quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O Mosteiro de N. Sra. de Seiça




Este monumento foi a minha fonte de inspiração para este projecto.

Vinha eu da tropa, de comboio pela linha do Oeste quando vi pela primeira vez esta ruína.
Fiquei estarrecido e intrigado, pois sabia que a volumetria e o tamanho de uma igreja era geralmente proporcional à importância sócio económica de uma região e estava no meio de nenhures, além da igreja nada mais havia em seu redor...apenas um monumento perdido e apagado das nossa memórias, evitado pelos roteiros turísticos e pelos historiadores...nunca ninguém com quem falei havia ouvido falar de tal edifício.
 A sua fachada é de estilo maneirista, imponente e austera, a contrastar com a chaminé industrial que saia do lado da nave central, como se não bastasse e uma vez mais a cereja no topo do bolo em forma de oliveiras nas torres sineiras tornavam este monumento ainda mais bizarro.
Fiquei sempre com vontade de voltar e com a ideia de fazer um dia um trabalho sobre ruínas. Após vinte e um anos e por a minha exposição "Rust in Peace" estar a acabar, precisava de um novo projecto... assim nasceu o "Ruin'Arte"... hei-de lá voltar para melhorar o meu trabalho e em peregrinação para futuras inspirações


A fundação deste mosteiro data do séc. XII, altura em que entrou para a Ordem de Cister, quando D. Sancho I o doou ao mosteiro de Alcobaça.
A construção foi levada a cabo pelo arquitecto Mateus Rodrigues, durante finais do séc. XVI, início do séc. XVII. Em 1834, com a extinção das ordens religiosas, o edifício foi vendido a particulares que o aproveitaram para instalar uma unidade industrial de descasque de arroz.
O recheio foi então levado, tendo grande parte desaparecido, salvando-se a que foi aproveitada para outras igrejas dos arredores.
Das ruínas que hoje encontramos, não deixamos de ser surpreendidos pela imponente fachada da igreja.
De traçado austero, bem ao tipo das construções da época dos grandes estaleiros do reino, impõe-se pela sua projecção no isolamento do local. A fachada é constituída por um corpo central sem frontão, dividido em três registos verticais, com nicho, encimados pelo arco semicircular do janelão. A entrada é feita por um átrio de três arcadas que dá acesso à porta da igreja, com decoração setecentista.
É ladeada por duas torres que ultrapassam a altura da fachada com os seus remates bulbosos que testemunham as reformas efectuadas no século XVIII.
O interior, bastante alterado com a posterior utilização do edifício, obedeceria ao traçado das igrejas beneditinas, com nave única para a qual se abriam as capelas laterais.
Todo este espaço se encontra actualmente em degradação, revelando mais do teor industrial que albergou, do que do espaço religioso para que foi construído. O coro-alto, cúpula, capela-mor e transepto há muito que ruíram. Do claustro, ligado lateralmente à igreja, apenas se conservam duas alas, com arcos redondos sobre pilares quadrados no piso térreo e, na galeria superior, com colunas dóricas a suportarem o entablamento.

 
O corpo do mosteiro mantém algumas das dependências dos religiosos, com as celas e provavelmente a sala do refeitório, livraria e outras, que entretanto foram sendo utilizadas e alteradas para outros fins, retirando-lhes o traçado original.

A fachada é constituída por um corpo comprido, separado verticalmente por pilastras, abrindo-se em cada registo uma janela rectangular de avental. Do lado oposto ao do corpo do mosteiro, ergue-se imponente a chaminé de tijolo burro que serviu à fábrica de descasque de arroz, e que marca pois o contraste de duas realidades e vivências distintas: a religiosa e a industrial. A originalidade deste monumento reside, efectivamente no contraste dos opostos, construindo uma realidade cunhada por mundos e épocas diferentes entre si.
Actualmente é propriedade da Câmara da Figueira da Foz tendo sido comprado por Santana Lopes, então líder da autarquia, que adquiriu o espaço por cerca de 225 mil euros, á família proprietária do convento desde 1895.
O Mosteiro após varias diligências efectuadas não está classificado pelos serviços do Estado, encontrando-se num estado deplorável

A sua Localização em Coordenadas : N 40.02.44 W 008.46.54
e degradação.

