sábado, 12 de dezembro de 2009

Torre de São Sebastião da Caparica, Torre Velha, Fortaleza da Torre Velha ou antigo Lazareto



Foi um dos pontos mais altos deste projecto, pois é um dos melhores monumentos militares e talvez a peça mais rara desta colecção devido à sua longa história e importância estratégica. É incompreensível o estado de abandono a que foi votado. 
 
Aguardava impacientemente a oportunidade de o visitar. O acesso é feito pelo Lazareto ou por uma outra propriedade vizinha, o que dificulta qualquer visita que se queira fazer a este local. É necessário avisar o guarda para prender os cães e fazer alguns telefonemas para pedir as autorizações necessárias, embora o monumento seja público.

Antes de o abordar, estudei a sua história e observei-o ao longe por binóculos, verifiquei que no cais que fica por baixo existe uma grua que tem um ponto de observação mesmo ao nível da fachada, se conseguisse autorização para a subir teria a melhor perspectiva possível permitindo um ponto de vista panorâmico que enquadra toda a estrutura além do Lazareto.
Observei-o no Google Earth para melhor o compreender em termos de enquadramento e ambiente envolvente, calculando também qual seria a sua melhor hora solar...é com certeza na Primavera ou Verão...terei de lá voltar para melhor aproveitar a sua orientação em função do astro rei, pois a fachada Norte fica sempre à sombra nesta época do ano...

Tive a sorte de conseguir todas as autorizações e o trabalho correu pelo melhor. Vivi por momentos a emoção de entrar na fortificação de artilharia de costa mais antiga de Portugal...é a mãe de todas as fortalezas... 
 
A sua austera e pesada estrutura mantém-se firme desde os mais remotos tempos, fácilmente se poderia devolver-lhe a dignidade e nobreza com que foi edificada. Ressuscitar este monumento e aproveitá-lo para fins turísticos ou culturais seria uma aposta ganha a quem quisesse investir. A vista para a margem norte é vislumbrante, está perfeitamente alinhado com a Torre de Belém, com que fazia parelha no tiro cruzado à linha de água. 

A sua arquitectura por ter sofrido obras de ampliação em várias épocas, é uma miscelânea de estilos e soluções práticas para o seu melhor funcionamento. Assim que se atravessa a porta de armas, tem uma pequena capela  ainda com vestígios de frescos e um espartanamente ornamentado retábulo (ou que resta dele), os corredores e escadarias  levam-nos a todos os pontos do forte permitindo uma rápida comunicação dentro da estrutura e tem estratégicamente colocados terraços com vistas magníficas, para melhor se poder observar todo o estuário do Tejo. 
 
Há peças de cantaria espalhadas que fariam um puzzle gigantesco, mas de fácil resolução, os telhados das estruturas mais recentes, tal como o seu miolo cederam há muito tempo, como se pode calcular pelas árvores que cresceram dentro de algumas divisões, a fortificação primitiva mantém a solidez com que foi idealizada e não ameaça derrocar. 

Li também que há corredores subterrâneos que ligavam às peças de artilharia espalhadas ao longo da encosta, infelizmente não encontrei os acessos e será mais um motivo para lá voltar. 
 
Forte de São Sebastião da Caparica também denominado como Torre de São Sebastião da Caparica, Torre Velha e Fortaleza da Torre Velha, localiza-se na vila do Monte da Caparica  , Freguesia da Caparica  , Concelho de Almada , Distrito de Setúbal  , em Portugal .
 
A Torre Velha da Caparica é um dos mais importantes exemplares da arquitectura militar renascentista  no país, uma vez que foi dos primeiros sistemas de artilharia  integrando a defesa da barra do rio Tejo  , juntamente com a Torre de Santo António de Cascais  e a Torre de São Vicente de Belém  .
 
A primitiva fortificação deste que é o ponto mais estreito da foz  do Tejo, em sua margem esquerda, remonta a uma bateria   erguida por determinação de D. João I  (1385-1433).
 
No início do século XV , à época do início dos Descobrimentos portugueses  , a defesa da foz do Tejo e do porto de Lisboa  baseava-se numa nau   artilhada, fundeada nas águas do rio. Posteriormente, sob o reinado de D. João II  (1481-1495), foi implementado um novo plano de defesa deste porto, baseado em três torres  abaluartadas  , adaptadas ao tiro rasante da artilharia da época:

  • na margem esquerda pelo:




    • Baluarte da Caparica, depois conhecido como Torre Velha; e na margem direita, pelas:
    • Torre de Santo António de Cascais (Baluarte de Cascais);
    • Torre de São Vicente de Belém (Baluarte de São Vicente a par de Belém)


 Essas fortificações cooperavam com as naus artilhadas que então patrulhavam o Tejo na tarefa de vigilância e defesa da capital.
 
