Este palácio, situado no Campo das Cebolas, vizinho pouco afastado da Casa dos Bicos, é mais um exemplo de inacção que deitará a perder mais uma peça importante do nosso património arquitectónico.
A sua fachada foi alterada ao longo dos anos como se pode corroborar pelos vários estilos que apresenta. Os sabores de maneirismo e de neoclássico fundem-se em dois corpos distintos, dando a entender o interregno do período barroco certamente devido à sua derrocada após o terramoto. É ostentada em esquina uma imponente pedra de armas dos Mascarenhas.
Pertenceu ao Conde de Coculim e quase ruiu em 1755, desde então que tem sido votado ao abandono e vandalismo municipal. Há um projecto de "reabilitação", para nele fazerem um hotel, que segundo pude concluir pelos dados que foram adiantados, irá desvirtuar este edifício e transformá-lo num mamarracho pós moderno que irá agregar alguns edificios circundantes alterando toda a sua estrutura e o interior...o projecto foi chumbado, mas nunca se sabe quando dão o dito por não dito e vão avante com mais um crime de lesa património...embora justiça seja feita, seria ao mesmo tempo uma iniciativa que desde 1755 deveria ter sido tomada, o aproveitamento de um espaço nobre e com uma dimensão que revela a majestade que este bairro outrora teve...a sua cronologia mostra-nos a relíquia histórica que ninguém se presta a salvar...
Séc. 17, 1ª metade - alguns autores consideram ser este palácio pertença dos condes de Linhares, cuja construção remontaria ao séc. 16, sobre a linha da antiga cerca moura (concretamente junto à denominada porta do Furadoiro, mais tarde referenciada como porta de Jesus) ; 1627 - o prédio era ainda designado "as casas do Conde de Linhares, junto ao Arco de Jesus", segundo Júlio de Castilho ; Séc. 17, 3º quartel - o palácio era propriedade do 1º conde de Coculim, D. Francisco de Mascarenhas (1662 - 1685), filho segundo dos primeiros marqueses de Fronteira, membro do Conselho de D. Pedro II, senhor de Cuncolim e Verodá (Estado da Índia), comendador de São João de Castelães, de São Martinho de Cambres e de São Martinho de Pina, na Ordem de Cristo ; 1685 - por falecimento do 1º conde o palácio passa para a posse de seu filho primogénito e herdeiro, D. Filipe de Mascarenhas (1680 - 1735), o qual se tornou posteriormente também membro do Conselho de Estado, deputado da Junta dos Três Estados e Mestre de Campo de Infantaria (tendo servido na Guerra da Sucessão de Espanha) ; 1724, 19 Nov. - um forte vendaval atinge Lisboa, causando danos significativos no palácio, por ter sido atingido pelas águas do Tejo (após o desmoronamento do cais de Santarém) e ainda por pedras da muralha ; 1735 - por falecimento do 2º conde passa o palácio para a posse do 3º conde, D. Francisco de Mascarenhas (n. 1702) ; 1755 - o terramoto causa danos profundos no imóvel, tendo também os baixos do mesmo ficado cheios de entulho, proveniente do desmoronamento de prédios da R. de São João da Praça e outras ; c. 1858 - transformação das ruinas do antigo palácio dos condes de Coculim em armazém de ferro da firma Sommer & Cª. ; 1896 e 1898 - dão entrada na CML pedidos de alteração do edifício, sendo difícil de avaliar a amplitude das obras subsequentemente realizadas (durante as quais emergiram do solo vestígios arqueológicos) ; Séc. 20, início - instala-se no imóvel a Empresa de Cimentos Leiria ; 1918 - é inquilino no nº 66 da R. Cais de Santarém Angelo José Moreira ; 1919 - é morador no nº 8, 1º D do Arco de Jesus Constantino Taboas Garcia ; 1923 - tem sede no nº 3 do Arco de Jesus a firma Carvalho d' Abreu Ldª, é morador no nº 8, 1º E do Arco de Jesus Santiago Blasquez ; 1923-1936 - o edifício é propriedade de D. Maria da Soledade Carvalho Encarnação ; 1923-1942 - é inquilino no nº 2 do Arco de Jesus a Fábrica Portuguesa de Encerados ; 1923-1949 - é inquilino no nº 10, lj. do Arco de Jesus Lino Teixeira de Carvalho ; 1923-1949 - tem sede no nº 64, 1º da R. do Cais de Santarém a Empresa de Cimentos de Leiria ; 1926 - é inquilino no nº 4 do Arco de Jesus Alfredo Gil Jorge ; Séc. 20, década de 30 - instala-se no imóvel a Fábrica Portuguesa de Encerados, em escavações arqueológicas efectuadas no final da década são recuperados elementos arquitectónicos manuelinos (actualmente no Museu Arqueológico do Carmo); 1936-1949 - são proprietários do edifício Maria da Soledade de Ornelas Bruges d'Oliveira e Manuel José de Ornelas Bruge d'Oliveira ; 1961-1963 - é inquilino do nº 6 do Arco de Jesus Eduardo Campos com uma oficina de tipografia
fonte : D.G.E.M.N.
Boa Noite. Gostaria de transmitir o meu elogio pelo excelente trabalho que tem vindo a desenvolver no âmbito da fotografia e da beleza como é dito das ruínas desta cidade e deste País. É preciso fazer algo, antes que percamos a história arquitectónica e física que ainda nos identifica como grande país que fomos.
ResponderEliminarMuito modestamente convido a visitarem o meu blog http://temposvontades.blogspot.com no qual e muito humildemente tenho tentado mostrar também alguns edifícios que vão a caminho da ruína, para além de um trabalho sobre os Prémio Valmor até 1949, onde encontramos pelo menos um em ruínas.
Ricardo Santos
ah, aquele varandim por cima do arco! que pérola...
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