7 comentários:

  1. Gostei imensamente das suas fotografias.
    E concordo com a sua opinião, expressa no primeiro post.
    Continuarei a seguir o seu blog.

    Obrigada.

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  2. Boas, Gostei muito deste post, pois eu conheço muito bem a região e o contexto deste monumento, pois é a minha região. Sinto muita pena acerca da situação deste monumento sendo um dos monumentos mais antigos que remontam as origens de Portugal. Gostaria muito que também tivesse fotografias da capelinha de seiça, que fica a alguns metros de distancia do Mosteiro. Na minha opinião o seu interior possui grandes valores históricos da representação da batalha contra os mouros realizada nesta região e que deu origem ao Mosteiro. (Lenda da Nsa Sra de Seiça)

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  3. Olá,
    antes de mais, parabéns pelo seu trabalho.
    Este post está muito bem conseguido, ressalvo no entanto uma observação: o Mosteiro de Santa Maria de Seiça encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público desde 2002.
    Poderá saber um pouco mais sobre esta região em http://bordadocampo.com/seica/

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  4. Olá,
    desde já, parabéns pelo seu projecto.

    Ao ler este post e ao descobrir o seu trabalho sentimo-nos bastante satisfeitas, sabendo que o "nosso" Mosteiro de Seiça originou a elaboração de um projecto inovador e com importância cultural.
    Somos um gurpo de alunas de uma escola secundária da Figueira da Foz e temos como tema de Área de Projecto este monumento. Estamos a promover algumas iniciativas de divulgação e consciencialização sobre a história local, uma delas, coincidentemente, um concurso de fotografia.
    O nosso blogue encontra-se neste sítio: www.cesan-ap.blogspot.com e explica, sucintamente, o nosso projecto.

    Cumprimentos,
    O Grupo CESAN

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  5. Boa tarde.
    Antes de mais queria agradecer ao facto de darem tanta importância a este fabuloso mosteiro. Realmente é um monumento com uma grande e muito antiga história, e uma história que marca os nossos antepassados.
    Eu moro perto deste mosteiro e costumo passar lá algumas vezes, mas infelizmente o desgosto de cada vez que passo por lá é cada vez pior,é desumano deixar um mosteiro com aquela envergadura e antiguidade assim daquela forma.
    Quando era mais pequeno ia com os meus amigos para o mosteiro brincar, e até cheguei a ir brincar lá para dentro. Apesar de já terem passado alguns anos ainda me lembro do estado de degradação em que ele se encontrava nessa altura. E ainda me lembro de ir passear para a Batalha para visitar o mosteiro, e havia sempre muita gente de vários sítios do país a visitarem-no, aliás como ainda hoje acontece. Mas nisto, dá-va por mim a perguntar-me porque é que eu ia para a Batalha visitar um mosteiro se tinha um ao lado de casa?
    Pois bem, nos dias de hoje essa mesma pergunta se coloca, mas já sei algumas das respostas.
    Em primeiro lugar quero dizer que a Camara Municipal da Figueira da Foz já teve um aviso no mosteiro de que iriam ser feitas obras de reconstrução, e isso já foi alguns anos, e até agora já deve ter caído mais um pedaço do telhado e uns blocos de tijolos daquela grande chaminé. Posso dizer à boca cheia que "É UMA VERGONHA" o estado degradante daquele mosteiro.
    Será por ficar no meio de nenhures como dizem aqui no blog? Será porque ao reconstruirem o mosteiro o turismo vai ser deslocado da Figueira? Será porque a linha do Oeste que passa a escassos metros do mosteiro está cada vez mais vazia? Pois não sei bem, o que é certo é que se fez um OASIS mesmo na praia da Figueira da Foz para agora estar às moscas. É certo que a Camara da Figueira não tem feito investimentos muito grandes nestes últimos anos porque como toda a gente sabe, a Camara é uma das mais individadas do País. Isto porque o Senhor Santana Lopes investiu todo o dinheiro que tinham e não tinham no Turismo, mas isto dentro da Figueira da Foz, passando-lhe ao lado este maravilhoso mosteiro. Ele naquela altura devia de andar mais pela Linha do Oeste.

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  6. A família não o comprou no fim das guerras liberais em 1834, mas sim na primeira república em 1911. Eu conheço a família.

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