O Centro Comercial Cruzeiro entrou na história por ter sido o primeiro shopping de Portugal. O seu nome foi criteriosamente escolhido e não poderia ter sido outro, foi assim baptizado por estar rigorosamente localizado na intercepção das freguesias do Estoril, Cascais e Alcabideche, por ser também ali o ponto em que os aviões se encaminham para as suas rotas internacionais e por os seus promotores se chamarem Cruz.
Durante a Segunda Grande Guerra, a costa do Estoril teve um grande impulso social. Por Portugal ter assumido uma política neutral nessa ocasião, todo o País foi "invadido" por refugiados de toda a Europa. Sendo o Estoril uma zona rica por excelência, atraiu não só algumas personalidades de vulto, como foi também palco de acontecimentos de espionagem que marcaram o destino da guerra. O Estoril, foi também por esta altura, eleito por três casas reais que aqui se exilaram. Karol da Bulgária, Victor Emanuel de Itália e Juan de Borbón, conde de Barcelona, aqui viveram felizes e consagraram uma vez mais esta aprazível localidade, já antes frequentada pela realeza portuguesa.
Houve então uma súbita necessidade de nos modernizarmos comercialmente, os centros comerciais já grassavam pela Europa e era uma grave lacuna no ponto de vista social e económico, a inexistência de uma estrutura desta índole em território português. Foi edificado estrategicamente no Monte do Estoril, para fazer face às necessidades de um ávido jet set que frequentava esta bem afamada zona, o que ao mesmo tempo foi visto como um incómodo para outros grupos financeiros, e que o condenou logo à nascença.
A ideia e realização deste projecto, deve-se a Manuel António da Cruz e do Dr. João da Cruz, seu promotor, arquitecto e investidor. A primeira pedra foi lançada em 1947, e desde então que está por rentabilizar. Este projecto desde o seu início e por ser uma inovação, foi alvo de invejas e intrigas que comprometeram o seu desenvolvimento, chegando a ser embargado pela influência de Fausto de Figueiredo, que o via como uma ameaça ao Casino do Estoril que então geria.
Ultrapassadas todas as dificuldades, o projecto prosseguiu lentamente e ficou concluído em 1951, ano em que A Revista de Turismo inclui, no seu nº 94 (Janeiro de 1951), uma extensa reportagem sobre este «grande melhoramento», recentemente inaugurado, «no seu género um dos melhores da Europa».
A sua traça Modernista, tal como a volumetria, foram pensadas em grande. Além das quarenta lojas de que estavam previstas, onde não faltaria uma casa de fados, restaurante panorâmico, salões de festas, dancing, salas de jogo e mirante, tinha ainda um ringue de patinagem onde chegou a acontecer um combate de boxe. Estavam programados acontecimentos sociais, que o tornariam num dos locais mais chiques do mundo, mas entretanto o seu mentor, Dr. João da Cruz, faleceu pelo desgaste que todo este processo lhe custou, ditando assim o destino deste fantasmagórico e lindo edifício, deste projecto que nunca acabou por ser acabado, acabando por acabar em desgraça.
Aproveito este espaço para agradecer ao Prof. José d' Encarnação e à Sra. D. Maria Helena Assunção Farinhas da Cruz Alves da Silva, por todas as informações e simpatia que dedicaram a este nosso projecto.
Aproveito este espaço para agradecer ao Prof. José d' Encarnação e à Sra. D. Maria Helena Assunção Farinhas da Cruz Alves da Silva, por todas as informações e simpatia que dedicaram a este nosso projecto.
Grande Gastão! Descobri este edifício há poucos meses numa ida ao teatro Mirita Casimiro (que fica do outro lado da rua) e imediatamente fiquei "agarrado" ao prédio. Só pensava como seria viver lá em cima, na torre, com aquele pátio... Mas, porque é que ninguém transforma o raio do sítio num condomínio de luxo? Assim, por assim, vendem-se logo...
