou a história deste monumento industrial, desvendando-me muitos dos seu segredos, sem os quais esta reportagem nunca teria o mesmo interesse... o S. Pedro também ajudou bastante, pois as condições de LUZ eram as melhores... o Virgínio Moutinho, também nos deu o prazer da sua companhia.
O edifício aqui retratado, era o coração desta fábrica onde ainda vivem moribundos um fantástico motor MB 501 de vinte cilindros, cuja mítica origem era de um submarino Uboat (não confirmado)* e uma turbina a vapor que deram vida e boa energia a toda esta comunidade...  é tudo o que resta de uma vastíssima unidade industrial que ocupava uma área com cerca de quinze hectares de extensos pavilhões, onde se fabricavam linhas e tecidos que vestiram e aperaltaram várias gerações...  observando este fantasmagórico cenário podemos usar como uma analogia do actual estado da nação, atendendo a permilagem deste vestígio e a envergadura da indústria de então, e o estado em que estão... é a grande questão em questão.
Aqui vos deixo os "restos mortais" da EFANOR e um pouco da sua longa história, que se escreveu ao longo de um século de muito trabalho e boa laboração...
A Empresa Fabril do Norte, ou Efanor, foi pioneira industrial no fabrico de carrinhos de linhas, tendo-se por isso popularizado como "Fábrica dos Carrinhos".
A sua história remonta ao início do século XX e foi idealizada em 1903, como um "estandarte" industrial português para fazer frente à sua congénere Coats & Clark, que também por essa altura projectava uma unidade industrial em Mafamude, V.N. de Gaia.
O seu mentor foi Delfim Pereira da Costa, que recorreu aos préstimos do Engº Francisco Xavier Esteves (projectista da Livraria Lello) para a execução deste grandioso projecto, tendo iniciado a sua construção em 1904.
Os terrenos, na Senhora da Hora, onde se implantou esta gigantesca unidade, gozavam não só da proximidade do porto de Leixões, como também da linha de água que fornecia a fonte das sete bicas, tendo sido negociada a sua exploração com a autarquia, pois a dependência de um fornecimento constante e da melhor qualidade deste precioso liquido, seriam fulcrais para o sucesso desta indústria.
A Efanor foi equipada com a mais moderna tecnologia de então, tendo sido adquiridas em Inglaterra (Bolton e Manchester) duas caldeiras e uma turbina, que davam a força motriz a todo este empreendimento.
O início da sua laboração foi em Fevereiro de 1907, tendo sido inaugurada oficialmente, no dia 26 de Junho desse ano, com a insigne presença de Sua Majestade, El-Rei D. Carlos I, embora fossem os ideais republicanos tradicionalmente partilhados por esta elite industrial e intelectual portuense.
Após o regicídio, em 1908 a Efanor foi também visitada, por El-Rei D. Manuel II, que tinha pelo Porto uma especial afeição, levando ânimo e carisma a qualquer projecto, que projectasse o melhor de Portugal.
A fábrica foi adquirida em 1922 por Manuel Pinto de Azevedo, um empreendedor industrial que aqui afincadamente trabalhou, desenvolvendo toda esta indústria a vários níveis.
Desde a ampliação das instalações, renovamento da maquinaria e sobretudo, a estrutura social totalmente virada para o bem estar dos funcionários.
A Efanor chegou a empregar 3.000 trabalhadores, que aqui conheceram um evoluído estilo de vida e tiveram raros cuidados sociais  muito à frente da sua época, embora o nível de ordenados não fosse o mais generoso, as valências sociais eram um enorme atractivo para quem aqui trabalhava.
Foram construídas para o efeito: uma creche, escola, corpo de bombeiros, pavilhão e campo desportivo, salas de convívio, e sessenta e nove moradias providas casa de banho com banheira ou poliban, tinham ainda um terreno para horta e jardim, havendo um prémio anual para a mais florida morada, por contrato pagariam uma renda simbólica que oscilava entre 70$00 e 270$00, com direito a 4m3 de água... enfim, a Efanor era uma comunidade a que nada faltava... 
 
