quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Palacete rústico de meados do século XIX- Estrada de Benfica 382-384

Durante seis meses trabalhei numa loja de fotografia em Benfica, apanhava o autocarro 58 que me levava diáriamente ao emprego, a minha distracção durante a monótona viagem era admirar as casas nobres que ficavam no itinerário.
Havia na Estrada de Benfica dois palacetes e uma antiga escola em ruínas e eu aguardava pacientemente a oportunidade de os admirar por uns breves instantes em que o autocarro passava, era o momento mais alto da viagem.
Estávamos no ano de 1989 e passados precisamente vinte e um anos desde então, a velha escola e o Beau Séjour foram recuperados e este palacete caiu no esquecimento do plano urbanístico. Embora seja um edifício classificado não teve a sorte de ser contemplado com o merecido e devido restauro.

Por a sua traça não ser muito elaborada, não possuir brasão de armas e  os seus primeiros proprietários serem desconhecidos, deixa-nos adivinhar que pertenceu a alguém sem grande protagonismo social mas com uma boa fortuna. Não obstando o valor patrimonial deste imóvel, que representa para este bairro um dos mais valiosos exemplares de arquitectura romântica.
Toda a estrutura se encontra em avançado estado de ruína, tal como as outras casas de construção mais recente que se encontram nas traseiras. Embora as paredes exteriores me pareçam consolidadas a sua recuperação é cada vez mais difícil devido ao incêndio que consumiu todo o interior.
Hoje consegui ter acesso pelo jardim desta propriedade, que guarda ainda vestígios do ambiente que se vivia naquela casa, pela primeira vez visitei este palacete que à tanto tempo atraía a minha atenção, foi fácil imaginar o dia a dia da família que aqui habitava, foi difícil conceber a triste realidade que assombra este magnífico local...
Foi um amigo e seguidor deste blogue que me permitiu ter alguma informação sobre esta ruína...oportunamente será contemplado com uma ampliação deste monumento, assim saiba a sua morada e a imagem escolhida.

Para saber mais : http://www.ippar.pt/pls/dippar/pat_pesq_detalhe?code_pass=70861

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O Passeio dos Alegres


No tempo dos nossos avós, em que não havia shoppings, futebolmania e outros atractivos programas de fim de semana, ia-se passear a Sintra. 
Era o passeio dos alegres em que todas as famílias se transformavam em turistas, aproveitavam o ar puro da serra e maravilhavam-se com as magníficas residências, os sumptuosos palácios, os aprazíveis parques , monumentos e museus, a feira de S. Pedro, as queijadas e o Monte da Lua... eram dias em cheio... 

Anteontem fui passear a Sintra...vila milenar e palco de diversos episódios históricos, foi outrora um dos destinos preferidos da realeza, nobreza e alta burguesia. O seu micro clima é responsável pelos soalheiros dias e exuberante vegetação que torna a Serra de Sintra num autêntico museu botânico, uma paisagem enriquecida pelos palácios, solares e conventos, que vivem em permanente ambiente de nostalgia pelas memórias acumuladas e pela bruma que diariamente se instala naquela velha povoação. 
Sintra é uma das maiores autarquias do País, além dessa grande responsabilidade teve a sorte e mérito(?) ao ser galardoada pela UNESCO como património da humanidade...é um dos maiores centros de turismo do mundo, cerca de 80% do turismo português passa por aqui o que a torna inerentemente um dos pontos de honra da nação. 
 
 Deveria ser cuidada com esmero, todo o património arquitectónico deveria estar incólume , deveria ter uma estrutura hoteleira com melhores soluções, segurança reforçada, trânsito condicionado no centro histórico e sobretudo um exemplo para Portugal e para o mundo em termos de civismo e preservação...
 
