quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

2ª Bateria da Parede (Regimento de Artilharia da Costa).


A influência a que todos os rapazes da minha geração estiveram sujeitos à aventura militar, deve-se não só por terem brincaram aos soldados,  como também por terem ido à tropa...


Além do nosso passado de povo guerreiro que nos deixou marcas profundas no orgulho lusitano, muitos tiveram familiares ou ascendentes que se distinguiram nesta nobre instituição...de maneira que é fácil calcular o gozo profundo que me dão estas reportagens entre as brumas da memória de um glorioso passado.


As estruturas militares costumam ser de uma fotogenia sem par, pela sua arquitectura e pelo contraste dos vestígios bélicos abandonados...é com facilidade que imaginamos um cenário de guerra pejado de acção e actos de heroísmo quando nos deparamos com peças de artilharia moribundas...foi uma tarde bem passada...aqui fica a história desta unidade que foi extinta recentemente...


Dada a sua localização privilegiada, a bateria da Parede teve uma importância visceral no sistema de defesa marítimo da capital. É verdadeiramente única, a vista sobre a linha do horizonte que é possível ter junto às peças de artilharia situadas bem no alto do monte de Santa Luzia. Da missão táctica constava o suporte à Bateria de Alcabideche. Encontrava-se munida de três peças de médio calibre (15,2cm/47) para defesa próxima com cadência de 4 disparos por minuto e alcance de cerca de 20km cada. Cada peça com um peso aproximado de 7.600kg era manuseada por uma guarnição de 9 homens (Chefe de peça e serventes) que municiava o canhão com projécteis na ordem dos 45,3kg.
 
Na década de oitenta (pouco antes de ser desactivada) o fogo real fazia-se duas vezes por ano (geralmente em Maio e Novembro) sendo durante esse dia, suspenso o tráfego aéro e marítimo em toda zona de Cascais e Setúbal. Por questões de segurança todo o exercício de tiro era efectuado com espoleta inerte, ou seja, com o cone no topo da granada inerte (que é responsável pelo rebentamento). O alvo era composto por uma jangada com bandeira vermelha rebocada por uma fragata com cabo de 50 a 100m. 


O tiro deveria ser circundante para que a jangada pudesse ser reutilizada em outros exercícios. No caso de um tiro "certeiro" era mandatório a severa reprimenda do Chefe de Peças. 

O Comando do RAC distribuía com antecedência folhetos informativos nas áreas de influência das peças com algumas recomendações, tais como, abrir janelas, acautelar objectos frágeis, etc. Durante esses treinos, foram reportados alguns episódios caricatos, como o resgate de obuses em algumas hortas em Alcabideche.

Com a chegada da década de noventa a bateria e quartel sujeita-se ao fim esperado, a sua lógica desactivação. As portas do quartel são encerradas, as janelas e portas do edifício emparedadas. O paiol (armazém de munições e pólvora) é selado (portas soldadas), as culatras das peças são removidas e o acesso ao canhão fechado a arame farpado. E assim ficou até aos nossos dias, sujeita ao vandalismo e ao sabor do tempo. 

A vivenda dos oficiais (logo à entrada) já pouco conserva do telhado, mas as  casas do forte ainda permanecem sólidas e ainda por lá está o quadro da sala onde era dada a instrução teórica. O exército ainda patrulha o forte regularmente provavelmente para garantir que por ali não haja ocupação.





Entretanto é publicado no diário da república a 12 de Novembro de 2008 a lista <http://dre.pt/pdf1s/2008/11/22000/0790007903.pdf>  de património militar a alienar ao abrigo da requalificação das infra-estruturas do Ministério da Defesa. 

 Nesta lista, entre outras surge a designação "Quartel da Bateria da Parede" o que poderá indicar que o complexo (ou pelo menos parte dele, não é claro) será vendido para o financiamento da instituição, ficando na dúvida se o projecto do museu histórico verá o dia naquele lugar. Um facto de nota é o considerável valor que aquelas terras detêm com a sua localização e vista impar sobre a boca do Tejo, uma realidade que poderá pesar a favor do caos urbanístico desenfreado que já vai rodeando os terrenos do que resta da 2ª Bateria da Parede.