Apenas em 1958 uma greve foi aqui feita, para protestar  contra a prisão Manuel Teixeira Ruela, uma espécie de "João Semana", que foi preso pela PIDE, era conhecido como o "médico dos pobres" e foi tenazmente defendido por esta população.
Esta indústria chegou a ser no auge da sua laboração, um dos maiores exportadores do País, representando uma valiosa fatia do PIB, o que se fosse transposto para um índice per capita, tornaria estes felizes empregados nuns dos maiores contribuidores da riqueza nacional.
A expansão da Efanor foi um reflexo do seu sucesso, as suas instalações cresceram durante cinquenta anos, expandindo-se para os terrenos vizinhos, onde ainda hoje vivem os antigos edifícios inaugurados nas suas bodas de ouro em 1957, que serviram de estamparia, tinturaria e acabamentos, cuja ligação era feita por um túnel que ainda hoje oferece cuidados, condicionando o trânsito aos veículos pesados que circulam naquela via.
Alguns edifícios deste complexo industrial estão hoje ocupados por empresas do Grupo Sonae, tal como a creche que foi convertida no Colégio Efanor, além deste compleo industrial ter sido o implementador das forças de segurançanesta localidade, tendo-se reponsabilizado até 1991 pela manutenção do posto do comandante da GNR.
Aqui também  Belmiro de Azevedo, outro grande empresário, iniciou o seu percurso profissional e que mais tarde adquiriu esta fábrica, incluindo-a no Grupo Sonae. 
Condenada pela perda dos mercados ultramarinos e uma excessiva concorrência, além da morte de alguns dos seus corpos dirigentes, a Efanor em 1994, encerrou as suas linhas de produção. Foram demolidas quase todas as estruturas em 2007, ano que se iniciou outro grande projecto deste grupo empresarial, cedendo o seu espaço à "Quinta das Sedas", um luxuoso condomínio a ser construído ao longo de nove anos, revitalizando paisagisticamente esta área, e criando uma nova oportunidade para este local.
A central de energia aqui retratada, foi cedida à Fundação de Serralves para se fazer uma extensão dedicada à arte e cultura, um projecto que ainda não foi em frente por falta de verbas, enquanto isso vai-se degradando por continuado desleixo e gratuita vandalização.
*Por se ter afundado ao largo de Leça a 8 Maio de 1945, o  Submarino Alemão U-BOAT 1277, e sabendo que o motor  MB 501 equipava algumas embarcações deste tipo, depressa se gerou o mito que o engenho da Efanor era oriundo deste barco, o que não é verdade. O UBoat 1277 estava equipado com motores Man, e os MB 501 era exclusivos das séries UBoat IXD2, e dos Schnellboot.
 

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O Edgar, foi um bom cãopanheiro...

O Edgar, foi um bom cãopanheiro, um bom cãopincha e um grande cãomarada, com quem tive a honra e orgulho de partilhar a minha vida...
Com a sua partida, partiu-se um pouco de mim, chegando ao fim de um caminho sem saída.
Acãopanhou este ruinoso projecto desde o início e prestou os seus melhores serviços, como um modelo de eleição e perfeição, sem nunca se cansar...
Sentirei muito a tua falta, meu bom cão, Edgar...
Foste o melhor cãolaborador e alegre assistente, que muito contribuíste para o sucesso deste nosso projecto, o Ruin'Arte...
As ruínas a que emprestaste a tua fotogenia, enchem-se de magia e irão imortalizar-te.
Sem a tua assídua presença uma boa parte destes trabalhos nunca teria tido o mesmo impacto...
Tínhamos um pacto! O Edgar posava e passava, compondo a compasso cada imagem que enquadrava...
Preenchendo cada espaço com a sua esbelta figura, sempre com a mesma vivacidade e ternura.
Formou comigo uma equipa que percorreu montes e vales , tendo sido fotografado nas melhores imagens e momentos, que coleccionei ao longo destes tempos.
Com ele estabeleci uma relação, com harmonia e simpatia que dificilmente terei novamente, assim outro cão, um dia...
Conheci-o no canil de Monsanto no dia em que completei 38 Outonos, e foi um amor à primeira vista...
O Edgar espontaneamente, cãoprimentou-me efusivamente , até hoje fomos inseparáveis...
Muito passeámos, fizemos viagens, vivemos intensamente momentos inolvidáveis...
Era um cão nobre de alma, de porte altivo, educação esmerada e indefinida raça,
Tinha uma postura calma, o olhar vivo, intuição apurada e mania da caça.
Nunca fui o seu dono, pois nunca se pode ser dono de um amigo, éramos simplesmente dois seres que se respeitavam...
Éramos unidos por uma saudável energia a que se chama amizade...
 Que com lealdade e fraternidade se mantém acesa até uma das chamas se apagar...
Obrigado por tudo, meu bom cão, Edgar...
Com ele tive aventuras, alegrias e agruras...
Ruinosos momentos, que com saudade guardarei e para sempre lembrarei...
 Despedi-mo-nos com a alegria  e com a certeza de nos reencontrar um dia... 
Simultaneamente com a agonia e com a tristeza de nos separar...
 
 Muita falta nos farás, meu bom cão, Edgar...
Ficou em paz e com um caminho de LUZ para percorrer até ao céu dos cães, onde certamente, será feliz novamente...
Meu grande amigo, desejo-te uma boa viagem, e por tudo te agradeço novamente...
Tenho a certeza que quando reencarnares, serás gente!

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