Os monumentos mais rentáveis e visitados do País encontram-se ladeados de ruínas, como já foi exposto neste blogue o Chalet da Condessa d’Edla e todas as estruturas envolventes encontram-se em avançado estado de degradação, tendo como vizinho o Palácio da Pena, mas ao lado do Palácio da Vila está o defunto Hotel Netto, uma autêntica lacuna no plano hoteleiro da região e um verdadeiro atentado ao urbanismo, turismo e segurança!!!!
 Foi uma das ruínas mais perigosas que fotografei e o acesso é livre a quem quiser visitar o interior...atempadamente farei um post mais detalhado...
Numa propriedade contigua à da condessa d'Edla, encontra-se um antigo  chalet  em avançado estado de "decomposição", pertenceu ao infante D. Augusto de Bragança, duque de Coimbra,  oitavo filho de D. Fernando e de D. Maria II. Distingue-se pelas suas paredes feitas com pedras apanhadas nos terrenos circundantes. Uma vez que os descendentes da dita condessa construíram na Parede o Chalet das Pedras, podemos alvitrar onde foi a fonte de inspiração.  

Outro edifício curioso e com uma estrutura muito mais nobre é o palácio do Visconde da Gandarinha (pelo menos foi o que me disseram), um colosso em tamanho e com uma traça singular impondo a sua opulência aos curiosos transeúntes, que certamente se interrogam acerca da sua história e destino...

A poucos metros a caminho de S. Pedro encontramos uma antiga oficina de cantoneiros, uma casa portuguesa, com certeza... a sua traça empresta-lhe um ar digno e erudito como que a promovesse da sua humilde função....daria certamente um bom posto de turismo ou qualquer outra actividade que contribuísse para o desenvolvimento desta vila.

 Outra casa que merece toda a atenção e a devida homenagem e a “Vivenda Anna”, um chalet revivalista situado numa das artérias principais. Esta casa é ricamente ornamentada com elementos manuelinos, os painéis de azulejos estão quase completos, as peças de cantaria e colunas coríntias são de um raro requinte, os gradeamentos embora estejam enferrujados são ainda os originais. 

Teve como último locatário um jardim de infância que foi transferido por falta de condições, está abandonado à vários anos sem haver um projecto para o local...
 

 Um outro grave problema que deveria ser resolvido, é a garagem industrial na R. D. Francisco de Almeida, não só ameaça derrocar tornando-o num autêntico perigo público, como ofende a inteligência de qualquer chimpanzé que por ali passe... a sua volumetria permite a construção de qualquer projecto megalómano que o mais criativo arquitecto pudesse conceber...além de desperdício de espaço, mau ambiente urbano, atentado à saúde pública é também uma ode à burrocracia e inércia politica e financeira...
 
Em frente ao departamento de urbanismo da C.M. de Sintra está um cine teatro abandonado...pasme-se quem quiser... além da sua interessante traça este edifício poderia ser utilizado como ... hummmm, deixa ver.....hmmmm já sei...UM CINEMA!!! 
 O cinema mais próximo é na Beloura ou Cascais... será que não faz falta um em Sintra??? Como alternativas podia ser também um auditório, sala de conferências, salão de danças ou jogos, etc...
 

 Ainda no mesmo bairro quase junto ao viaduto do comboio e mesmo em frente a outro departamento da C.M. de Sintra, está uma outra casa em avançado estado de decomposição, embora seja  um edifício quase centenário, não é de todo um dos melhores exemplos de arquitectura desta vila, mas mesmo assim ficaria muito melhor se fosse reabilitado.

Na Av. Nunes de Carvalho apodrece lentamente um chalet bem curioso. Como está edificado num declive, a sua fachada embora tenha um respeitoso tamanho, as suas traseiras são muito maiores, os andares superiores assentam sobre um armazém com um pé direito descomunal, o interior derrocou parcilamente. 
 Uma vez mais entrei sem alguma dificuldade e foi também um dos locais mais perigosos que fotografei, encontrei também toneladas de lixo acumulado e muuuuuita roupa velha, por uma questão de segurança não me aventurei nos pisos superiores.

A estrada entre Colares e Azenhas do Mar é uma das zonas de veraneio mais típicas e cobiçadas pela média burguesia, é um conjunto de moradias que dá forma a um bairro que é um espelho sócio financeiro que Portugal atravessou pela segunda metade do  século XX...gostava de ter uma casa por estes lados...