A estrutura original do Baluarte da Caparica, segundo gravuras coevas do cronista Garcia de Resende  , era composta por uma torre e um baluarte, à semelhança do que foi construído, alguns anos mais tarde, no Baluarte de Cascais  na Roqueta de Viana do Castelo e na Torre de Belém .


Sobre essas estruturas e sua relação com o rei D. João II (1481-1495) Garcia de Resende registrou ainda:
"E assim mandou fazer então a (...) torre e baluarte de Caparica, defronte de Belém, em que estava muita e grande artilharia; e tinha ordenado de fazer uma forte fortaleza onde ora está a formosa torre de Belém, que el-Rei D. Manuel, que santa glória haja, mandou fazer; para que a fortaleza de uma parte e a torre da outra tolhessem a entrada do rio. A qual fortaleza eu por seu mandado debuxei, e com ele ordenei a sua vontade; e tinha já dada a capitania dela [a] Álvaro da Cunha, seu estribeiro-mor, e pessoa de que muito confiava; e porque el-Rei João faleceu, não houve tempo para se fazer." (RESENDE, Garcia. Crónica de D. João II, 1545.

 

Em 1570 , à semelhança do que aconteceu com diversos fortes ao longo da costa portuguesa, D. Sebastião  (1568-1578) mandou reformar a antiga torre, transformando-a numa fortificação de maiores dimensões. Nessa época passou a ser designada por Fortaleza de São Sebastião da Caparica. Os trabalhos prosseguiram durante a Dinastia Filipina  , tendo o seu projeto sofrido alterações estruturais. Nesta fase a fortificação era conhecida como Torre dos Castelhanos.
 
No final do século XVIII a estrutura voltou a receber obras, possivelmente de consolidação, dirigidas pelo coronel Francisco D'Alincourt
Da Guerra Peninsular aos nossos dias
No contexto da Guerra Peninsular ; as fortificações da margem sul do Tejo foram desactivadas. Entretanto, o levantamento de Outubro de 1808 , aponta-lhe:

  • 5 peças de bronze <, da praça, calibre 36;
  • 4 peças de calibre 18;
  • 9 peças de calibre 12;
  • 5 peças de ferro , calibre 24;
  • 9 peças de ferro, calibre 18 e
  • 6 peças de ferro, calibre 6.
  • 6 reparos para peças de artilharia de praça, de calibre 36;
  • 9 reparos para peças de artilharia de campanha, de calibre 12;
  • 2 carretas de marinha para peças de calibre 36;
  • 5 carretas de marinha para peças de calibre 24;
  • 13 carretas de marinha para peças de calibre 18;
  • 6 carretas de marinha para peças de calibre 6;
  • 2.400 balas e lanternetas dos calibres 36, 18, 12 e 8.
O levantamento de Janeiro de 1828  , aponta-lhe:

  • 1 peça de ferro, calibre 28;
  • 6 peças de ferro, calibre 6;
  • 17 peças de ferro, calibre 12;
  • 2 morteiros   de ferro, calibre 9;
  • 2.500 balas de diversos calibres e
  • 50 bombas, calibre 9.
No ano de 1832   a torre voltou a ser remodelada e reativada militarmente. O levantamento desta data computa-lhe:

  • 2 peças, calibre 26;
  • 6 peças, calibre 24 e
  • 4 peças, calibre 18.
Na mesma data, a sua guarnição era composta por:

  • 1 subalterno
  • 1 sargento
  • 3 cabos e
  • 31 soldados. 
Ao final do século XIX  , o forte servia apenas como depósito e alojamento. Nesta fase as suas dependências foram utilizadas como quarentena , destinadas a abrigar passageiros e tripulantes das embarcações que aportavam à Capital com suspeita de moléstias contagiosas, como por exemplo Rafael Bordalo Pinheiro  , com suspeita de Febre Amarela , ao retornar do Brasil , tendo deixado registrado com fina ironia o seu maior desagrado quer com os regulamentos quer com as instalações e o tratamento dispensado aos internos.