Fonte :http://www.geocaching.com/seek/cache_details.aspx?wp=GC1KPZJ

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Ermida Nossa Senhora da Conceição - Trafaria

Por nos estarmos a aproximar do dia de Natal,  editei algumas imagens da ermida de Nossa Senhora da Conceição que aguardavam um momento de inspiração, aproveitando para fazer desta forma uma homenagem a todos os leitores deste blog.



O projecto Ruin'Arte, deseja-vos a todos um Natal cheio de LUZ e um ano vindouro com muita prosperidade...

...desejo igualmente que as eminências pardas que regem este País, se inspirem também e apostem mais na reabilitação...


Esta ermida terá sido construída no Séc. XVIII, como atesta o seu estilo de arquitectura. Encontra-se bem escondida de quem passa, fica discretamente situada nas traseiras da avenida principal da Trafaria, num terreno perto dos muros do forte e de uma garagem de recolha. É mais uma pérola de arquitectura que foi há muito tempo abandonada. Foi aproveitada através dos tempos para os propósitos menos recomendados para uma estrutura de deste cariz. Funcionou nos finais do Séc. XIX como fábrica de cortiça, foi também uma fábrica de redes de pesca e por fim uma olaria...


Os simpáticos vizinhos que dela disfrutam, aproveitaram uma parede para construir uma casa bem portuguesa, com certeza, e uma horta nas traseiras... o seu interior foi completamente devastado por um incêndio no longínquo ano de 1835, tendo sido salvas as suas imagens que se encontram hoje na Igreja de S. Pedro, na Trafaria.

A data do incêndio e a sua posterior utilização, leva-me a supor que tenha algo a ver com a extinção das ordens religiosas, embora possa ter sido uma coincidência... infelizmente a pesquisa histórica é muito trabalhosa e demorada, o que muitas vezes me impede de alargar assuntos que com certeza terão muito mais para contar...



segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Quinta das Ameias ou Casal Vistoso



A Quinta das Ameias ou Casal Vistoso Está situada no cimo de um monte entre a Av. Afonso Costa, a Av. Gago Coutinho e de frente para a Praça. do Areeiro, completamente  asfixiada  entre enormes prédios que ameaçam invadir a sua intimidade pela desproporção dos seus tamanhos.


Tinha ainda borbulhas na cara, quando via ao longe esta ruína, que já na altura me despertava curiosidade...”um dia hei-de lá ir....” pensava eu em tom de aventura enquanto admirava a sua decrépita fachada, que lhe emprestava  ainda alguns vestígios de charme e nobreza. 
 
Intrigava-me o seu passado e fazia dó vê-la abandonada...como qualquer outra ruína teria tido os seus tempos de glória associados a uma família e sua decadência, só  estava longe de adivinhar que tinha um passado muito mais ilustre e quem tinham sido os seu últimos locatários... quando falei dela com o Dr. Quintanilha Mantas, soube que além de ter sido ricamente decorada com painéis de azulejos de Delft, o príncipe D. Luís Filipe costumava retirar-se neste local. Tentei saber algo mais pela internet e por diversos organismos camarários, mas sem saber o seu nome a tarefa tornou-se bastante difícil...

Através de um post do SOS Lisboa, com ajuda do biclaranja.blogs, finalmente identifiquei a quinta e consegui saber algo mais que aqui vos adianto...
 
Foi edificada no Sec. XVII pela família Abreu e Castro, mais tarde na segunda metade do Sec. XIX, D. Fernando de Saxe Coburgo Gotha usou-a como casa de campo em Lisboa onde viveu com a condessa d’Edla...pasme-se...era afinal uma casa da família real...pairam ainda muitas dúvidas no ar...a quem pertence hoje em dia e porque chegou a este estado? Se alguém souber responder a estas questões ou puder acrescentar algo ao que já sei seria uma boa ajuda para reforçar as suas memórias... dela restam algumas paredes e vestígios da muralha que certamente a baptizou...




sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Jardim do Palácio da Pena


O Palácio da Pena, é o monumento mais visitado e rentável do património português, a sua arquitectura romântica inspirada numa profusa miscelânea de estilos, torna-o num conjunto majestoso e etéreo sem par... Foi edificado sobre as antigas ruínas de um antigo convento Mosteiro Jerónimo de Nossa Senhora da Pena, pelo rei consorte D. Fernando de Saxe Coburgo e Gotha...a ele devemos também a reabilitação dos nossos melhores monumentos e a revitalização da nossa cultura.