As Azenhas do Mar era o local preferido de uma abastada elite, ali se construíram os melhores chalets e intervieram os mais ilustres arquitectos, contribuindo para uma paisagem com um profuso património arquitectónico.
 
 Desde as casa mais humildes às mais nobres residências todas elas obedecem a correntes de arquitectura portuguesa, as ruínas neste caso não olham a estratos sociais...
 
Começando pela Vivenda Rafaela, riquíssimo palacete de Alberto Totta já anteriormente focada neste espaço, o Casal Três Marias do Monteiro Milhões,  a casa dos Tavares Rodrigues, o Amorzinho, casa de pescadores, casas de vila...
 São atentados urbanos e turísticos a que ninguém pode ficar indiferente...
 
Estará amaldiçoada esta zona??Que fantasmas atormentarão estas casas?? Gostaria de ressuscitar as suas memórias e para isso conto sempre com a vossa colaboração. Sei que há muitas mais para documentar, o apelo mantém-se aos leitores no sentido de me enviarem sugestões e todos os segredos que estas ruínas encerram...
Assim tenha mais elementos farei posts mais completos das casas hoje representadas...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O Amorzinho - Azenhas do Mar


Há já bastante tempo que tinha notado esta casa e estava para incluí-la neste projecto, tem por vizinhas duas outras casas ricamente  traçadas, ambas antigas propriedades de vinhateiros, era certamente onde se engarrafavam e armazenavam  as produções da A.F.M. e da Tavares & Rodrigues, uma vez que não há vinhas nas propriedades adjacentes.
Mas voltemos ao "Amorzinho"... terá eventualmente pertencido ao vizinho A.F.M. uma vez que está inserida na mesma propriedade e foi romanticamente devotada à sua mulher, a avaliar pelo painel de azulejos que dá o nome à casa.
 
A sua fachada simples e lusitanamente afirmada, não deixa adivinhar a sua verdadeira volumetria e imponência que contrasta com as muito mais elaboradas traseiras e que esconde a verdadeira essência deste pequeno chalet. É servida por um largo terreno em seu redor e tem uma invejável vista sobre o mar, o que torna esta casa numa espécie de Xangrilá de fim de semana, um autêntico local de retiro para as mais profundas meditações...
O romantismo ligado a esta zona de veraneio é fortemente influenciado pela arquitectura  típica desta época, embora quase todas as casa desta localidade sejam construídas no Séc.XX têm muitas vezes elementos revivalistas que nos transportam a tempos mais remotos, deixando no ar uma nostalgia que dificilmente passa despercebida ao turista menos sensível...a propósito de insensibilidade... como é que se poderá sensibilizar os autarcas deste País à beira mar plantado no sentido de preservarem estas raras pérolas de arquitectura??? Se souberem digam qualquer coisa... já tentei de várias formas e ainda não resultou...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Chalet na Cova da Piedade

Foi na segunda metade do Séc XIX que o rápido enriquecimento de uma pequena burguesia industrial fez florescer essencialmente como residências de veraneio uma enorme quantidade de chalets. Essas casas eram um espelho social de quem as construía, evocavam uma certa cultura e fortuna, eram graciosas e normalmente inspiradas noutras correntes de arquitectura europeias. Embora haja excelentes exemplos de um arquitectura portuguesa, era com certeza mais chique dar um toque de francês, inglês ou suiço à casa ideal.

Quanto mais profusa e ornamentada fosse a fachada, maior seria certamente a fortuna e cultura do seu ilustre proprietário, como tal muita gente não se poupou  a esforços criativos e financeiros para se dar a conhecer ao mundo como grande homem de negócios através da sua "humilde" residência. Não obstando o mérito que qualquer fortuna possa ter, o novoriquismo está geralmente patente na ostentação exagerada dos egos inflacionados... os chalets embora na sua maioria sejam expressões de arquitectura com muito mérito e valor patrimonial, são muitas vezes as "maisons" do Séc. XIX e principios do Séc. XX...o que não deixa de ser interessante...