A estrutura encontra-se classificada como Monumento Nacional   por Despacho de 12 de abril   de 1996  . Atualmente o monumento encontra-se abandonado.
Características
A estrutura que chegou aos nossos dias conserva as partes fundamentais existentes em meados do século XVII , como pode ser constado pela comparação com uma planta datada de 1692  no acervo da Torre do Tombo (Coleção Casa de Cadaval).

 
A planta da fortificação desenvolve-se em "U", composta por três corpos e três baluartes   com casernas . Uma das extremidades é prolongada por um baluarte e pela torre de vigia. Junto à Porta de Armas foi edificada a Capela  , sob a invocação de São Sebastião. O corpo central da Torre Velha apresenta planta  quadrangular, rebaixada, à qual foi adossada a Casa do Governador. Sobre a antiga porta da praça, junto à torre, inscreve-se uma pedra de armas com armas de Portugal.
Curiosidades
Aqui, na Torre Velha, D. Francisco Manuel de Melo  escreveu a obra "Carta de Guia de Casados " (Lisboa, 1651).

Fonte : Wikipedia



"O local ficou assinalado pela presença dos romanos e dos árabes que escolheram este pequeno porto do Tejo para termo da sua principal estrada. Inicialmente denominaram-na Castelo do Porto-Brandão.
A Torre Velha foi mandada construir por D. João II, no séc. XV. O seu nome vem da antiguidade em relação à torre erguida em frente, em Belém (Torre de Belém), por D. Manuel para, em articulação com esta, cobrir com artilharia toda a área do Tejo, defendendo a sua entrada.
D. Sebastião mandou-a reedificar em 1570, passando a partir daí a chamar-se Torre ou Fortaleza de São Sebastião de Caparica. Mais tarde, foi conhecida por Torre dos Castelhanos, pois estes fizeram-lhe algumas obras e colocaram sobre o pórtico de serventia da praça as armas de Castela, em 1640, despedaçadas pelo povo. Após esta data, a fortaleza teve grandes obras de melhoramento. A sua forma não era regular, a torre era redonda e tinha uma capela consagrada a São Brás e São Sebastião. Pertencia ao Padroado Real e eram seus alcaides-mores e governadores perpétuos os senhores da Casa e Morgado de Caparica. No final do século XIX, instalou-se nesta fortaleza o Lazareto Velho e, mais tarde, construiu-se um outro edifício para o Lazareto Novo, actualmente ocupado pelo Asilo 28 de Maio"
.


José Quintanilha Mantas 





14 comentários:

  1. Somos um povo sem memória!

    Florescem centros comerciais e torres horrendas por tudo quanto é canto enquanto o verdadeiro património é votado ao abandono.

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  2. Muito bonito e rico, o teu artigo. Vou tentar levar ao meu pai...

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  3. O estado a que Governo e Câmara Municipal de Almada deixaram chegar este monumento é um insulto à memória da terra e das suas gentes.

    http://almadaxxi.blogspot.com/2010/02/velha-torre-velha.html

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  4. Todos os monumentos em completa ruína e que estão no mais profundo esquecimento, é uma afronta ao País e ao Povo. É preferivel deixar ruir até não se ver nenhuma pedra de fundação para se depois expropriar e fazer um condominio privado ou quiçá um centro comercial ou um hipermercado!! Mas como, o Sr. David disse, é melhor construir centros comerciais e aplicar os dinheiros em renovação de frotas automóveis ou em outras coisas afins..... Veja o Palácio do Conde de Aveiro em Azeitão. O que não se poderia fazer ali.

