Desde a primeira vez que me interessei pelas linhas defensivas de Lisboa por ocasião de outras reportagens deste projecto, que fiquei com vontade de conhecer e fotografar este local e colmatar assim as unidades militares que constituíram o extinto RAC, pelo menos as que se encontram em ruínas.
Visitei esta unidade militar em duas ocasiões. Na primeira incursão, por esquecimento não levei o imprescindível tripé, o que limitou a perspectivas exteriores, privando-me de captar toda a índole deste quartel... na segunda vez fiz loooongas exposições de vários minutos em que aproveitei todos esses ainda mais loooongos segundos para retirar a necessária inspiração para os seguintes momentos.
Todo este quartel é um extenso corredor subterrâneo com quatro ramificações que nos levam às bocas de fogo, ao paiol e a todos os cómodos que dependia.
É um espaço monocromático com a monotonia arquitectónica de um longa galeria e algumas exíguas alas escondidas numa impenetrável penumbra, que serviam de apoio a toda esta estrutura.
A decadente porta de armas ainda ostenta com orgulho o brasão da unidade e a arma de artilharia, guardando na sua memória os tempos em que fechava um perímetro que foi outrora inexpugnável.
É um espaço que deveria ser guardado para evitar ser vandalizado ou conspurcado pela sua vertente histórica. Está hoje aberto a qualquer curioso que com toda a facilidade se consegue introduzir neste velho bastião.
As entradas e a casa da guarda são as únicas estruturas que se podem observar, todo o resto deste quartel está soterrado e apenas as peças de artilharia que assentam em socalcos reforçados por muros são visíveis à superfície.
A austera entrada é reforçada por alvenaria e uns vigorosos calhaus, que nos conduz por um estreito e longo túnel, onde dificilmente se cruzariam duas pessoas mais robustas ou circulariam os militares mais altos.
Ao nos aventurarmos pelas entranhas da encosta e uns bons metros adiante no meio da escuridão, há uma íngreme rampa que nos conduz ao paiol, tem ainda e em muito mau estado de conservação o passador mecânico que incansavelmente transportava as pesadas munições que alimentavam as sôfregas bocas de fogo.
As peças de artilharia que equipavam esta unidade eram 3 Krupp de 15,0 cm, capazes de disparar projecteis de 12,5Kg a 40 Kg com precisão a cerca de 20 Kms de distância... devia dar cá um gozo...
Esta era a 8ª Bataria de artilharia de Costa e defendia o porto de Setúbal, era ajudada pela Bataria do Outão na sua cobertura de fogo e complementada pela mais antiga e desactivada Bataria do Casalinho e pelo Moinho da Desgraça, que a apoiavam como paiol e posto de comando, respectivamente.
Foi idealizada em 1932, levando mais sete anos de burocracias e expropriações até se iniciar a sua construção em 1939 e esteve activa até 1997, quando por despacho do Estado Maior se extinguiu o RAC, ficando apenas activas as batarias do Outão e da Fonte da Telha, sendo estas definitivamente encerradas em 2001.
Aguardam hoje impacientemente uma visita do Ruin’Arte e em breve serão aqui postas para completar toda esta linha defensiva.
Para saber mais: http://www.monumentos.pt/Monumentos/forms/002_B2.aspx?CoHa=2_B1
http://pt.wikipedia.org/wiki/Regimento_de_Artilharia_de_Costa
http://www.servirportugal.com/viewtopic.php?f=8&t=1456&start=10
Já tive ocasião de te dizer (mas agora fica também aqui registado!) que este teu trabalho (monumental!) está F*A*B*U*L*O*S*O!
ResponderEliminarDesde o levantamento sistemático de todo este nosso património esquecido ao tratamento digital, está tudo *****! A opção pela cor selectiva foi muito feliz e creativa - nem sempre feita da forma mais óbvia ;-) resultou em cheio.
Muitos parabéns por este teu trabalho e continua a insitir. Vou voltar aqui (muitas) mais vezes para continuar a acompanhar o resultado da tua dedicação à tua arte e ao nosso património abandonado....
Vanda V. M.
Um destes dias tenho de ir explorar estes tuneis... Obrigado pela sugestão.
ResponderEliminarServi aqui em 1996...e assim vai o nossa Patria...sem gloria.
ResponderEliminarEu sou militar, ao fim de ver estas fotos como os nossos chefes militares gastam rios de dinheiro em tretas desnecessarias, em vez de gastarem no k interessa, como por exemplo, neste quartel... como o Piloto diz, sem Patria, sem Gloria
ResponderEliminarMerci pour ces magnifiques photos !
ResponderEliminarCela me fait penser au mur de l’atlantique sur les côtes de Normandie (France).
Si tu as des photos en grand résolution je suis prenant.
Merci encore.
Antoine
a.matrix@free.fr
Devo a esta blogue a minha primeira visita ao forte da Albarquel. Foram mais de 60 anos de curiosidade sadina só agora satisfeita. Mas, há muito mais para ver, e para reflectir. Tomei a liberdade de fazer uma ligação no FB. Obrigado.
ResponderEliminarParabéns pelo trabalho desenvolvido! Eu e os meus pais também vamos muitas vezes fazer passeios durante os quais nos perdemos no nosso ruinoso património nacional. Por ver aqui um local tão meu conhecido, aproveito e lembro também na região de Setúbal mais uma ruinosa propriedade em Setúbal, na estrada n252 ou estrada dos ciprestes, lado direito sentido Palmela-Setúbal. Uma casa de arquitectura única que está mesmo quase a cair. Tem até uma pequena estrutura metálica no exterior, uma "torre" que se ligava à casa principal por uma pontezinha. Também em Coina existe um palacete em ruínas para ser apreciado para quem gosta de "coisas a cair" porque é só mesmo o que há para ver. E ainda a igreja da Marateca, tudo no distrito de Setúbal, para os apreciadores da ironia: quando tem o dever de proteger, enriquece o jardim à custa da destruição de um monumento que tem, tanto quanto me foi dito, cerca de 500 anos.
ResponderEliminarUma pequena (grande) correcção: o calibre das peças é em centímetros e não em milímetros. Tratou-se certamente de uma gralha.
ResponderEliminarO género de local que adoro visitar.
Obrigado,já está corrigido.
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