Este chalet é uma verdadeira "maison", foi inspirado na arquitectura suiça e fica no Largo 5 de Outubro na Cova da Piedade, foi edificado possivelmente por António José Gomes, (embora já tenha lido que foi de um cunhado desse mesmo senhor), que foi um grande industrial e benemérito dessa terra.


Para saber mais : http://www.portugalweb.net/ALMADA/cultura/monumentos/casacovapie.asp

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Instituto de Cegos Branco Rodrigues - S. João do Estoril

Quase todos os dias aqui passo, e  não tenho memória de ver este local habitado... nunca me tinha despertado a curiosidade, nem mesmo depois de ter iniciado este trabalho. A sua arquitectura é demasiado simples para lhe ter conferido alguma importância arquitectónica  ou social...e como dizia o meu velho pai...”as iludências aparudem”...  as linhas simples da sua fachada, a simetria e os grafitis, o espaço envolvente e o céu ameaçador, fizeram desta casa um trabalho fotográficamente congratulante, o pouco que consegui saber da sua história foi suficiente para me surpreender e lhe fazer uma justa homenagem.
É uma casa  simples, sem pretensões e arquitectónicamente correcta, bem proporcionada e com uma invejável volumetria, a monótona simetria da fachada e alçados aliada à falta de elementos ornamentais conferem-lhe um ar menos erudito em comparação aos chalets da zona, conferindo-lhe um estigma de “parente pobre”...Foi neste edifício que dá as boas vindas a quem entra em S. João do Estoril vindo de Lisboa que se instalou em 1913 o Instituto de Cegos Branco Rodrigues.
 

Ao fim de inúmeras vezes passar em frente, um dia decidi abordá-la, foi uma surpresa quando vi a pequena e orgulhosa lápide que invictamente testemunhava  a importância histórica que aquela casa teve um dia... Esta antiga instituição estratégicamente situada num encantador terreno afastado do centro urbano, virada para o mar e apenas incomodada pela marginal, encontra-se ao completo abandono.

É inevitável perguntar, porque é que está naquele estado de degradação e abandonado??? Já não há cegos neste País ou foram todos para o poder??? Será que uma casa daquele tamanho no local em que está não pode ser aproveitada para qualquer fim??? Mais que não seja conheço muita gente que gostaria de lá viver...

Para saber mais:  http://www.lerparaver.com/braille_invencao.html ,  http://bibjcortesao.blogspot.com/2010/01/cegos-ilustres.html e http://papelariapapiro.blogs.sapo.pt/1245.html





terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Chalet Brito - S. João do Estoril

Conheço esta casa desde sempre, quando era miúdo e passava férias e fins de semana com a minha avó materna e tinha de ir à missa todos os domingos...era fatal como o destino e não me podia esquivar...a Igreja dos Salesianos e a de Santo António no Estoril ficava ainda um pouco longe da sua casa que era em S. João, até que  foi reactivada a capela de um chalet para servir a população desta zona, era uma capela de um generoso tamanho que albergava todo o rebanho "sãojoanense". 
É precisamente ao lado desta capela, em plena estrada marginal que este velho chalet apodrece lentamente num desolado estado de abandono. Não conhecia a sua história, até que um vencedor de um Troféu Ruin'Arte me concedeu  o privilégio de desvendar os seus segredos...
Hoje vivo onde era a casa da minha infância, tenho como vizinho este fantasma agonizante da arquitectura de veraneio, um típico chalet burguês que pela sua história e arquitectura deveria ser considerado pelo menos imóvel de interesse público...além das minhas memórias e vizinhanças, e por grande coincidência, o seu construtor tem os nomes e apelidos de dois bisavós meus...há coisas engraçadas...
O Chalêt Brito, mandado construir em finais do séc. XIX pelo banqueiro e capitalista Alfredo Júlio Brito Freire.
Terá sido o primeiro châlet edificado em S. João, que ao tempo ainda se chamava apenas Cadaveira. Foi nesta casa que foram realizadas as festas da mudança de nome para S. João do Estoril em 1906(?),
Nesta casa habitou na segunda metade do século XX a conhecida figura da rádio e do teatro Carlota Alvares da Guerra, e seus filhos, uma era a Maria do Céu Guerra e o outro o jornalista João Paulo Guerra. Chamavam-lhe a "Carlota Maluca" por ser um tanto disparatada.
Fonte : J. Santos Fernandes. 
Um obrigado ao Rui Pires que merecidamente irá ser contemplado com uma ampliação.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Estalagem do Gado Bravo - Recta do Cabo