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  5. Os meus sinceros parabéns por estas maravilhosas fotografias, pela publicação no seu blog e pelo enquadramento histórico!
    Sou arqueóloga e da margem sul do Tejo, mas o que é facto é que não conhecia este monumento (nem ao vivo, nem em fotografias, nem tão pouco em referências). Confesso que talvez uma parte seja culpa minha (desconhecimento puro), mas creio que outra parte substancial é o ostracismo e abandono que se encontra devoto este maravilhoso exemplar da arquitectura militar do Portugal Renascentista.
    Embora venha tarde (uma vez que a sua publicação é de 2009), agradeço-lhe as informações que presta e acima de tudo as fotos.
    Sou arqueóloga, mas não exerço. O meu "esbarrar" com este forte foi meramente casual: estou ligada ao artesanato (poderá perceber pelo link que lhe deixo), mas não fechei os olhos à arqueologia, nem à história, e tento quando me é possível conciliar isso com o que faço. Nesse sentido, para uma singela sessão fotográfica (se é que se pode chamar isso) que espero fazer em breve para umas coisitas que estou a preparar para o Verão, pesquisava locais novos onde tirar as fotografias. Procuro muito jardins públicos, espaços verdes, palacetes (já fotografei muitas vezes no Solar dos Zagallos, onde consigo aliar a vegetação ao espaço histórico) e este forte abandonado pareceu algo extraordinário!! Fico triste por saber que, embora seja perfeitamente publico, são necessárias autorizações para aceder ao mesmo e atravessar propriedade privada. Tenho de o colocar de parte, pois não faço ideia quando poderei fotografar e não posso pedir as autorizações sem saber quando tenho disponibilidade... Enfim... chatices...
    Também me agradam muito as fábricas abandonadas (fiz um trabalho na Mundet do Seixal e adorei o aspecto visual), mas as questões burocráticas e as autorizações para colocar as fotografias num blog seriam muitas...
    Desculpe-me este testamento, demasiado longo para estar na categoria de "comentário"!
    Parabéns pelo seu trabalho! Antes de perder o link, vou já colocar na lista de favoritos!
    Cumprimentos
    Cláudia

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  6. Olá,

    Gostava de visitar os locais que aparecem nas fotografias que tirou, também para tirar fotografias e gostaria de saber se tenho de falar com alguma entidade responsável para obter uma autorização.
    Obrigada,

    Diana Lima

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    Respostas
    1. Olá,

      Julgo que está agendada uma visita guiada às instalações no dia 1 de Abril.

      António

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  7. Olá a todos,

    estamos a organizar uma visita à Torre Velha para dia 1 de Abril. O Asilo não é visitável pois as suas condições já não o permitem, está quase a ruir e há muitas áreas que já caíram.

    A visita vai ser realizada com autorização e acompanhamento do guarda do local, que irá gentilmente prender os cães e abrir-nos a porta.

    Esta visita refere-se às ruínas da torre que se encontra junto ao Asilo 28 de Maio, perto de Porto Brandão. O Asilo não será visitado pois as suas condições de segurança são muito más e por pertencer a outra entidade que não permite que se visite a propriedade.

    Sim, os dois edifícios parecem pertencer ao mesmo dono, mas são fracções diferentes com diferentes proprietários.

    O facto da visita estar marcada para dia 1 de Abril deve-se à disponibilidade de todos os intervenientes neste processo, e o dia das mentiras nem sequer nos passou pela cabeça, afinal, somos todos adultos...

    Já fazemos visitas desde 2010, muitas vezes a locais de difícil acesso ou mesmo fechados ao público. Temos um protocolo com a Universidade Lusófona todas as visitas são alvo de um estudo sobre o local de modo a podermos oferecer aos participantes informação detalhada sobre o local.

    Os participantes estão cobertos por um seguro de acidentes pessoais de acordo com o exigido pela legislação em vigor.

    Se quiserem saber mais visitem a nossa página do Facebook:
    http://www.facebook.com/Superstitio e a página dos nossos eventos:
    http://www.facebook.com/Trilhos.Misticos

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  8. Visita à Torre de São Sebastião da Caparica, também conhecida por Torre Velha, dia 1 de Abril de 2012.
    Preço por pessoa: 15€ (inclui folheto informativo e seguro de participantes)
    Inscrições pelo e-mail info@superstitio.pt ou pelo telefone 936 494 123
    As inscrições devem ser realizadas até dia 30 de Março.
    Esta fortaleza não é visitável e abrirá apenas para esta visita.

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  9. Boa noite, gostaria de saber se alguém quer ajudar-me a juntar um grupo de várias pessoas para fazer uma petição à camâra de Almada para restaurar a torre e fazer dela um local vesitável...
    Obrigado
    ´João Vicente

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  10. http://peticaopublica.com/mobile/pview.aspx?pi=PT81377

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  11. http://peticaopublica.com/mobile/pview.aspx?pi=PT81377

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  12. ... bem-haja gentes assim, que partilham o seu saber de uma maneira tão acessivel e cheia de pormenor... eu que tenho laços com a margem Sul, deconhecia na totalidade a existencia deste e doutros tesouros esquecidos no tempo, na memória...

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