O palácio está situado no cimo da Serra de Sintra, é cercado por um parque exóticamente arboreado e constitui uma das maiores colecções botânicas do mundo... são inúmeras as espécies de árvores importadas de todos os cantos do mundo e formam uma das mais ricas paisagens florestais da Europa. 



É numa propriedade adjacente que D. Fernando mandou construir para a sua segunda mulher, a condessa d’Edla, um chalet de inspiração suiça que é considerado por muitos o primeiro em Portugal. O chalet ardeu à cerca de dez anos e encontra-se neste momento a ser recuperado, daí não o ter incluído nesta reportagem. Fazendo parte deste mesmo conjunto, há outras estruturas pelo jardim que se encontram em estado de ruína. Sei que há projectos em curso que visam restaura-las e posteriormente as rentabilizar através de iniciativas culturais e turísticas...

Até lá as estufas, o edifício da abegoaria e outras estruturas, que foram construídos nos anos 70 do Séc.XIX pelo mesmo rei e foram negligenciados durante décadas deixados ao completo abandono, continuarão à espera de melhores dias...


O seu deplorável estado torna-se ainda menos compreensível quando pensamos em todos os potenciais turísticos do local e rentabilidade que poderiam ter, sem não esquecer a vergonha que qualquer português passará quando tiver de explicar a um turista o porquê desta situação...aqui fica para a posteridade mais um testemunho da falta de investimento e de visão das entidades (in)competentes. Esperamos em breve voltar e ter a agradável surpresa de os ver recuperados...


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O Fado do Baptista Russo

O Fado, é uma das minhas muitas paixões que infelizmente não tenho alimentado ultimamente...
Falta de tempo, de disponibilidade e outras inconvenientes desculpas, têm-me impedido de realizar e comparecer nas tertúlias que tanto gozo me davam...foi com a nostalgia e tristeza natural  desta corrente musical, que observei, fotografei e lembrei do que foi em tempos uma das maiores empresas do ramo automóvel em Portugal...ao Baptista Russo dedico este fado...
Lembro-me do Baptista Russo, um enorme casarão,
Lembro-me do Baptista Russo, um enorme casarão,
Hoje é uma ruína sombria, com a melancolia de um velho barracão
Era o prédio maior, de toda uma avenida,
A fachada imponente, sempre presente e muito comprida.

Trabalhavam com rigor, tudo faziam com pressas
Trabalhavam com rigor, tudo faziam com pressas
Eram bons a consertar, a bater chapas , a pintar e o serviço de peças
Tinham carros para todo o gosto, até carros de corrida
Quando iam correr, corriam para vencer e era vitória merecida

A brincar aos empresários, o negócio estava a dar,
A brincar aos empresários, o negócio estava a dar
Até que veio a crise, bateram-lhe à porta  e tiveram de fechar

Foi um banco que o ocupou, num discreto recanto
Foi um bom investimento e em bom momento ganhou outro encanto.

Foi um banco que o ocupou, num discreto recanto
Foi um bom investimento e em bom momento ganhou outro encanto.


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A agricultura em Portugal



Portugal é um País agrícola!!! Será mesmo???  Desde os tempos mais remotos da nossa nacionalidade, que neste País à beira mar plantado, se produziu graças à riqueza dos solos e ao ameno clima temperado uma enorme variedade de produtos agrícolas.
 
Desde a idade média, que há legislação a proteger as propriedades que produziam o "pão nosso de cada dia". Tivemos governantes que aplicaram elaboradas leis no sentido de dinamizar esta indústria, como o exemplo da Lei das Sesmarias, em que expropriava as terras não cultivadas.

Uma vez que era uma actividade pouco nobre, esta sempre foi o escape para inúmeras famílias menos ilustres que dela viveram, arrendando terras e cultivando o chão em que trabalhavam, era o sustento do País em todas as vertentes, uma vez que a indústria era rara e pouco mais do que artesanal.

Com a chegada de fabulosas riquezas do oriente na época dos descobrimentos, houve uma imigração massiva para as cidades onde a fortuna era mais fácil, deixando abandonados os campos pela falta de mão de obra e pelo desinteresse, também as epidemias de peste que ceifaram a maior parte da mão de obra activa foram responsáveis pelo seu declínio ...
 
Bastante mais tarde em 1834 com a extinção das ordens religiosas, muitos campos que eram explorados por monges e famílias inteiras que trabalhavam a terra nas propriedades monásticas, foram devotados ao abandono deixando de produzir o sustento de muita gente, contribuindo para uma decadência social e económica.


