terça-feira, 10 de julho de 2012

A Estação de Mala-Posta de Sanfins

Desde a minha tenra idade, que nutro um carinho especial por estas construções. Fui certamente influenciado por uma visita de estudo ao antigo Museu dos CTT, quando andava na instrução primária. Além de me ter cruzado regularmente com  exemplares destes edifícios, por se encontrarem em alguns itinerários que frequentava... 
 
A Mala- Posta era uma lacuna neste projecto e há muito lhe devia uma visita...
A estação de Mala-Posta de Sanfins, também conhecida por mala-posta de S. Jorge, ou antiga Muda de Souto Redondo, é uma das 23 estações de muda que constituíam esta rede de serviço postal.
Estes românticos edifícios, fazem parte da nossa paisagem cultural e da nossa história como nação, marcando uma época e uma longa epopeia há muito esquecida.
É-nos difícil de imaginar nos dias de hoje, em que uma viagem Lisboa Porto se cumpre em cerca de três horas, o que seria fazer essa mesma viagem num tempo recorde de 34 horas, a uma estonteante velocidade média de quase 9 Kms / h, o que fazia da mala-posta o "TGV" de então ...
Esta epopeia teve início em 1798, por no ano anterior ter sido extinto o ofício do Correio Mor, que esteve nas mãos da família Mata durante oito gerações. Era portanto necessário, o estado português assegurar as comunicações entre todo o reino, tendo para isso criado este serviço.
Para que a viagem fluísse sem interrupções, foi montada uma rede e estações de Mala-Posta que além de albergar e servir repastos aos viajantes, tinha a função de muda de cavalos, uma operação que em cerca de dez minutos, permitia continuar a viagem, com um novo fôlego e fulgor de quatro parelhas de cavalos, prontos para enfrentar mais uma etapa dessa estafante odisseia.
Na sua primeira e conturbada fase (1798-1804), este projecto tinha término em Coimbra, por não haver ainda uma estrada que unisse as duas maiores cidades país. 
Devido à instabilidade política e financeira  que Portugal neste período enfrentou, o processo da mala-posta  teve várias interrupções, tendo a sua última fase, sido levado a cabo por Fontes Pereira de Melo, que em 1855 dá início à construção da Estrada Real, unindo definitivamente  Lisboa e Porto no ano de 1859 (ano de construção da Mala-Posta de Sanfins).
Os seus tempos de glória foram breves, a Mala-Posta foi substituída definitivamente pelo comboio em 1871, iniciando desde então a decadência  destes carismáticos edifícios.
Não consegui apurar qual foi o arquitecto responsável pela sua traça, no entanto estas estações conservam elementos arquitectónicos que nos lembram com algum saudosismo, um palacete de arquitectura chã.
Conjugando a sua vertente prática e recorrendo a novas técnicas de construção pela utilização do ferro, a característica planta em U e o seu melhor aproveitamento, dava uma funcionalidade ao edifício que permitia a sua exploração de uma forma eficaz.
O corpo mais avançado esquerdo era atribuído aos aposentos do feitor e cozinha, a ala direita era reservada para armazenamento de arreios e palheiro, as cavalariças eram a ala mais recuada e longa do edifício. Esta estação distingue-se das suas congéneres por ter mansardas nos alçados laterais.
A Mala-Posta de Sanfins foi classificada como imóvel de interesse público em 1974 (735/74, DG 297, de 21-12-1974), e desde então que aguarda um destino à sua altura e importância, que por ganância e/ou ignorância tem sido votada ao abandono.
Foi recentemente adquirida por um construtor da zona que certamente pretende dinamizar e investir neste monumento. Espero agora que não lhe façam a vida negra com burocracias e inviabilizem o processo por demora e excesso de rigor...
 



terça-feira, 22 de maio de 2012

Três exposições Ruin'Arte

Caros amigos, confrades e seguidores...
Embora ultimamente não tenha dedicado muito tempo à manutenção deste espaço que a todos  pertence, tenho-me com afinco dedicado a uma forma de materializar o projecto... e deu resultados...

Tenho a honra de vos anunciar que estão para breve três exposições...
 
Agradeço à Hahnemühle Fine Art,  que generosamente cedeu o melhor papel do mundo, o fabuloso
Photo Rag® 308 g/m², impresso com tintas Epson Claria Photographic que irá dar a estas colecções  uma duração superior aos edifícios retratados.
 