Ao longo de décadas, a Estalagem do Gado Bravo, situada em Vila Franca de Xira, foi um verdadeiro ex-líbris da lezíria ribatejana, um local bem frequentado, que serviu de ponto de encontro a lavradores, ganadeiros e toureiros, mas onde também pernoitaram figuras importantes da política, da cultura e da vida artística, como por exemplo, Paul McCartney ou até a própria Rainha de Inglaterra.
Pelos palcos do salão decorado com motivos ribatejanos ou do pátio, entre o edifício principal e a praça de toiros, passaram diversas figuras incontornáveis da música nacional, como Amália Rodrigues, Hermínia Silva ou Alfredo Marceneiro.
Decorridos mais de 20 anos sobre o encerramento da estalagem, no âmbito de uma operação imobiliária que deveria ter conduzido à sua remodelação, todo o edifício ameaça ruir. A queda do telhado permitiu as infiltrações que destruíram o que restava e tornaram a recuperação impossível. Os quartos, o pátio da animação, o salão de festas, os bares, a cozinha, a bilheteira junto da praça de toiros estão irreconhecíveis.

Estava planeado um projecto de reabilitação apresentado em 2001, que previa a construção de 116 quartos, um restaurante, um pavilhão multiusos e uma piscina com balneários de apoio, além da recuperação do tentadero para a promoção de actividades taurinas, que no entanto caducou e foi abandonado pela empresa promotora.

Fonte : http://sites.google.com/site/faceocultadeportugal/lisboa/estalagem-do-gado-bravo

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Algumas vilas e maravilhas de Marvila

Marvila é o bairro mais injustiçado de Lisboa!!!! Várias são as razões que me levam a fazer com veemência esta afirmação...é hoje em dia conhecido como um bairro pobre, sujo e violento, onde a arquitectura é pesada e decrépita, as pessoas são rústicas e por vezes perigosas, tem acessos difíceis e pouco para ver...É MENTIRA!!!!
 
Marvila tem uma longínqua e honrada história que remonta aos tempos mais imemoráveis. O seu topónimo evoca a relação que tinha com a vila e o Mar da Palha, que desde sempre viveram na mais estreita cumplicidade. Foi desde sempre um bairro de árduo trabalho e um dos pilares de Lisboa. 

Miradouro da antiga quina do Marquês de Marialva

Era um local onde se situavam as quintas e fábricas que abasteciam a capital, zona onde estava instalada “a nata” da nobreza em sumptuosos palácios, onde o clero tinha grande influência pelos conventos e ordens religiosas que ali existiam, pela burguesia industrial que acabou por adquirir a maior parte das propriedades e transformou para sempre o seu panorama, e por um povo que a manteve viva e nela se imiscuiu até se tornar no seu verdadeiro símbolo.
Antiga vila na R. José do Patrocínio

Durante a segunda metade do Séc. XIX, após a extinção das ordens religiosas e pela decadência da “velha nobreza”,  boa parte das propriedades foram adquiridas por industriais e convertidas em fábricas, para acudir à mão de obra cada vez com mais procura naquela zona de Lisboa. Houve imigrações massivas de populações essencialmente vindas do norte de Portugal e das Beiras, pelo que floresceram na sua arquitectura casas rústicas inspiradas na arquitectura nortenha, vilas operárias e alguns palácios que foram convertidos em “prédios de apartamentos”.
 