Outro revés que a agricultura sofreu, foram as invasões selvagens ao abrigo da lei das ocupações no pós 25 de Abril, destruíram propriedades inteiras com administrações lesivas para os ocupantes e ex-proprietários, quando chegou a reforma agrária já era tarde, nada mais voltou a ser o mesmo...
 
O último capitulo desta epopeia foi a adesão à UE, com uma política agrícola comum que inviabilizou  e restringiu a produção a escassos números a produção de todos os bens cultivados em solo português. Embora tivesse havido inúmeros subsídios para a dinamizar, estes foram mal aplicados e mal distribuídos, conforme se queixam os agricultores...
 
Retratei algumas pequenas propriedades rurais ao longo deste trabalho que deixam entender o passado, o presente e o futuro da agricultura portuguesa....aqui vos deixo o testemunho...


Numa breve resanha da história da agricultura no território português iremos considerar seis períodos:

    Período ante-nacionalidade

Depois da cultura megalítica, cerca do séc. XII a.C. instalaram-se no litoral do território os Fenícios que fomentaram o comércio e transmitiram conhecimentos acerca do cultivo de plantas típicamente mediterrânicas como a vinha, a oliveira e a alfarrobeirra. Aperfeiçoaram os moinhos de cereais, e introduziram os lagares de vinho e de extracção do azeite. A partir da séc. IX a. C. os Gregos estabeleceram colónias e introduziram a cultura da figueira, amendoeira, amoreira e do loureiro. Foram os Gregos que introduziram o conceito de propriedade privada e da escravatura nas populações nativas.



Posteriormente, sucessivas vagas de povos Celtas chegaram ao território trazendo a técnica do fabrico de armas de ferramentas em ferro. Acentuou-se o desbaste da floresta e desenvolveu-se o pastoreio. Data da presença celta o primeiro esboço de regionalização do território. Ao norte instalou-se a cultura galaica, com povoamento localizado nos montes, em castros e citânias, com uma organização familiar do tipo clã. Ao sul do Tejo, a cultura transtagana resulta da forte integração dos celtas nas etnias locais. No séc. V a. C. os Cartagineses invadiram a Península e estabeleceram-se no sul, difundindo a palmeira, a tamareira, a romanzeira, o alho, a cebola e o aipo. A primeira instalação de regadios no Algarve deve-se a este povo. A influência dos cartagineses nunca se fez sentir no norte do território, onde continuava a perdurar o comunitarismo agro-pastoril dos celtas.

Os Romanos chegaram à Península Ibérica no final do séc III a. C e travaram contínuas batalhas com os Lusitanos e Calaicos, num processo que durou mais de 100 anos até ao assassinato de Viriato em 139 a. C. O norte do território permaneceu instável até à implementação da "Pax Romana" em 24 a. C, abrindo caminho a uma forte influência civilizadora que deixou traços marcantes na agricultura nacional. Os romanos efecturam uma profunda reforma estrutural, consolidando a propriedade privada e a ideologia do lucro. As villae implantadas no espaço rural usufriam de plenos direitos sobre a terra, embora se tivesse mantido no norte o comunitarismo celta sob as formas de livre pastoreio e de baldios. Já no Alentejo, onde a ocupação romana foi mais demorada, ainda hoje se pode ver nos "montes" a expressão actual das villae rusticae. A constituição de cidades foi mais intensa no sul do território do que no norte, de ocupação mais tardia e costumes mais enraizados, onde escasseiam as grandes urbes romanas. Aí, o estabelecimento das villae obrigou ao derrube das florestas, que povoavam os vales inóspitos e à secagem de pântanos, criando-se condições para a expansão das áreas cultivadas. A cerealicultura, a produção de hortícolas e a cultura da vinha foram desenvolvidas para abastecer as cidades e com o objectivo de exportar para Roma. Foram introduzidas a ameixeira, o pessegueiro, a cerejeira, o damasqueiro, a gingeira, a nogueira e o castanheiro. Os soutos instalados forneciam a castanha que teve um importante papel na alimentação de muitas populações até à divulgação da cultura da batata. Foram os romanos que introduziram o arado dental ou de garganta, que no Sul substituiu o arado radial, mais primitivo. A rede de estradas e a organização territorial implementadas pelos romanos, favoreceram o comércio de produtos agrícolas.