A sua representação em Portugal, é com justiça feita pela LFMPRO, além de ser uma referência no mercado da fotografia, foi incansável e mais do que profissional em todo este processo...
 

Felizmente conheci também nesta epopeia o simpático e ilustre Victor Guedes, gerente da mais antiga empresa de molduras do país, a Felisberto Oliveira, que há várias gerações ajuda a embelezar o trabalho de muitos artistas.  
A Terra Esplêndida, foi outro amigo que tornou possível esta aventura, adivinhando-se uma feliz colaboração...
Também o Centro Cultural de Cascais, que além de acolher uma parte da colecção, proporcionou um dos momentos mais altos deste nosso projecto. A toda a equipa que colaborou e tornou possível... um ruinoso obrigado...
O Gallery Hostel é um projecto exemplar para todos nós... situado na R. Miguel Bombarda, no Porto, convive e rivaliza em categoria com as suas vizinhas galerias de arte. É um projecto que nasceu da reabilitação de um antigo edifício, apenas com o esforço e empreendedorismo de uma  equipa de familiares e amigos, que não só emprestam uma simpatia sem par a esta unidade hoteleira, como já ganharam dois prémios mundiais (prémio best staff 2011 e HostelBookers Awards for Excellence 2012 Winner), vou-me sentir em casa...
 
O Casino de Lisboa é o Mecenas que qualquer artista pode ambicionar. Não só é uma referência pelo apoio dado à Cultura portuguesa, como também pelos espectáculos que diariamente promove,  fazendo deste espaço o local mais animado das noites de Lisboa.
Com a ajuda de todos atrás referidos, tenho o prazer de os convidar a estarem presentes e a visitarem estes espaços e exposições...
Dia 25 de Maio, pelas 21.30h no Centro Cultural de Cascais.


  
  No dia 28 de Maio pelas 18.30h, no Casino de Lisboa.


No dia 9 de Junho, pelas 16.00h, no Gallery Hostel,  no Porto.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Exposição Ruin'Arte no Centro Cultural de Cascais


Mais um ruinoso momento, e desta vez a "jogar em casa"...
Dia 25 pelas 21.30h no Centro Cultural de Cascais...

 espero-vos por lá... e até lá...

Ah!! e partilhem por favor...

Com LUZ e boa disposição

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A estrutura e a ruptura da Cultura

A Cultura é em si, um termo demasiado vasto para ser entendido como um simples conceito, e pode ser sucintamente definido como a acumulação de conhecimento e experiências... mas não é apenas isso, é muito mais.
Podemos falar sobre cultura pessoal, cultura geral, cultura popular, cultura de um País... mas afinal o que é cultura e que falta nos faz?? Podemos viver sem ela?? Sem dúvida, mas leva-nos todos os dias à ruína...
A sua etimologia transporta-nos à Roma antiga, onde esta ilustre palavra "colere" significava literalmente cultivar, no sentido fazer de crescer, levando-me a concluir que a Cultura é uma coisa que nos torna maiores como seres humanos, pois faz-nos crescer.
É precisamente este conceito que pretendo aqui abordar,  tornamo-nos melhores sempre que crescemos espiritualmente e intelectualmente, pois "os Homens não se medem aos palmos", e não é só em altura que se pode crescer.
É como que se nos valorizássemos cada vez que adquirimos conhecimentos, ficamos muito mais ricos do que se nos saísse um "totomilhões", porque esse tipo de riqueza é efémera e não a levamos quando partimos para outro plano...
A Cultura dá-nos sensibilidade para apreciar a vida de uma forma muito mais requintada, pois um boi a olhar para um palácio é sempre uma cena lamentável... e quantas vezes fazemos nós esse papel?
A Cultura não é apenas uma palavra cara que nos extrapola para um mundo de erudição, onde Professores e Doutores trocam diplomas em cenários solenes com cerimónias encantadas e elaboradas.
A Cultura está ao alcance de todos nós e é movida pela curiosidade. Como é evidente não basta ser curioso, temos de satisfazer também a curiosidade e procurar respostas a todas as questões que nos surjam, só assim poderemos compreender a própria vida.
Compreender é  perceber mais do que o óbvio, é ver mais além e conseguir conjugar os conhecimentos com a realidade para chegar a uma solução... há sempre novas soluções e só as podemos equacionar se tivermos conhecimentos... isto sim, é Cultura!
Num momento de profunda crise financeira que todos nós atravessamos, podemos perguntar até para que nos serve a Cultura, se com ela não satisfazemos os nossos apetites primários, mas se a soubéssemos aplicar poderiam ser evitadas muitas crises e sair delas com estilo... pois o passado deu-nos valiosas lições.
Tudo aquilo que estamos neste momento a passar como nação, não é nada comparado com muitos outros episódios que nos maltrataram e muitas mazelas deixaram, tais como várias epidemias, invasões e guerras civis, perda de soberania e de privilégios, autênticas derrotas financeiras, bélicas, sociais e morais...
Felizmente este povo de "alma lusitana" nunca sucumbiu e sempre conseguiu ultrapassar todas as dificuldades, e ainda hoje resiste a uma furiosa intempérie que o castiga diariamente... 
 
