quarta-feira, 30 de junho de 2010

O estilo "Arte Nova"


O estilo arte nova nasceu de uma nova era, foi um reflexo cultural e económico no final do século XIX. Foi uma afirmação social por parte de uma classe burguesa que enriqueceu com a segunda revolução industrial.
Como que um “grito de Ipiranga” em relação às correntes artísticas mais tradicionais, impôs-se  pela profusão de elementos decorativos, utilização de novos materiais e sobretudo pela conjugação de todos as outros estilos anteriores, foi tomado como  uma liberdade total de expressão artística.
São proficuamente conjugados elementos góticos, rococós, clássicos, árabes, orientais, florais, naturais...embora fosse de certo modo revivalista pelas diversas fontes de inspiração, era completamente nova esta corrente.
Pelo desenvolvimento de novas tecnologias que permitiram trabalhar os materiais sem limites de criatividade conjugando ferro e vidro de formas harmoniosas, fez-se uma revolução na arquitectura onde a exuberância de cada projecto era directamente proporcional à bolsa e ego de cada proprietário, cujas casas normalmente assumiam o seu nome. 
Era uma forma que a alta burguesia tinha para afirmar a sua cultura e fortuna, aspirando um reconhecimento social e aproximando-se culturalmente pela arte a um agitado “jet set”. Criou-se assim um fenómeno social a que se chamou “Belle époque”.  Foi um período de ouro em que a arte assumiu linhas nunca antes vistas, explorando formas de animais e flores como elementos constantes em toda a decoração.
O estilo foi baptizado por Siegfried (Samuel) Bing, um negociante alemão de arte radicado em Paris, que vendia na sua loja mobiliário e peças decorativas deste estilo , a loja chamava-se “Art Nouveau” e ditou a moda nas seguintes décadas.

Foi um estilo que se reflectiu sobre várias formas de arte. Tanto na arquitectura, como na cerâmica, vidro, metais, impressão gráfica, joalharia, mobiliário, azulejaria, se fizeram inúmeros tesouros artísticos como sobressaíram vários génios criativos. As suas formas rebuscadas eram normalmente inspiradas romanticamente em elementos da natureza, explorando formas de pássaros, insectos vários, flores, cogumelos, conchas...tal como os conjugava com seres fantásticos da mitologia, fadas, sátiros, semi deuses...teve também fortes inspirações na arte oriental, por Bing ser importador de artesanato japonês.
É um estilo que tem as primeiras expressões na Bélgica e França, proliferando rapidamente por outros países onde lhe terão sido chamados outros nomes: na Inglaterra era o Modern Style, Art Nouveau na França e na Bélgica, na Alemanha Jugendstile , Modernismo em  Espanha, Sezessionna na Áustria e Floreale na Itália, também nas Américas fez furor...e culminou com os loucos anos 20 sendo em Portugal uma das últimas expressões o prémio Valmor de 1927, do Arqtº Manuel Norte Júnior.
Embora todos as artes ligadas a esta corrente possam ser merecidamente mencionadas separadamente, acabam por se reunir todas na arquitectura que é concisamente o propósito deste espaço. Vou por isso abreviar e focar apenas esta vertente artística. A “arte nova” chegou a Portugal com um relativo atraso, em virtude do mesmo em relação ao desenvolvimento industrial do resto da Europa... a sociedade portuguesa começou a reagir depressa e dos melhores arquitectos de então, floresceram edifícios que fizeram um marco cultural na nossa história da arquitectura.
Houve um inevitável “aportuguesamento” com a conjugação de elementos manuelinos, imposto por alguns cânones tradicionais, além de outros pormenores mais ou menos nacionalistas. Foi sem dúvida alguma uma época em que o nosso património enriqueceu com geniais obras de insignes arquitectos que nos legaram tesouros artísticos repletos de magníficas cantarias, estatuária, vitrais, ferragens, gradeamentos, pinturas e frescos, estuques, soalhos, mobiliário, etc... da autoria dos mais consagrados artesãos, tornando-as em autênticos museus. 

Além de geralmente estarem associadas a um sonante nome do ilustre proprietário, foram muitas vezes habitadas por autênticos vultos da nossa história, o que só por si deveria ser suficiente para serem classificadas como imóveis de interesse nacional ou monumentos nalguns casos.

Irreversivelmente já se perderam alguns dos melhores exemplos deste riquíssimo património, outros mais estão-se a perder para sempre...abandonados ou à espera de melhores dias, demolidos para dar lugar a odiosos mamarrachos, condenados pela ignorância e pela ganância...são o que resta de uma “belle époque”...
Para saber mais : http://arte-nova.blogspot.com/

6 comentários:

  1. Caro Gastão, o seu trabalho é cada vez mais interessante e reflecte bem o estado triste e abandonado deste País que é o nosso.
    Fico triste porque existem inúmeros a cair num estado de degradação que nunca poderão ser recuperados.
    Quando vier até ao Algarve teria imenso prazer em conhece-lo e mostrar-lhe algumas peças para colocar no seu blog, um deles é o famoso Palácio fonte da Pipa que hoje se encontra num estado de degradação avançado.
    Abraços respeitosos
    Continuação de excelente trabalho
    Sairaf

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  2. Caro Gastão.
    Como pessoa ligada às questões do Património Cultural, devo dizer que o seu "Blog" não só complementa aquilo que todos queremos dizer, bem alto, como lhe acrescenta essa arte, que é fotografar de uma forma única as misérias que se vão passando nesta país.
    A Nazaré espera por si.
    Carlos Fidalgo

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  3. Caro Gastão

    Percorri o seu blog com a atenção que um trabalho destes requer e o mínimo que se pode dizer é, muito obrigado, por este alerta sobre a degradação que não é só arquitectónica ou de património, mas nossa, enquanto pessoas e história.
    Mas o que mais me impressionou, não esquecendo o trabalho de pesquisa e a qualidade dos textos, foi a qualidade fotográfica, belíssimas fotos meu caro Gastão.
    Quem sabe, um dia eu também consiga esta qualidade, até lá… um abraço e obrigado.

    José Boldt

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  4. Mais uma vez parabéns por aquilo que fazes.
    O blog do link que deixaste está a precisar de uma restauraçãozita!

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  5. Belíssimas, essas fotos. Julguei reconhecer, aqui e ali, alguns dos edifícios. Um deles em Alverca, por exemplo, mas não só. Fará algum sentido? :-)
    Um abraço

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  6. muito boa noite, gostei do tema porque procurava detalhes da arte nova!
    há algum tempo comprei um livrinho sobre as "ruinas", penso que terá a ver consigo!
    parabéns pelo seu trabalho
    Angela

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