 

No início do séc. V, com o Império Romano em decadência, chegaram à Península os Suevos, Alanos, Vândalos e, mais tarde os Visigodos. Das lutas destes povos bárbaros contra o Império e entre si próprios, resultou que os Alanos foram submetidos e os Vândalos, derrotados, estableceram-se no Norte de África, ficando o território hoje português sob influência Sueva e Visigótica. Suevos, com capital em Braga e os Visigodos, sediados em Toledo, travaram contínuas batalhas durante século e meio, até que, em 585 se dá a unificação política na sequência da vitória dos Visigodos. A instabilidade gerada pelas guerras e saques durante este período deve ter-se reflectido negativamente no trabalho dos campos. O reino visigótico perdurou cerca de um século durante o qual o motor da vida económica se deslocou da cidade (Romanos) para o campo, pelo que este período ficou conhecido por "ruralização visigótica". Devemos aos Suevos a introdução do arado quadrangular no Norte do país.

No princípio do séc VIII os Árabes invadiram a Península e deixaram uma influência duradoura e marcante no sul do território, especialmente na zona de Lisboa e no Algarve. A norte do rio Douro a presença árabe foi efémera. São de introdução árabe o arroz, o sorgo, a laranja azeda, a cultura intensiva de hortícolas e a eles se deve um grande desenvolvimento do regadio.


    Período das monarquias absolutistas

Com a independência do território em 1143, a preocupação dos primeiros reis esteve orientada para a conquista e o povoamento. Só em 1250, no reinado de D. Afonso III, se completou a conquista do Algarve e é natural que a instabilidade provocada pelas guerras contra os mouros não tivesse favorecido o desenvolvimento da agricultura. Já o reinado de D. Dinis, que sucedeu a D Afonso III, parece ter sido mais propício ao desenvolvimento das actividades agrárias, valendo a este rei o cognome de O Lavrador.

As pestes, epidemias de ocorrência regular durante toda a Idade Média, as guerras e a fome provocada pelas más colheitas devidas à irregularidade dos anos agrícolas, diminuiam a esperança média de vida e dificultavam o progresso económico. Entre as inúmeras ocorrências de peste, a de 1348 ficou na História como a Peste Negra e teve profundas repercussões na sociedade portuguesa (como por toda a Europa) de então. Admite-se que terá perecido cerca de dois terços da população nacional, provocando um colapso demográfico que levou a uma alteração na forma de exploração da terra. Sem os escravos outrora aprisionados nas lutas contra os mouros e com os servos da gleba dizimados pela Peste Negra, a terra passou a ser cultivada por camponeses livres a quem os Senhores feudais cediam a terra, normalmente pelo prazo de "uma vida".



Com o país desvastado pela Peste Negra, a que se somaram os efeitos negativos de uma guerra com Castela no reinado de D. Fernando, a agricultura estava votada ao abandono. Numa tentativa de restablecer a função produtiva, aliás de poucos efeitos práticos, D. Fernando proclama a Lei das Sesmarias em 1375. Esta lei obrigava ao cultivo das terras, ordenando os proprietários a cederem as parcelas a quem as trabalhasse se eles próprios o não pudessem fazer. Obrigava ainda à mobilização de todos os recursos produtivos como o gado e determinava que os vagabundos fossem trabalhar a soldo nas terras.

Os Descobrimentos, iniciados com a conquista de Ceuta em 1415, revelaram novas plantas cultivadas, deixaram o país despovoado e dependente das riquezas ultramarinas. Interessa chamar a atenção para as alterações provocadas nos sistemas de agricultura do noroeste português a introdução do milho (Zea mays). Originário da América Central e trazido para a Península pelos espanhóis no final do século XV, terá sido cultivado pela primeira vez no nosso país por volta de 1500, nos campos de Coimbra. Rapidamente se difundiu pelo Minho e Beira, destronando os milhos miúdos, então cultivados. As elevadas produtividades deste cereal levou os camponeses a procurarem água a todo o custo, construindo as "minas", represas e poços, a estrumarem abundantemente os campos, a construirem valas de dernagem, a vedarem as parcelas à entrada do gado. Assim se alterou por completo o sistema de agricultura da região, eliminando-se a cerealicultura tradicional de sequeiro em todas as parcelas onde o regadio permitisse a cultura do milho. As alterações causadas na geografia e na sociedade rural foram tais que levaram Orlando Ribeiro a falar na Revolução do Milho, afirmando que "depois da conquista romana nenhuma alteração mais profunda se introduziu na monótona vida dos nossos campos: nem os árabes, com plantas novas e culturas de regadio, fizeram nada de comparável".