Será isso uma forma de Cultura? A nossa remediada Cultura é uma Cultura do "desenrasca", é a verdadeira "Coltura" que todos os dias nos conduz a uma  eminente ruína.
É essa "Coltura" a verdadeira culpada de toda a nossa crise social, pois se valorizássemos os nossos conhecimentos e património, muitas aberrações teriam sido evitadas e teriam sido estabelecidas prioridades.

Exemplos infelizmente não nos faltam, desde supérfluas auto-estradas, catedrais de futebol, shoppings e mega stores às moscas, centros "colturais" e "impresariais" que não cumprem nem sequer com os motivos que lhes deram vida... se todos estes investimentos tivessem sido direccionados para a Cultura, algo poderia ter mudado no nosso País.
Confunde-se muitas vezes Cultura com espectáculo e entretenimento, tal como também confundimos Cultura e arte. Embora  possamos dizer que uma expressão artística é uma forma de Cultura,  a meu ver não é bem assim...
A Cultura não é um objecto sem vida numa galeria, Cultura seria conhecer esse objecto antes de o ver, ou tentar saber mais sobre ele depois de o conhecer ao vivo e a cores.

A Cultura não tem forçosamente que ser história, filosofia, música clássica ou outro assunto tido como erudito. Qualquer informação ou aprendizagem que nos faça crescer é sem dúvida Cultura, poder-se-ia dizer também que a Cultura é a anti-futilidade, pois esta faz-nos estagnar.
Cultura é tudo aquilo que fica do que se aprende, e leva-nos a ser permeáveis à arte dilatando a nossa sensibilidade. Uma pessoa mais sensível é por conseguinte uma pessoa mais civilizada, ponderada e evoluída, tornando-se mais bonita e interessante em todos os sentidos.
Há quem diga que a Cultura não é mensurável no ponto de vista financeiro, pois a Cultura não tem taxas de juro, spreads, cotação na bolsa e outros importantes factores económicos... nunca estiveram tão enganados!!!
 
O que seria de países como França, que absorve mais de 50% do turismo  mundial, de Itália, Inglaterra, Holanda, Índia, Japão... se não mantivessem, investissem e incentivassem a Cultura?? Certamente que não se afirmariam com a mesma força nem teriam o protagonismo que têm.
Todos os países civilizados apostam na Cultura, ciência e artes, pois sabem que a sua própria evolução dela depende... despromover a Cultura é condenar um País a um limbo social, suprimindo a sua identidade.
A Cultura não é instrução... é tudo o que sobra da mesma !! Nem sempre ter um "canudo" é apanágio de se ser culto. 
 As escolas e universidades são apenas veículos que temos ao nosso alcance para nos instruirmos, é a vida e o sumo que dela tiramos que nos dá Cultura, dá-nos também atitude, responsabilidade, dinâmica e empreendedorismo, inteligência e nível de vida, espelhando-se e espalhando-se em todo o ambiente.
As ruínas que tanto nos incomodam, são testemunhas de falta de Cultura, de sensibilidade, inteligência, empreendedorismo, visão e respeito por todos nós!!!
É indesculpável o estado a que chegou boa parte do nosso património histórico, e a falta de interesse por ele demonstrado ao longo de muitas gerações. 
Não é só o valor artístico e histórico que estão em causa, é essencialmente a nossa Cultura que definha sem que alguém sequer note a falta que ela nos faz...
A Cultura abre-nos portas para o mundo e janelas para a vida... e se nos cultivássemos mais?

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