As tão típicas hortas urbanas são uma herança cultural das populações rurais que ali se instalaram, foram e são muitas vezes uma fonte de subsistência para inúmeras famílias que delas dependem para uma alimentação barata e saudável, além de constituírem uma forma de convívio e aproximação social. 
É precisamente destas gentes e destas habitações tão típicas que vos vou hoje falar... cada vez que visito e me aventuro por esta zona de Lisboa, tenho conhecido e travado “amizades” com vários elementos da população, dignos cidadãos como quaisquer outros alfacinhas, que muitas vezes são de uma simpatia e educação exemplar, abertura de espírito e  generosidade sem igual em todos os bairros que conheço de Lisboa...todos guardam memórias quando o bairro era próspero e embora , pasme-se, relembram com saudade dos tempos antes de 74... as indústrias trabalhavam, as quintas produziam e havia emprego... todos esses factores que foram o motor deste bairro se extinguiram levando-o a uma lenta decrepitude...até a população mais jovem sente diferenças desde os tempos da Expo, em que havia promessas de investimento e alguma cultura...
 

Antiga Quina do Baptisa, convertida em vila - R. Direita de Marvila 48-52

Conheci vários tipos de gente, os horticultores, reformados, ciganos, gangues,  esplanadas inteiras com que falei e se mostraram de uma simpatia ímpar...o sr. Manuel, o sr. António Oliveira, a “freak” Joana, o sr. Chico, as sras. das passagens de nível, dos cafés, os transeuntes indagados constantemente com as minhas chatas perguntas e a vontade em responder ou encontrar resposta a todas as dúvidas impostas, houve quem tivesse ficado com o meu contacto para me poder ajudar nas pesquisas...quando a carrinha ficava entalada nas azinhagas e a população se mobilizava para ajudar na manobra...enfim, um espírito de corpo difícil de encontrar noutros sítios supostamente mais civilizados...

Infelizmente este bairro encontra-se numa forma geral bastante degradado, a maior parte dos edifícios necessita pelo menos de uma pintura para se tornar novamente digno e orgulhoso. A degradação é certamente devida ao fecho das fábricas que ali existiam, facto que empobreceu bastante aquela zona que foi outrora próspera. Com o declínio da indústria houve um inerente declínio social e económico que conduziu à ruína uma grande parte dos edifícios mais emblemáticos de Marvila.


A falta de investimento camarário é evidente uma vez que são proprietários de muitos imóveis deste bairro, que impavidamente assistem  ao avançado estado de ruína tornando-se culpados de vandalismo histórico e social. Porque não reactivam algumas estruturas fabris??? Elas estão lá e continuam paradas... Porque não reconstroem as vilas e proporcionam habitação jovem??? Porque é que os palácios estão devolutos ou arruinados quando há tanta falta de espaço para novas empresas que com dificuldade enfrentam pesados encargos estruturais??? Tudo isto dinamizaria Marvila e tornava possivel algumas metas que o governo se propôs a atingir, além de restituir a alma daquela freguesia...
Das quintas restam ruínas e memórias, diluídas nos alicerces que testemunham a grandeza e prosperidade que fizeram a história de Marvila...das  vilas e casas rústicas, verdadeiras assombrações das inúmeras famílias que ali viveram durante gerações, restam vestígios que apelam à preservação da sua história...

Talvez a nova ponte consiga resolver os casos de algumas ruínas mais emblemáticas, quando as demolirem para construir os alicerces irão certamente enterrar muitas vergonhas que qualquer português terá dificuldade em explicar a um incauto turista...serão enterrados também vestígios de prosperidade e boas memórias, além de um património insubstituível.
 
Um túnel segundo dizem sairia mais barato, não agredia a paisagem  e em termos de engenharia teria mais protagonismo mediático...uma espécie de Túnel da Mancha, mas em ponto pequeno ("ganda pinta") e com o que sobrasse, reconstruíam este bairro!!! O que dizem??? Aproveitando o mesmo orçamento faziam um brilharete na Europa, não desfigurava  mais Lisboa e ainda reabilitam Marvila...

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...