Em 1703, Portugal e a Inglaterra celebram o Tratado de Methuen que permite aos ingleses venderem os seus lanifícios em Portugal e a exportação de vinhos nacionais para Inglaterra. Este tratado terá marcado definitivamente (a par das condições naturais) a vocação vitivinícola do nosso país, e comprometeu o desenvolvimento da indústria nacional.




    Período das monarquias liberais

No período iniciado com a Revolução Liberal de 1820 destacamos as leis de Mouzinho da Silveira, que acabaram com o pagamento dos dízimos eclesiásticos, nacionalizaram os bens da Coroa. No entanto, a venda em hasta pública dos bens nacionalizados (muitos pertencentes às Ordens Religiosas, então extintas) impediu que a reforma agrária de Mouzinho fosse bem sucedida. Na realidade os bens da Coroa e da Igreja acabaram por ser vendidos a um reduzido número de capitalistas.

Na segunda metade do século XIX a viticultura nacional (previlegiada pelo tratado de Methuen) sofreu com a intodução do míldio e da filoxera. A filoxera, que surgiu pela primeira vez no Douro em 1863, arruinou por completo as vinhas da primeira Região Demarcada do mundo.

Nesta altura surgem diversas iniciativas tendentes a estimular e regulamentar o crédito agrícola, indispensável numa agricultura empresarial.
 




    O período da Primeira República

A Primeira República vai da Revolução de 1910 até ao Movimento Militar de 1926, que suspendeu a Constituição e implementou um regime ditatorial. É um período em que o discurso político se centra no combate aos incultos, pousios e baldios, o que parece ser uma constante na história da agricultura nacional. As poucas medidas tomadas estão ligadas ao nome de Ezequiel de Campos.

 

     O Estado Novo

Destacam-se neste período as obras de hidráulica agrícola destinadas a fornecer água de rega e dinamizar a agricultura de diversas regiões do país, a colonização interna e a florestação dos baldios ao abrigo do Plano de Povoamento Florestal de 1938. Este programa de florestação forçou as populações das zonas de montanha a alterar subitamente o seu sistema de pastoreio, proibindo as quimadas, e obrigando-os a aceitar o sistema de exploração florestal sem qualquer interferência na gestão. Além dos graves problemas sociais causados este programa de florestação, baseado no pinheiro bravo, contituiu uma floresta destinada a arder.

A Campanha do Trigo, iniciada em 1929, com os objectivos de garantir o auto-abastecimento e de "dignificar a indústria agrícola como a mais nobre e a mais importante de todas as indústrias e como primeiro factor de prosperidade económica da Nação". Esta campanha consistiu em demonstrações técnicas do uso de adubos, assistência aos agricultores, escolha das sementes e organização de parques de material agrícola. Foi criado um subsídio de arroteia destinado a por em cultivo com trigo terrenos incultos e vinhas, bem como a garantia de aquisição da produção a preço tabelado. Embora se tenha conseguido aumentos da produção e até excedentes no ano favorável de 1932, a Campanha de Trigo é responsável pela acentuada erosão de muitos solos de encosta do nosso país. Refira-se que os acréscimos de produção foram conseguidos principalmente à custa do aumento da área cultivada e não do rendimento.





    A Segunda República

Com o 25 de Abril de 1974 os baldios são restituidos às populações e desenvolve-se o associativismo, já iniciado nos finais do século XIX e desenvolvido nas vertentes teórica e cooperativa por António Sérgio.

A integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia, por via da Política Agrícola Comum, provocou um afluxo de dinheiro à nossa agricultura destinado a subsidiar os preços de alguns produtos e a promover alterações estruturais no aparelho produtivo. Está ainda por avaliar rigorosamente o efeito das medidas da PAC na agricultura nacional.







Bibliografia

Caldas, Eugénio Castro. (1991). A agricultura portuguesa através dos tempos. Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa.653 p.

Ribeiro, Orlando. (1987). Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa.