ResponderEliminarUm ícone!
ResponderEliminarAs coisas que o Gastão descobre.
ResponderEliminarSempre pensei que o primeiro centro comercial do País era o Apolo 70, que era o supra sumo da moda logo nos primeiros anos da década que lhe deu o nome.
As fotografias são estupendas e realmente é uma pena continuarmos a deixar tantos bons edifícios em ruínas.
Abraços
Gostei muito de ler este post sobre um edifício que me é familiar.
ResponderEliminarParabéns pelo trabalho incansável, Gastão.
Só um comentário: o estilo do C. C. Cruzeiro não é pós-moderno, é justamente um exemplo do chamado estilo moderno :-)
Muito bom, Gastão,
ResponderEliminarObrigado por esta informação, que nos faz acolher no nosso espiríto "ruinoso" os momentos de ouro que marcaram o nascimento e a ideia de mais um edifício que permanece impávido no tempo.
Parabéns pelo excelente trabalho.
Cumprimentos
Helder Nogueira
Sempre a aprender.
ResponderEliminarObrigado pela informação.
Belo trabalho!!!!
Sinto saudades, durante vários anos subi aquelas escadas.
ResponderEliminararminda vaz
Passei centenas de vezes por esse prédio e nunca pensei muito nele mas sempre admirei a arquitectura e sempre me fez confusão estar abandonado.
ResponderEliminarGostei de ficar a saber a história. Mais uma prova que em Portugal todas as ideias inovadoras ou que representem alguma espécie de ameaça, seja pela concorrência, protagonismo ou até pela inveja, são alvo de "jogos" de bastidores para dificultar ou impossibilitar a sue execução.
Não percebi se chegou a funcionar em pleno ou se nunca abriu.
Quem é o actual dono? Talvez agora se fosse recuperado e adaptado para por exemplo um espaço como o El Corte Inglés, tivesse sucesso. A localização é excelente e a zona boa para consumo.
Foi uma ideia visionária pois hoje em dia os shoppings são o que se sabe.
Gastão, obrigado
ResponderEliminarFinalmente tirei uma dúvida sobre quem tinha sido o arquitecto do Cruzeiro.
Uma curiosidade...em relação ao "ódio" do Fausto de Figueiredo pelo Cruzeiro, pode relacionar-se com o facto de durante umas épocas a "juventude" do Estoril e Cascais ter passado a frequentar este espaço ao invés do "wonder bar" do Casino (o antigo).
Contou-me a minha mãe, que a certa altura o F.Fig começou a criar dificuldades aos jovens que frequentavam o Casino. Aumentou muito os preços, de forma a que só os paisinhos pudessem lá ir e a preferir os novos ricos endinheirados e os estrageiros, aos meninos habitués que com as sua "magras" mesadas deixavam de poder fazer as suas noitadas no Wonderbar. Passaram então a frequentar o Cruzeiro e arrumar os seus "modestos" descapotaveis 190SL á sua porta. As mãezinhas que queriam ter as suas filhas debaixo de olho tb não acharam muita graça a este "desvio de rota" pelo que "forçaram" o F.F a retirar as dificuldades e a baixar os preços aos habitués. Daí que o cruzeiro tenha tido um sucesso efemero e sobretudo junto das classes mais jovens, que apesar de tudo gastavam menos que os paisinhos... Enfim uma guerra entre os pesados e luxuosos Packards e os irreverentes Mercedes SL e MG`s á mistura com algumas Lambrettas e VW carochas
Foi bom recordar estas fotos e o seu belo texto,parabéns ao seu autor. Conheço todos os recantos deste edifício encantador, pois durante 26 anos a noite sempre foi longa.
ResponderEliminarSousa [Gaiety].