Torres, J. V. (1988). Introdução à história económica e social da Europa. Livraria Almedina. Coimbra. pp 163-169.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Batalhão de Sacavém



Este magnífico e histórico edifício é mais um da longa lista do património arquitectónico militar que foi alienado...por muito que pense nos benefícios que possa  trazer o facto de ter passado a mãos privadas, sinto-me obrigado a denunciar esta situação. 
 


A tropa, tal como a conheci, foi extinta, mantendo apenas alguns batalhões operacionais e outros tantos para “tachos e fachadas”,  sobrando ao exército um soberbo acervo de edifícios históricos que pertenciam à pátria Mãe. Uma vez que lhes foram cedidos quando havia a necessidade de uma tropa activa, porque é que não são devolvidos ao estado português para que todos possam usufruir deste património? Porque é que não são aproveitados para novas estruturas que tanta falta fazem? Porque é que o Estado Maior os vende em vez de ceder a sua exploração, não perdendo dessa forma o direito que todos temos às nossas memórias? E as receitas que se gerarem por esta via, porque é que não são empregues em melhorar o País e se destinam apenas a reformas dos militares e mais equipamento? Tal como me apresento não tenho cor política definida, mas sei que isto não é socialismo...

Eu sei que a tropa é uma pesada estrutura suportada pelo estado e encontra-se hoje obsoleta, mas serviu essencialmente como escola de vida a muitos jovens que se tornaram homens nesta instituição, não haveria outra maneira de a estruturar? Fará falta a muita gente que não tem sentido de sociedade e civismo, era a última oportunidade no fim da adolescência para que putos idiotas se tornassem homenzinhos, aprendendo na vida que há algo para além das saias da mãe e dos gangs do bairro. Espírito de corpo e camaradagem, pontualidade e aprumo, responsabilidade e respeito, honra e patriotismo... Foram algumas das coisas que para mim ganharam sentido depois de lá ter andado... Tenho pena que tenha acabado...

 
O Mosteiro das Clarissas de Sacavém, tinha  a designação de Mosteiro de Nossa Senhora dos Mártires  e da Conceição, em homenagem aos Mártires que morreram  na luta contra os Mouros e em virtude de ter sido encontrada, próximo  do local, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, à  qual foi atribuído o poder de fazer curas.


A fundação deste Mosteiro deve-se  a Miguel Moura (escrivão de D. Sebastião) e a sua mulher,  Dona Brites da Costa. Foi na sua quinta em Sacavém que, no dia  13 de Dezembro de 1577, foi lançada a primeira pedra deste Mosteiro.  As obras prolongaram-se por 19 anos até que em 1596 o Mosteiro foi solenemente inaugurado.  


O Mosteiro de Sacavém foi oferecido às  Clarissas, Ordem fundada por Santa Clara, natural de Assis (ramo feminino  dos Franciscanos). Ainda hoje se pode observar uma bela escultura desta  Santa no frontal da Igreja Paroquial de Sacavém (antiga Capela  do Mosteiro). As Clarissas dedicavam-se sobretudo à oração/contemplação,  ao Estudo e ao trabalho na quinta e nos jardins anexos ao Mosteiro.
 
O Mosteiro de Sacavém manteve-se fecundo  e activo até 1834, data da expulsão das Ordens Religiosas  de Portugal. Manteve-se ocupado pelas Clarissas até 1877, data  em que passou para o Ministério da Guerra. Aqui estiveram sediados  o Regimento de Artilharia Pesada nº 1 (RAP 1) e a Escola Prática  do Serviço de Material (EPSM).

O Batalhão de Adidos, com a sua actual designação, data de 30 de Junho  de 1993 , durante uma reestruturação do exército. Porém, as suas origens remontam ao período da Guerra Civil de 1832-34 , quando foi criado, em 20 de Agosto  de 1833 , o Depósito Geral Militar, extinto trinta anos mais tarde, em 21 de Dezembro  de 1863 . Depois disso, muito mais tarde, foi criado o Depósito Geral de Adidos (30 de Abril de 1960  ), resultante da fusão de dois institutos anteriores anteriores, a Companhia de Adidos do Governo Militar de Lisboa com o Depósito de Tropas do Ultramar, e que foi extinto após a Revolução dos Cravos , durante o Verão Quente , em 31 de Agosto  de 1975 . Por fim, foi criado o Batalhão do Serviço Geral do Exército, em 9 de Maio de 1978  , o qual foi renomeado para Batalhão de Adidos em 1993  .

fontes : wikipedia e www.jfsacavem.pt

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