Uma pequena nota, diz me o meu pai que o nome cruzeiro surge do facto que Manuel da Cruz ter trabalhado no Brasil e que investiu todos os seus "cruzeiros" (moeda do Brasil) nesta obra. Manuel da Cruz era tio da minha bisavó materna (Jacinta Cruz Cardoso). Dr. João da Cruz não sabemos quem era, e se pertencia à mesma familia. Alguém me pode explicar melhor quem era? A história acerca da pouca simpatia por parte do Sr. Fausto de Figueiredo não sabia, mas o argumento faz todo o sentido. Parabéns pela nota. Cumprimentos
ResponderEliminarJorge Cardoso
jaffho@gmail.com
Há muitos anos que conheço este edificio e sou fã incontestável do seu arquitecto!
ResponderEliminarPenso que todos os cascaienses têm de se unir e não deixar que o destruam, não podemos apagar épocas, ícones e monumentos como fizemos tão exemplarmente no 25 abril..........
Toda a nossa história reside tb nos edificios e tenho a certeza que os dirigentes do bpi terão senso suficiente para manter VIVO o 1º shopping de Portugal!!!
Parem de destruir o património arquitectónico e cultural! As obras de arte não são só peças de museu! preservem o que é de preservar e não destruam em nome dos mesmos interesses que nos levaram à ruína! Sou de Cascais, nascido e criado e de há muitos anos e lembro-me do edifício ainda com alguma dignidade. o edifício tem alma, tem historia, tem uma vida! não o substituam por uma aberração amorfa e indiferente! por favor (pedido com muito "jeitinho"). VPBr
EliminarLamento informar mas as palas de betão do Cruzeiro foram recentemente demolidas.
ResponderEliminarTenho ideia que foi por uma questão de segurança. Parece que há tempos tinha caído um pedaço de betão sobre um carro.
Certamente existiam mais soluções para este problema mas aquela que foi escolhida foi simplesmente demolir as palas.
Não sei se estão a tomar balanço para fazer isso ao edifício todo... espero que não.
Lamento muito mas este vai ´´a vida.
ResponderEliminarJ´´a foi apresentado o projecto para uma aberraç~~ao p´´os-moderna em vidro azul com a forma de um ovo. Sim, ´´e liiindo e integra-se PERFEITAMENTE em toda a ambiencia. Enfim, viva o "progresso"!
Vivo mesmo ao lado deste edfício que tanto gosto, Ultimamente fizeram umas "obras" de demolição porque havia perigo para a via publica. O actual proprietário é o Banco BPI que não faz nada. De vez em quando estraga mais um pouquinho. Espanta-me que na planta não apareça as antigas instalações do Estoril-Praia assim como a praça municipal que foi desactivada. Quando me refiro à zona onde moro há tantos anos. refiro-me a uma zona de guerra pois as ruinas são isso mesmo. Um local com tanta vida está completamente morto o que não é bom para quem aqui vive. Sempre que abro a janela a vista que tenho é de um futuro nada animador.
ResponderEliminaronde tive o meu 1º restaurante 1980 Casa Pizza Gymnopedies agora estou em Belém ou Sintra https://www.facebook.com/Todomundofala
ResponderEliminarOlá, para ajudar você a superar os seus vários problemas financeiros e enfrentar seus objetivos futuros, em um cenário sem dificuldades, o que eu proponho para você uma oferta de crédito (particulares, empresas, associações) em dificuldade ou que desejam ajudar a resolver alguns de seus problemas financeiros ou de iniciar um negócio. A escolha da soma de 5.000€ para 6.000.000 € Escolha do período de amortização: 40 anos, no máximo. o reembolso taxa de 3% de juros anuais. Neste sentido, peço-lhe para escrever ou contactar-nos por e-mail se você estiver interessado no empréstimo oferecer em contato conosco pelo e-mail: Alma.Delacruz973@gmail.com
ResponderEliminare-mail:Alma.DELACRUZ973@gmail.com
e-mail: Alma.DELACRUZ973@gmail.com